segunda-feira, 17 de junho de 2013

Matadouro Cinco, Kurt Vonnegut


Opinião: Existem dois aspectos principais que acabam por determinar a minha apreciação de um livro: a resposta emocional que me provoca combinada com o quão me agradou; e os seus méritos a nível literário. Infelizmente, este livro falhou um bocadinho no primeiro aspecto, o da resposta emocional que não conseguiu arrancar-me. Isso não quer dizer que o livro é mau, pelo contrário, é muito bom; apenas esperava que me emocionasse de alguma forma e não o fez, o que acabou por me desapontar.

O livro é enquadrado com um primeiro capítulo quase autobiográfico, do ponto de vista do escritor que quer escrever sobre a guerra, que acaba por enquadrar a obra toda. Para isto contribui ainda um par de aparições do autor na história de Billy Pligrim, em que reconhece que era ele a fazer tal comentário ou tal acção. E ainda a aparição de Kilgore Trout, quase um alter ego do autor. E são estes jogos que o autor faz que mais me agradaram. 

A história conta a vida de Billy Pilgrim, um rapaz que é soldado na 2ª Guerra Mundial e é feito prisioneiro de guerra. E o livro relata-nos momentos da sua vida, com o fio principal sendo a sua experiência na guerra, e intercalado com partes da vida de Billy que surgem aleatoriamente e cronologicamente desordenadas. É que Billy é volúvel no tempo, e se num momento está num campo para prisioneiros de guerra, no outro está em sua casa, 20 anos depois, já com uma filha casada. Esta narrativa não linear é muito interessante de seguir, pelo confusão inicial que gera, e pelo que faz à personalidade de Billy.

O tom geral que permeia a história é algo resignado, pelas características da vida de Billy, que ao conhecer como a sua vida se vai desenrolar acaba por ter uma atitude muito passiva na sua vida. O aparecimento de Trafamaldore e dos Trafamaldorianos acaba por o fazer reflectir acerca do livre arbítrio, e acho que Billy acaba por desistir de viver a vida e tentar mudar as coisas, ao conhecer o seu "destino", ou seja, o que vai acontecer, e que sente como imutável.

Por outro lado, o livro acaba por ser uma reflexão acerca da guerra, e da validade de enviar aquilo que são essencialmente miúdos para lutar na mesma, ao mostrar-nos a realidade de Billy, um jovem assustado, prestes a desistir de viver e incapaz de reagir às coisas que lhe acontecem. Mas até na vida entorpecida de Billy o autor consegue criar momentos de humor, e gostei disso. Mesmo a história que não tenha tido um grande impacto em mim, consegui apreciá-la pelas suas qualidades literárias, e vou querer voltar a ler o autor.

Páginas: 200

Editora: Bertrand

2 comentários:

  1. Tive de estudar esta obra este ano e foi um livro que se revelou, à primeira vista um pouco ambíguo, pelo menos em termos emocionais. Em termos de qualidades literárias, como dizes, é uma crítica à guerra e à participação dos EUA no conflito e não poderia ter estruturado de forma mais inteligente, na minha opinião. Acho que é um autor que merece atenção e também quero ler outras obras dele, especialmente o Breakfast of Champions.

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    1. Também gostei muito da maneira como o autor estruturou a história, dá que pensar sem tirar o foco à experiência de Billy na guerra. Fiquei com a sensação que é um autor que faz as coisas de maneira muito mais interessante do que lhe dão crédito, e tenho aqui o Cat's Cradle para comprovar isso. :)

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