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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sonhos Esquecidos, Josephine Angelini


Opinião: Bolas, a Josephine Angelini tem uma sorte dos diabos, que resulta de eu acabar a gostar muito do que ela escreve e de como escreve; porque também faz um par de coisas que escritas por outra pessoa dariam comigo em doida, e a verdade é que geralmente estou demasiado divertida e embalada a ler para me chatear a sério com o que seria um pecado capital nas mãos doutro escritor.

Portanto, tiremos as coisas aborrecidas do caminho primeiro. Alguém me mate com este enredo dos primos. Isto é parvo. Isto é parvo ao quadrado. Ao infinito, até. Por favor, eles não cresceram juntos. Tratá-los como se fosse um crime só vai dar asneira, e empurrá-los para os braços um do outro. Além disso, mitologia grega, anyone? Incesto era o prato do dia. Raios, todas as justificações arranjadas para os separar soam demasiado fracas.

Segunda coisa potencialmente aborrecida. O triângulo amoroso. Depois de ler o primeiro livro fui ler a sinopse do segundo e só a menção de tal coisa me pôs a gritar com uma amiga que me tinha dito "não, não tem nada disso". Pois. Aparentemente temos definições diferentes da coisa. Depois de ler voltámos a trocar ideias sobre o assunto. Ela continua a defender a mesma posição. Eu não consigo ver como não é um triângulo.

Oh well. Não estou chateada. Ao menos valeu-me uma discussão profunda sobre o assunto. Mais ou menos. Eh. De qualquer modo, a coisa distraiu-me do drama dos primos, e de todas as maneiras como se podia desenvolver um triângulo, a Josie consegue fazê-lo da maneira menos irritante possível. Acho que o modo como os acontecimentos se desenvolvem acaba fazer bastante sentido, e não odeio todos os envolvidos, o que é um bom sinal. Até gostei deles e dos eventos do livro.

Terceira coisa chata: na primeira parte do livro, a Helena está completamente desamparada. Eu sei que ninguém tem experiência daquilo que ela está a fazer, mas não há um único adulto entre aqueles que a rodeiam que se coloque em posição de a acompanhar. Nem que seja falar com ela, deixá-la desabafar, sentir que não está sozinha com este fardo. Família Delos, estão a dormir, seus totós? A miúda está a definhar a olhos vistos à vossa frente e ninguém diz nada.

Passemos a coisas mais agradáveis. Já disse, volto a dizer, adoro que a autora escreva as coisas de modo a que os amigos humanos e mortais da Helena, o Matt e a Claire, façam parte do mundo dela. Aliás, eles estão determinados a fazer parte deste mundo, e esforçam-se ao máximo para a ajudar. As partes com eles são dos momentos mais altos da história.

Também gosto da geração mais nova dos Delos, e dos desafios únicos que se lhes põem. A pequena Cassandra dominada pelo Oráculo, e os gémeos Jasão e Ariadne a debater-se com a possibilidade de uma relação com mortais. Acho engraçado o primeiro virar drama queen, sempre nervosinho por causa da Claire, enquanto que a Ariadne se pergunta que raios é que se passa com o Matt, sem perceber que o intimida. O Lucas, bem essa é uma história completamente à parte. E o Heitor, onde é que está o Heitor? Que saudades de o ver às turras com a Helena.

Batendo na mesma tecla, continuo a adorar a adaptação que a autora faz da mitologia grega. Adoro simplesmente a maneira como usa elementos reconhecíveis e icónicos e os mistura com as suas próprias ideias. Fiquei bastante satisfeita com os pedaços de mitologia que vislumbramos neste livro, com os esclarecimentos que obtemos, e gostei de descobrir mais um bocado deste mundo - mas ainda assim estou extremamente curiosa para ver o que se apresentará no futuro.

Focando-me no objectivo principal do enredo, a exploração do Hades para libertar os Rebentos da maldição das Fúrias: epá, eu achei piada a essa parte. Mesmo quando a Helena só estava a enterrar-se mais e mais, sem conseguir avançar, porque certos aspectos do Hades são fascinantes. A demanda das Fúrias é muito curiosa, especialmente pelos passos que tiveram de ser dados para ser realizada.

Voltando à coisa do triângulo: normalmente não consigo evitar odiar toda a gente envolvida, por darem comigo em doida, mas aqui nem tenho coragem para isso, e todos são demasiado adoráveis ou estão com demasiados problemas para eu ter coragem de me chatear com eles. (E a Josephine escreve duma maneira que eu não consigo detestar, só embalar e ir com a onda, e adorar a viagem.)

O Lucas tem demasiados dramas pessoais para gerir, e não está tão presente fisicamente; só tenho pena de não ver mais de como as coisas correram para ele neste livro, porque os desafios que se lhe põem parecem deveras interessantes. O Orion é demasiado boa pessoa para eu conseguir não gostar dele. Passou tanto pela sua vida e mantém uma visão tão bem resolvida das coisas, e ajuda a Helena dum lugar de necessidade, mas também de altruísmo, e acaba por ser o personagem dos três com o percurso que mais gostei de ver.

A Helena, bolas, está demasiado insegura - é irónico e refrescante, como uma "reincarnação" de Helena de Tróia se sente insegura desta maneira - com os seus problemas pessoais; e tem uma demanda tão difícil e geradora de tensão que bem precisa de algo que a distraia, bem como algum tipo de apoio emocional - bem sabemos que os Delos não estiveram lá como eu desejaria. O Orion é uma alminha surpreendentemente descomplicada, o que é ideal. Ela bem precisa de um apoio, e a amizade e carinho e "algo mais" que evolui daí soa pelo menos natural.

A parte final é tão enervante e excitante, porque está tudo a acontecer, mas estão algumas reviravoltas guardadas para nós, e a mitologia, céus, o revirar da mitologia que conhecemos, e até do que foi estabelecido antes no livro, é fantástico. Conhecemos interpretações de personagens mitológicos mesmo interessantes. A maneira como os eventos se voltam contra a boa vontade da Helena é bem montada. E aquilo que vislumbramos do que está para vir, aquilo que é sugerido que pode vir a acontecer? A perspectiva é bastante animadora e emocionante.

É o que eu digo, eu não sei o que é que a Josephine Angelini faz, mas é tipo droga, uma pessoa fica viciada, lê, lê, lê e vira páginas atrás de páginas; escreve duma maneira que parece simples, sem esforço, o que provavelmente dá mais trabalho que se lhe daria crédito; e tem uma qualidade de escrita em que consegue escrever coisas bem dramáticas, com potencial para descambar até, mas sai-lhe tudo tão bem, tão certinho e tão envolvente e tão fascinante. É coisa para me deixar vidrada.

Título original: Dreamless (2012)

Páginas: 368

Editora: Planeta

Tradução: Inês Castro

sábado, 10 de janeiro de 2015

Predestinados, Josephine Angelini


Opinião: Em 2011, e como se já não tivesse lenha suficiente para queimar, meti-me num desafio cujo propósito era ler autores que se estreavam nesse ano nas faixas etárias YA (Young Adult, 12-18 anos) e MG (Middle Grade, 8-12 anos). A piada da coisa é que quatro anos depois, ainda ando a encontrar livros que me interessaram nesse desafio, e ainda ando a actualizar-me com eles. Predestinados é um desses livros.

Foi uma leitura curiosa, por várias razões. A principal é que tenho a sensação que foi a leitura certa na altura certa. Tem montes de coisas que eu gosto de ler, mas também uma ou outra coisa com que eu poderia ter implicado noutras circunstâncias, por isso acho que posso dizer que me apanhou num bom momento, mas também que tem os ingredientes certos para me cativar e manter-me assim durante toda a série.

A maneira como adapta a mitologia grega deixou esta taradinha da mitologia bastante animada. Gostei de ver como os semi-deuses ainda andam por aqui, como estão organizados, a herança que o passado lhe traz e como constrange as suas acções, e em como certos temas e situações se repetem, como as Fúrias controlam os acontecimentos e como a vida destas pessoas é uma autêntica tragédia grega.

O início é um pouco lento. Dá para ver as fraquezas da autora como escritora, ainda no início da sua carreira, em termos de exposição e do desenvolvimento dos personagens e acontecimentos - aqueles momentos iniciais foram algo frustrantes, por não ser claro o que se passava, e toda a gente se comportar duma forma meio irracional e inexplicável (bem, mais tarde veio a ser explicada, suponho).

O bom disto tudo é que, assim que as coisas encarrilaram, e a acção começa verdadeiramente, e toda a questão dos semi-deuses começa a ser mesmo desenvolvida... foi tãaaoooo difícil parar de virar as páginas. Há muita coisa boa entre as páginas deste livro, e o todo apagou a impressão inicial menos boa. A história e os personagens acabam por se revelar uma delícia de acompanhar nas revelações que trazem, e achei que a autora tinha um certo sentido de humor e boa onda a escrevê-los.

O par protagonista é tão engraçado de acompanhar, porque faz jus ao material de origem e é tão tragédia grega. No papel, gosto tanto deste aspecto deles, e como o destino tem uma parte importante na questão, e em como é tudo tão intenso. É fácil deixar-se levar. Em retrospectiva, reviro um pouco os olhos com certas partes do drama, e da relação deles, porque escorrega no cliché, mas é um testamento a como o livro me entreteve que nem me dei conta disso na leitura, nem lhe liguei nenhuma.

O elenco de personagens secundários é demais. Adorei conhecer a família do Lucas, toda a gente com uma boa química entre si, com uma bela união familiar, com um óptimo sentido de humor, com as suas pequenas idiossincrasias. Muitos têm nomes gregos com uma certa carga e uma certa história, e aterroriza-me pensar que a autora lhes vai fazer o mesmo que aconteceu aos seus homónimos. Gosto deste pessoal e não tenho assim muita vontade de lhes ver acontecer coisas terríveis.

Outra coisa que tenho a destacar são os amigos da Helena. Agrada-me que eles não fiquem de fora, e que não se lhes tente esconder coisas. São sempre enredos forçados, quando isso acontece, e aqui acredito que possam dar algo à história. Particularmente a Claire, que é uma miúda fantástica. Desconfiava, quase sabia, de tudo, e sempre apoiu a Helena - melhor, chegou a fazer "experiências" para comprovar aquilo que achava. Grande miúda.

Já o disse, quando o enredo começa a ganhar ritmo, a história torna-se fantástica de acompanhar, e adorei cada revelação, cada pormenor da mitologia incorporado. A narrativa tem na manga algumas revelações surpreendentes, mas acho que posso dizer que não tive dificuldade em diviná-las.

Creio que o que me surpreendeu foi aquele final. Não estava definitivamente à espera que as coisas descambassem daquela maneira, e falo dos vários problemas que se põem. (Já agora, o "drama" da Helena e do Lucas é o menor dos males. Então os deuses gregos eram totalmente "coisos" uns com os outros - e uso "coisos" não porque me falta a palavra em questão, mas porque o seu uso seria spoilerento -, e achamos que esta revelação é horrenda, o maior drama de todos? Tenham paciência. Enfim, acho que por já ter visto este tipo de coisa noutro sítio, não parece tão dramático assim.)

Não sou fã da tradução. Por vezes usa uns termos pouco coloquiais, que faziam fluir mal a leitura, e era desnecessário serem usados. O melhor exemplo é penduricalho. Não sei como está no original, mas a Helena tem um colar com pendente, e anda sempre a mexer naquilo, e cada vez que acontecia o livro dizia-me penduricalho para aqui, penduricalho para ali, e por uma razão qualquer isto buliu-me com os nervos.

Também não são fã de traduzir os nomes, mas aqui não posso propriamente exigir que estejam em grego, porque não leio grego, por isso vou fparar de me queixar. A não ser do penduricalho. Desse, vou lembrar-me para o resto da vida. Até tenho comichão só de pensar nisso.

Portanto, apesar dum começo turbulento, acabei a devorar o livro, e a adorar a leitura. Não é um livro perfeito, mas passei um óptimo tempo com ele. Diverti-me com os personagens, encantei-me com a mitologia, vibrei com as reviravoltas. Estou mesmo expectante acerca de onde é que isto vai parar.

Título original: Starcrossed (2011)

Páginas: 368

Editora: Planeta

Tradução: Inês Castro