Batman: Asilo Arkham, Grant Morrison, Dave McKean
É uma sensação singular opinar sobre este livro. Consigo apreciar o trabalho envolvido, consigo avaliar a história de um ponto desligado, e até de gostar de certas coisas, mas não sei se é uma coisa que releria, algo que me deixe saudades. Não me provocou emoções, um elemento de ligação, algo que me cativasse e intrigasse particularmente. Não estou habituada a relacionar-me com os livros assim. É desconcertante. Sinto que uma obra tão experimental devia ao menos provocar algum tipo de reacção.
Asilo Arkham conta uma noite passada nesse espaço. Os pacientes do asilo soltaram-se e tomaram conta dele, e exigem que o Batman se venha juntar a eles. (Ideia interessante.) O resultado é uma noite paralisante e inesquecível para o Batman. Intercalada com esta narrativa principal, é-nos contada a origem do asilo, e a história do seu fundador, o Dr. Arkham.
Esta não é uma história típica do Batman, pela tensão a que o submete, a exposição aos seus demónios e aos do asilo. A própria casa onde a acção decorre é quase uma personagem, e o percurso por esta ao longo da noite está recheado de momentos com um certo simbolismo, pequenos detalhes que pedem para ser interpretados e montados.
Foram pontos interessantes de explorar, e gostei de tentar perceber o subtexto, e de acompanhar a história por trás do asilo; mas confunde-me por vezes ler este tipo de histórias, em que eu não sei se o simbolismo é tão acessível que eu percebi tudo, ou tão complicado que eu não percebi nada. Lendo opiniões de outras pessoas no Goodreads, apontam coisas que a mim me pareceram óbvias, o que me fez perguntar se não estava a perder alguma coisa mais profunda. Ou seja, a história em si é capaz de ser um bocadinho pretensiosa no modo como expõe as suas ideias, o que por sua vez obscura o seu objectivo.
A arte é impressionante, particularmente pela combinação de meios, e pela altura em que foi executada, em que imagino que montar certas coisas pedia um esforço e um engenho singulares. Acabei por gostar.
Batman: Gótico, Grant Morrison, Klaus Janson
Esta é uma história também pouco usual para o Batman, mas por uma razão diferente. O vilão deixa uma ambiguidade sobre a sua origem, aparentemente sobrenatural, e essa dúvida que permeia a narrativa, combinada com a atmosfera, dá-lhe o tom gótico do título.
É uma questão estranha de considerar. A história é aparentemente passada nos primeiros tempos do Batman, o que sugere uma inserção na continuidade normal do personagem, mas ao mesmo tempo o aspecto sobrenatural não encaixa bem com ele. Acaba por ser uma história que pede que uma pessoa não pense muito para resultar, o que é o oposto da anterior (ou talvez não), coisa curiosa tendo em conta que partilham o mesmo argumentista.
Pondo reticências de lado, a história acaba por ter o seu fascínio precisamente pelo tom gótico, pela existência de um mal quase impossível de derrotar, de alguém que passou muito tempo a fazer muito mal. Pela presença de mosteiros abandonados e maldições terríveis, mortes violentas e lendas esquecidas. Pelo contraponto entre os percursos do Batman e do seu antagonista.
A arte contribui para a atmosfera gótica, com o seu detalhe, e a palete de cores sóbria e restrita, e ajuda a conjugar o enredo.
Batman: Presa, Doug Moench, Paul Gulacy
Este livro é dos três aquele que tem a história que mais me agradou, provavelmente. É que o Batman enfrenta não só o antagonista, o Dr. Strange, como a atmosfera de hostilidade que este e as circunstâncias geram em Gotham contra o herói. Torna-se um belo desafio para o personagem, e uma forma de examinar os seus motivos.
É uma história que também decorre nos primeiros tempos de Bruce Wayne como Batman, pois há algures uma referência que me parece ser a Batman: Ano Um. Tudo começa quando o Dr. Strange, entrevistado na televisão sobre o Batman, discorre sobre os seus problemas mentais, e o que poderá levá-la a fazer o que faz. Isso faz com que a polícia seja obrigada a formar uma unidade anti-vigilante, o que leva à escalada dos acontecimentos, e com uma ajudinha do Dr. Strange, o virar da opinião pública contra o Batman.
O interessante sobre o Dr. Strange e as suas acções é que ele tem o melhor palpite para descobrir a identidade do Batman. As suas conclusões são certeiras, excepto num ponto que parece descurar, e que o Gordon identifica logo. Chega muito perto de ameaçar verdadeiramente o Batman. E é simplesmente um tipo que passa por psiquiatra mas é mais doido que outra coisa, ao ponto de ser arrepiante, a sua atitude.
Entre as aparições notáveis na história, destacaria o (aqui) capitão Gordon, sempre constante e sólido, ele próprio um herói por resistir à corrupção do dia-a-dia. E a Catwoman, pelas poucas aparições mas que me deixaram curiosa por ver o que ela andava a fazer nesta altura.