Esquadrão da Luz, Peter J. Tomasi, Peter Snejberg, Bjarne Hansen
Este livro tem uma premissa muito fixe. Metam-me mitologia judaico-cristã, anjos e demónios e gente à porrada por causa de algum objectivo apocalíptico, num livro, e fico feliz da vida. Neste caso, um conjunto de soldados americanos em plena Europa durante a 2ª Guerra Mundial fica responsável por enfrentar e deter um conjunto de Grigori e Nephilim que procura uma espada celestial que os levará de novo ao Céu. (E à vingança.)
Também gosto bastante do elemento da Guerra. É tão popular meter-se todo o tipo de conceitos na mesma, talvez por em si ter englobado coisas tão extraordinárias (não no bom sentido, óbvio), que acaba por ser meio credível ter cenários fantásticos ali pelo meio.
Os contras da história prendem-se com o facto de termos a mitologia e a base para o enredo muito boas, mas depois a evolução do enredo e a caracterização dos personagens serem mais fracas. Oh, alguns detalhes dos personagens são giros (o taradinho da BD, o Centurião, por exemplo), mas isso não chega para personagens que parecem pessoas (era muito difícil distingui-los). É suposto torcermos para o Chris mudar a sua atitude e virar o jogo, mas a sua história não é explorada ao ponto de isso se tornar importante. (O fim, no entanto, é bonito.)
Eu Mato Gigantes, Joe Kelly, J.M. Ken Niimura
Que história tão gira. Tão fofa. Tão adorável e triste. Provavelmente teria mais impacto se eu não tivesse já lido o Sete Minutos Depois da Meia-Noite - é que ambas as histórias têm premissas muito parecidas, e a maneira como os protagonistas lidam com os seus problemas é bem semelhante.
Ainda assim, dei por mim completamente enredada na história da Barbara. Foi fácil de perceber o que se passava, é verdade, mas é fascinante ver as reacções dela ao que a rodeia. A maneira como a história se desenrola é mesmo cativante; e adorei acompanhar o imaginário que rodeava a Barbara, que é lindo.
Também gostei imenso da arte, é muito um estilo cheio de traços, tem uma pinta de estilo manga, mas senti-o bastante expressivo, mesmo a preto e branco, o que é fabuloso.
Umbrella Academy - Suíte do Apocalipse, Gerard Way, Gabriel Bá
Este livro é muito estranho. Digo-o no bom sentido, claro, mas é tão estranho que quando uma pessoa se está a habituar, o raio do livro acaba e é mesmo no ponto em que estamos preparados para saber mais. Queremos saber mais. Raios.
É sobre um conjunto de miúdos que nasceu com super-poderes; foram reunidos à nascença por um homem (eh) que os criou... bem, não foi como uma família, certamente. Isso implicaria carinho e sentimentos fraternais e parentais que não existem. Mais como um negócio. Isso cria personalidades fascinantes.
O cenário/worldbuilding tem tantos pormenores deliciosos, pequenas coisas que vamos apanhando daqui e dali, muitas que nem têm a ver com o enredo, ou que talvez voltarão mais tarde. O importante é saber que os miúdos são hoje adultos e já não existem como equipa. Até que um velho inimigo e uma nova ameaça surgem...
Adorei o tom do livro, ominoso e danificado e desencantado, cheio de coisas maravilhosas e fantásticas e estranhas. É capaz de precisar de mais umas leituras para ser inteiramente apreendido.
Acho que o único defeito que lhe posso apontar é que põe tantas perguntas, mas não me dá respostas nenhumas, caramba. Isso dá comigo em doida. No bom sentido. Mas ninguém tem pena de mim? Eu preciso de saber o que se passa! Como é que estes miúdos ganharam poderes? O que aconteceu com o miúdo desaparecido? E a Número Sete? Porque é que a tratam como pária? De onde é que vêm os macacos falantes? Como é que este mundo ficou assim? Arghhhh I must know.
Sorri, Raina Telgemeier
Este livro é tão enganador. Porque parece tão simples, mas acaba por ser tão bom e tão rico. Acho que já percebo porque é que a Raina Telgemeier é tão popular.
A história é, pelo que percebo, autobiográfica. Raina começa pelo momento em que descobre que vai ter de pôr aparelho só para, cúmulo dos cúmulos, cair ao chão e espatifar os dois incisivos centrais de cima. O livro segue as suas aventuras (ou desventuras?) dentárias para voltar a ter um sorriso, no meio de aparelhos e retentores e outras coisas parecidas (ou não). Senhores, aprendi mais sobre problemas dentários num livro mais que em toda a minha vida.
E é essa a simplicidade do livro: conta-nos os dramas dentários da protagonista. Mas também é essa a sua complexidade. Com uma clareza de espírito que só vem com a idade, a autora reconta a sua evolução ao longo daqueles anos, amigos, paixonetas e desencontros, novas escolas, dores de crescimento.
Pode parecer apenas um livro sobre a vida banal de uma miúda adolescente, mas é feito com um elaborado fundo emocional, e é possível o leitor compreender a evolução da vida da Raina e compreender como ela se sente ao longo do tempo. É simultaneamente mais fácil e difícil escrever sobre nós próprios, ainda mais com tanta clareza e imparcialidade, e por isso direi que é um livro impressionante, sendo enganadoramente simples.