Opinião: Escrito e publicado na esteira da fama da série de televisão Downton Abbey, As Mulheres de Summerset Abbey apresenta-nos três jovens raparigas cujo mundo muda com a morte de Sir Philip Buxton. Rowena é a sua filha mais velha e sente-se paralisada pela responsabilidade e pela mudança de vida a que ela e as irmãs são sujeitas; Victoria é a filha mais nova, doente e frágil, mas idealista, inteligente e lutadora; Prudence é a jovem do meio, a única que não é filha de Sir Philip, mas que foi educada por este como se o fosse.
Gostei bastante deste livro, por um lado por apresentar a época que Downton Abbey nos apresenta, a época edwardiana, uma época fascinante de mudança; mas por outro lado por evitar um bocadinho a visão glamorosa e bonificada que Downton Abbey parece dar. Aqui a relação criados-família é mais fria e mais altiva, e acho a descrição da vida de uma mulher nesta época mais vívida e credível. A relação de Lady Summerset com a sua criada, por exemplo, é de intriguismo e favores; Rowena e Victoria ficam dependentes do tio até casarem ou fazerem 25 anos; e Prudence, pela sua situação invulgar, é aceite em Summerset apenas como uma criada das meninas.
É difícil de gostar da Rowena, pela paralisia e, digamos, cobardia que a mantém bloqueada durante quase toda a narrativa. Mas acabei a sentir pena dela. Foi ela que colocou a Prudence na situação difícil em que esta se encontra durante toda a narrativa, é certo, mas é triste vê-la debater-se com a responsabilidade que nunca teve, sendo a filha mais velha de uma família aristrocrata, protegida de todos os problemas que pudesse encontrar, e caminhando à beira de uma depressão. É fácil para a Victoria e a Prudence descarregarem nela pelo que fez, mas alguma reparou a sério no que se passava com ela? Talvez as coisas não tivessem chegado tão longe. Estou mesmo curiosa para ver o que vai acontecer a seguir com ela e com o seu piloto de aviões. Se a autora entrar pela 1ª Guerra Mundial, consigo vê-la a juntar-se ao esforço de guerra de alguma maneira.
A Victoria, pelo seu lado, é fácil de gostar. É daquelas personagens sonhadoras que não gosta de encaixar em etiquetas convencionais. Tem um sentido de justiça muito apurado e rebela-se contra o que vê como injustiças. Não se deixa limitar pela doença (tem asma). Quer estudar e tenta descobrir o mistério que permeia a história. Mas a sua posição privilegiada dá-lhe uma ingenuidade que não me agrada. É fácil revoltar-se contra uma injustiça, mas faz ela alguma coisa para mudar essa injustiça ao longo do livro? Achei que desistiu muito facilmente da injustiça que viu praticada contra a Prudence, por exemplo. (E nem viu a manipulação óbvia da tia.) Vejo-a mais como muita parra e pouca uva muita conversa e pouca acção. Espero que ganhe um pouco mais de coragem e engenho no próximo livro.
A Prudence, bem, a história dela é a mais triste e mais cativante de todas. Foi educada por Sir Philip como uma filha, e Rowena e Victoria consideram-na como sua irmã. O segredo à volta dela foi bastante óbvio desde o início, se bem que admito que me enganei num dos detalhes. (E fez-me perguntar por que raios Sir Philip nunca se precaveu contra a eventualidade da sua morte, deixando assim a Prudence tão desamparada.) Fiquei cativa da descrição dos problemas que a Prudence encontra com a sua nova posição - uma educação de lady, mas filha de uma governanta, na posição de uma lady's maid (ou mais ou menos isso). Acho que ela foi um bocado precipitada no fim do livro, e sei que a sua decisão ainda lhe vai causar dissabores. Mas espero que encontre um caminho melhor, que merece.
Acerca dos personagens secundários... cumprem o seu papel. Odiei a Lady Summerset, porque é mesquinha e maldosa e intriguista e OMG eu quero esganar esta mulher, ponto final. O marido é um cobarde que nem tem coragem para falar no "grande escândalo" de Summerset. E, já agora, havia mil e uma maneiras de terem lidado com a situação que não passava por fazerem de conta que o problema não existia e depois tentar varrê-lo para baixo do tapete de forma cobarde.
Há uma série de criados em Summerset, e a autora faz um bom trabalho em apresentá-los e descrever as suas funções, mas a maior parte não se destacou; só aqueles que podiam contribuir directamente para a evolução do enredo foram mais desenvolvidos. O mesmo se passa com o grupo de amigos de Elaine, Rowena e Victoria - jovens belos, ricos, e ociosos. Há um ou outro rapazes que se destacaram, pela sua amizade com duas das raparigas, mas a autora não nos facilita a tarefa e acredito que as coisas não irão evoluir de um modo óbvio. Fiquei mesmo curiosa com o piloto da Rowena, o Jon, mas também é um ângulo ainda insuficientemente inexplorado... se bem que as possibilidades são infinitas.
Tenho de reconhecer, a autora foi capaz de evocar a época em questão. Infundiu a história com o nível certo de detalhe, nem muito pesado, nem insípido. Permitiu-me mergulhar na história e seguir com entusiasmo aquilo que acontece com Rowena, Victoria e Prudence. Estou com muita vontade de ler os próximos livros.
Título original: Summerset Abbey (2013)
Páginas: 300
Editora: Noites Brancas
Tradução: Maria do Carmo Figueira
Belo comentário, fiquei curiosa.
ResponderEliminarDeixei um miminho para ti no meu Blog.
http://lerviverler.blogspot.pt/2013/08/vida-noutro-blog-69.html
Espero que tenhas oportunidade de ler, é um livro bem giro. ;)
EliminarObrigada! Fico muito reconhecida pelo destaque. ^_^
Estou com muita vontade de ler este e a tua opinião só fez com que desejasse o livro ainda mais. Mas, pelo que percebi, *li à pressa, confesso*, isto é uma séria portanto acho que vou demorar um pouco a adquirir.
ResponderEliminarSim, é uma série. Espero que não levem muito tempo a publicar o resto... :)
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