Opinião: Tenho um certo fascínio por romances contados de forma epistolar, e como não me aparecem muitos à frente, agarrei este livro com unhas e dentes, curiosa para ver como a autora ia apresentar a sua história. Por um lado, posso dizer que foi bem sucedida. A história foi cativante o suficiente para me manter interessada, e o aspecto epistolar agradou-me. Por outro lado, durante a narrativa fui juntando uma série de coisas que me desapontaram no livro, e todas juntas ainda são algo significativo.
A história está dividida em duas partes que se intercalam. A primeira é a história de Elspeth e David, correspondentes no início do século XX, durante a Primeira Guerra Mundial, e que se aproximam através das palavras. A segunda é a história de Margaret, filha de Elspeth, que durante a Segunda Guerra Mundial tenta descobrir o que há no passado da mãe que a deixa tão triste.
Como mencionei, o decorrer da história atraiu-me, e foi bom o suficiente para manter o meu interesse. Uma história de amor em cartas, há lá coisa mais romântica? E gostei imenso de seguir Elspeth e David, especialmente mais para o fim, quando se conhecem em carne e osso. Há algumas ideias muito interessantes e palavras muito bonitas nas suas cartas, e posso genuinamente dizer que me diverti a lê-las.
A situação singular de Elspeth deixou-me vidrada na história, e achei fascinante o abandono a que se votou na relação com David, especialmente tendo em conta a época. Quanto ao David, adorei as suas peripécias académicas, e a visão mais descontraída que tinha da vida.
No entanto, há problemas na execução da técnica das cartas. Não consegui sentir a aproximação entre Elspeth e David, não percebi onde e como se foram apaixonando um pelo outro. A revelação parece que cai do céu, e podia ter sido melhor preparada nas cartas. Assim como a aproximação dos personagens podia ter sido melhor trabalhada.
Depois, um dos personagens faz uma piadinha sobre ter escrito uma carta demasiado longa, o que me fez torcer o nariz. Na minha opinião, as cartas são é demasiado curtas, especialmente para a época em questão. Uma carta ainda levava algum tempo a chegar, entre EUA e Escócia, e acho que valia a pena fazer render o peixe e escrever uma longa carta... às vezes, tudo o que os personagens trocam é uma frase, um parágrafo. Frequentemente, uma ou duas páginas, o que ainda acho pouco. Tenham lá paciência, mas parece-me que ninguém desperdiçaria selos desta maneira naquela época.
Outra coisa que questiono é o uso do enquadramento com a história da Margaret. Não só a transição entre os capítulos da Elspeth e da Margaret é algo abrupto, de início, como sinto que a história era a mesma se grande parte das cartas dos capítulos da Margaret não estivessem presentes. A "história de amor" da Margaret é bastante mais simples e desinteressante e não contribui nada para a narrativa. Meia dúzia de cartas escritas e trocadas em 1940 chegavam para ajudar ao desenlace da narrativa.
Falando no final, a razão pela qual os dois protagonistas foram separados é bastante ridícula. Mas plausível, suponho. Muitas vezes as coisas acontecem pelas razões mais estúpidas. Como reviravolta no enredo é algo frágil, no entanto, esta razão pela qual passaram mais de 20 anos afastados.
Outra coisa que gostava de comentar é o título. Parece que o foram buscar à edição italiana, que é a única outra que foge a ser fiel ao título original. É um título tão pateta, que me soa tão mal, e tão longo... ainda compreendo os Nove Mil Dias (é o período de tempo em que os protagonistas estão separados entre os dois blocos de tempo relatados na história), mas e a Uma Só Noite? Não faz sentido. David e Elspeth tiveram mais que uma noite juntos. Enfim... se calhar não é para perceber.
Título original: Letters from Skye (2013)
Páginas: 256
Editora: Presença
Tradução: Catarina F. Almeida
Sem comentários:
Enviar um comentário