Opinião: É um pouco difícil explicar este livro. O tema central é algo que é extremamente subjectivo, dependendo muito das experiências pessoais de cada leitor, que hão de colorir a sua percepção da história. No entanto, acredito que é uma história com a capacidade de cativar e comover, e que vale a pena apostar nela, pela abordagem única que faz.
Recomendaria Sete Minutos Depois da Meia-Noite porque a maneira como é escrito e contado lembra-me um conto de fadas, daqueles à antiga. No sentido daquelas histórias sombrias e cruas, que falam de verdades terríveis que carregamos cá dentro. Aquele tipo de coisas que não nos atrevemos a verbalizar, e por isso criamos histórias, como esses contos de fadas, para tentar lidar com isso.
O protagonista Conor é um miúdo de (apenas) 13 anos. E no entanto, as circunstâncias obrigaram-no a crescer. Um pai ausente e absorvido pela nova família. Uma avó distante e dura. Uma mãe fragilizada pela sua condição. Uns miúdos da escola que se metem com ele.
Diria que a mais-valia deste livro é que Patrick Ness escreve honestamente. Não infantiliza o Conor. Por vezes é demasiado fácil esquecer do rico mundo interior que uma criança porta; eles compreendem mais do que lhes damos crédito, apenas não tiveram a oportunidade de desenvolver mecanismos para se protegerem de realidades terríveis, do sofrimento e do luto, e o que parece inocência e desconhecimento pode esconder uma forma de tentar lidar com a questão.
Adorei ler o percurso do Conor na história, passei o tempo com o coração a espremer-se de aflição, de impotência por não poder ajudá-lo e protegê-lo, porque ninguém merece passar por este tipo de experiência, apesar de eventualmente nos acontecer a todos. Só que ele é tão novo, e a noção de que isto ia marcá-lo pelos seus anos formativos é aflitiva.
Achei tão interessante a presença do monstro, a transfiguração do teixo que Conor e a mãe vêem da janela da cozinha. Gostei muito da dúvida que deixa sobre a sua natureza, mas ainda mais sobre como é um reflexo e uma manifestação dos problemas e dúvidas interiores que Conor enfrenta, e como lhe permite exteriorizar (nem sempre de maneira saudável, mas ao menos está a deitar cá para fora) tudo o que sente.
O fim, bem, podia dizer que é perfeito, mas soa-me mal, tendo em conta o conteúdo, por isso vou dizer que é adequado tendo em conta o desenvolvimento do enredo até aí. É triste, mas também é catártico, e nesse aspecto quase que deixa um bocadinho de esperança.
È verdadeiramente trágico que Siobhan Dowd não tenho podido desenvolver a história que desejava antes de morrer, mas espero que fosse algo como isto. (A ideia original é dela, mas depois da sua morte a ideia foi apresentada a Patrick Ness para desenvolver numa história.) Por outro lado, vale muito a pena destacar o trabalho de Jim Kay nas ilustrações, cruas, primitivas, mas belas e fascinantes, e acompanhando perfeitamente a história.
Uma última menção à edição portuguesa. Comprei porque queria ler o livro, e porque ainda vou acreditando às vezes em comprar em português para incitar as editoras em publicar mais coisas do género da que estou a adquirir. Contudo, gostava mesmo que a edição fosse um pouco melhor. O papel é daquele brilhante/de toque avernizado (nunca sei como se chama) - o que já é bom, não terem tentado imprimir as ilustrações no papel normal que a editora usa.
Só que esse papel também tem uma gramagem maior, fazendo o livro bem mais pesado que alguns com o dobro do tamanho. Sinto que o livro precisava de uma encadernação melhor, de algo que suportasse melhor o papel. Nem badanas tem! Além disso, dei por mim com muito medo de abrir bem o livro nas ilustrações em dupla página. Não por não querer dobrar a lombada, mas achei que o livro era frágil o suficiente para estar em perigo de se desfazer nas minhas mãos se o tentasse abrir mais.
Acabei por ficar a desejar ter comprado em inglês em hardcover, porque com esse eu teria toda a confiança para abrir o livro à vontade. É uma pena, porque merecia uma edição das boas. Além disso, que raios é aquela tralha toda na capa? A citação do John Green é completamente desnecessária (podia ser relegada para a contracapa), e as bolinhas azuis dos prémios só entopem e ajudam a distrair da arte de Jim Kay (again, deviam estar na contracapa). Que péssimo trabalho de design.
Por outro lado, apesar de ter torcido inicialmente o nariz a terem mudado o título, acabei por ficar a gostar bastante dele, especialmente depois de compreender o seu significado - é bastante adequado. E em nota final, louvo o pequeno extra que o livro traz, um poster com uma das ilustrações de Jim Kay. Muito bom.
Título original: A Monster Calls (2011)
Páginas: 216
Editora: Presença
Tradução: Ana Cristina Pais
Olá :)
ResponderEliminarEste livro já está na minha wishlist, estou extremamente curiosa em relação a ele. Sou ouço e leio maravilhas sobre este livro.
Beijinhos.
Olá! :D
EliminarSe tiveres oportunidade de ler, vale bem a pena aproveitar, é uma história bonita, triste e marcante. Imagino que não deixe ninguém diferente. :)
Boas leituras! ;)
Acho que por norma a Presença não costuma fazer mau trabalho com as edições. Nunca tinha ouvido falar deste livro mas fiquei com curiosidade :) beijinhos
ResponderEliminarNormalmente acho que trabalham bem, e por isso é que me espanta que não tenham tido um cuidado especial com este livro, já que tem moldes diferentes do que costumam publicar (tem texto+ilustrações, e um papel completamente diferente). :S
EliminarSe chegares a ler, espero que gostes. ;) Boas leituras.
Comprei e vou mesmo querer ler em breve :)
ResponderEliminarOlá! Muito boa dica! Eu amei! Eu também gostei do filme. Você já viu? 7 Minutos Depois da Meia Noite se tornou em uma das minhas histórias preferidas desde que li o livro, e quando soube que seria adaptado a um filme, fiquei na dúvida se eu a desfrutaria tanto como na versão impressa, mas vi A Monster Calls filme completo é gostei. É um dos melhores filmes de fantasía, tem uma boa história, atuações maravilhosas e um bom roteiro. O filme superou as minhas expectativas, realmente o recomendo. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver nesse gênero.
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