Opinião: E finalmente posso dizer que li um livro da Maggie Stiefvater! Se bem que a parte do ler é relativa, tecnicamente ouvi o livro, já que tinha a versão audiolivro cá por casa. E suponho que posso dizer que foi um bom retorno aos audiolivros; mesmo não tendo apreciado particularmente o narrador, acabei por gostar muito da escrita da Maggie e da história que ela conjurou.
Esta é a história de Blue Sargent, uma jovem numa família de médiuns que não possui nenhum talento, e que toda a vida ouviu previr que mataria o seu amor verdadeiro com um beijo. É também a história dos Raven Boys, um conjunto de rapazes da selecta escola privada de Aglionby, um grupo de jovens ricos mas desajustados com um objectivo singular.
E posso dizer que fiquei surpreendida com o quanto acabei por gostar da história e da escrita da Maggie. Gostei tanto da maneira como ela descreve as coisas, as voltas de frases que dá, a maneira como põe as coisas. Consegue escrever uma história com pendor sobrenatural, e ainda assim, escrever de modo tão natural, tão terra-a-terra.
Consegue fazer-me acreditar num bando de adolescentes que meteu na cabeça que há de encontrar o local de repouso eterno de um rei galês que terá sido trazido da sua terra natal para terreno americano. Ou na magia das pequenas coisas, na magia do dia-a-dia.
Fiquei fascinada com a demanda destes personagens. A sinopse do livro sugere um conflito de natureza mais romântica, e as raízes do mesmo estão lá; mas não é coisa que domine a narrativa, dando lugar à procura das linhas Ley e da sua importância para encontrarem Glendower, o monarca galês.
Achei o conjunto de personagens muito cativante, e fiquei fã de como a Maggie os descreveu e desenvolveu. A Blue, com a sua maneira desprendida, espirituosa e bondosa, e como cresceu numa casa de mulheres sem dar em doida. (Estou a brincar. Mais ou menos.) O ambiente feminino é delicioso, e gostei de conhecer as meninas da casa, as suas singularidades, e como encaixam umas nas outras.
Os Raven Boys titulares são outro exemplo perfeito de uma caracterização cuidada e brilhante por parte da autora. Sinto que com o livro fiquei a perceber quem são, o que os move, como funcionam. Adorei que aceitassem a Blue nas suas fileiras sem drama. Como ela se imiscuiu tão determinadamente. Ah, e acho que preciso que alguém dê um abraço ao Ronan e ao Adam, porque beeeeem, nas suas curtas vidas foram expostos a demasiado.
Gostei muito da veia sarcástica do Ronan, a necessidade dele de pessimismo, mesmo tendo bons princípios. Quanto ao Adam, compadeci-me da vulnerabilidade em que a sua situação o deixa, o orgulho que não o deixa aceitar mais, a sua incapacidade em deixá-la. Fiquei muito contente ao vê-lo fazer a coisa certa num certo momento, porque achei mesmo que ele ia deixar-se subjugar.
O Noah, bem, eu percebi que algo se passava, porque a Maggie teve um cuidado extremo em não descrevê-lo demasiado, em não envolvê-lo demasiado nos acontecimentos, para não suspeitarmos logo do que se passa com ele. Já o Gansey deve ser a alma mais bem resolvida de todo o livro, o que é refrescante e fascinante. É engraçado ver como ele toma um papel de "pai", de líder, de responsável.
A sua demanda e as razões para a continuar são bem interessantes; e acho curioso o modo como ter crescido com dinheiro o torne algo alheio aos problemas que esbanjar e distribuir dinheiro indeterminadamente traz. Falta-lhe a maturidade para perceber isso, mas isso também lhe confere uma aura de inocência curiosa. Achei delicioso como ele e a Blue começam com o pé esquerdo, porque só torna as coisas mais giras de acompanhar. É definitivamente uma questão que começa subtil, mas que tenho a certeza que vai-se tornar tortuosa muito rapidamente.
Fiquei muito investida no mistério de Cabeswater e na procura de Glendower, e todos os pequenos acontecimentos e detalhes foram ou são mote para eu formar um monte de teorias na minha cabeça sobre para onde a Maggie vai levar isto. (A minha favorita é que alguém no meio disto tudo vai-se revelar a reincarnação do Glendower. Com a maneira como a Maggie escreve, estou pronta a acreditar em reincarnação também.)
Quanto ao narrador do audiolivro, gostei que falasse com sotaque, porque sugeria o espaço em que os personagens se moviam. Mas de resto não sou a maior fã. Ele fazia uma coisa com algumas personagens femininas, de tentar fazer uma voz fininha, que não me agradou propriamente.
Quanto à experiência de ler um audiolivro em geral, bem, é singular. Frustra-me um pouco não ver os nomes escritos, porque este livro tem montes de nomenclatura estranha, e que precisava de ver escrita. (Fui à procura antes de opinar aqui.) E pergunto-me se não reterei melhor as coisas, os pormenores, a ler em vez de ouvir.
É que o meu hábito quando leio é ouvir música para abafar o ruído de fundo; neste caso estou a ouvir um livro, e a tendência é para me distrair e perder ocasionalmente uns quantos segundos. Espero ter conseguido apanhar tudo, e tenciono comprar o livro em papel (fiquei fã e vou continuar a série), por isso hei de dar uma olhadela para me certificar que sim.
E sim, como é óbvio no parágrafo anterior, tenciono continuar a ler a série. Fiquei mesmo fascinada com a escrita da Maggie Stiefvater e com como ela cria a sua história, com os conceitos que já apresentou, e com a promessa de mais coisas boas para breve. Além disso, com aquela declaração cliffhangeresca do Ronan? Como é que ela me pôde deixar assim pendurada? Arghhh.
Editora: Scholastic
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