sexta-feira, 3 de abril de 2015

Uma imagem vale mil palavras: Cinderella (2015)

Eu às vezes já tenho receio de ir ver estas coisas. Especialmente quando são baseadas em filmes que marcaram a minha infância, porque as expectativas são grandes, e o potencial para saírem goradas é enorme.

Portanto, pouco ou nada esperava, e por isso acabei agradavelmente surpreendida; encontrei um filme que me encheu as medidas, que adicionou um pouco à história sem a canibalizar ou distorcer, e que me deu vontade de abraçar toda a gente envolvida na produção, porque está tão giro e fofo e adorável e... ok, já chega de adjectivos.

As principais diferenças que a história apresenta em relação ao filme animado ou às várias versões do conto prendem-se com vários aspectos. Um é que desenvolvem mais a história da Ella com os pais, o que dá uma boa base para compreender o carácter e os valores dela ao longo da história. Os elementos mais problemáticos da narrativa são trabalhados e/ou explicados de modo a fazerem sentido no mundo real - isto é, no mundo real se este tivesse magia -, o que acaba por ser importante, porque uma adaptação com pessoas de carne e osso pede um bocadinho mais de realismo. (E um bocadinho menos de coisas incríveis como a Cinderela e o Príncipe apaixonarem-se após uma noite no baile, ou ele só a reconhecer depois de lhe meter o sapato no pé.)

Gostei tanto da personalidade da Ella. O modo como foi educada deu-lhe uma personalidade gentil e doce, mas também os seus valores, e nem mesmo quando as coisas se tornam difíceis os abandona. O seu feitio leva-a a praticar pequenos actos de bondade, que a madrasta e as meias-irmãs são rápidas a aproveitar, não admirando assim que de repente ela se veja praticamente criada das outras. Uma jovem naquela época, com aquelas circunstâncias, tinha poucas escolhas, e é visível que a Ella faz o melhor que pode com o que tem e tendo em vista aquilo que deseja.

A madrasta é apresentada duma maneira fantástica, nada cartoonesca, e as suas motivações fazem perfeitamente sentido dentro da sua história, personalidade e objectivos. E é por isso que é um óptimo contraponto à Ella. Deixou que as circunstâncias a amargassem e a tornassem no que é; enquanto que a Ella recusa-se a deixar-se abater, mantendo-se bondosa e corajosa mesmo nas adversidades, mesmo quando seria mais fácil agir doutra maneira. Há uma força interior poderosa e serena nesse tipo de coisa que me agrada.

Também gostei muito das cenas que vi do palácio e dos seus habitantes. Os esquemas do Grão-Duque; o capitão da guarda e a sua queda para ver o humor nas situações, e a sua relação com o Príncipe; até a relação do Príncipe com o pai. Essa parte foi muito interessante, porque ajuda a caracterizá-lo, e curiosamente estabelece uma ligação com o percurso da Ella. Ele é, antes de ser um príncipe, um jovem a perder o pai. A sua última cena com ele é comovente e tem um detalhe mesmo bonito no fim, quando os dois se abraçam, e ele se enrosca na cama junto ao pai. Perder alguém torna-nos pequeninos outra vez.

O elenco é fantástico, acho que não há ninguém de quem eu me possa queixar, pelo contrário, todos me deram um gozo imenso em acompanhar. As meias-irmãs desbocadas e com um feitio horrível, mas que deram tantas cenas engraçadas. O capitão da guarda, pelo seu humor. O Grão-Duque, pelos seus esquemas.

A gloriosa Cate Blanchett, que é tremendamente credível como madrasta má, e ainda me fez acreditar naqueles vestidos doidos. A Lily James, que conseguiu equilibrar o feitio doce da Ella, mostrando que não é pateticamente ingénua. O Richard Madden é totalmente adorável e felizmente bastante afastado do Robb Stark, que a última coisa que eu precisava era de me lembrar da cena final dele em Game of Thrones, sob pena de ficar traumatizada.

Os valores de produção são extraordinários. Os cenários, os figurinos - os vestidos! ahhh so pretty... o da Ella no baile é delicioso, assim como muitos outros que vemos na cena (e os das meias-irmãs são hilariantes de tão shiny e de tão mau gosto), e como o da Fada Madrinha. Visualmente o filme está fantástico e cativante. (E os ratinhos! Tão fofos. Adorei que os sons que faziam remetiam para as falas dos ratos do filme animado.) A única coisa de que me poderia queixar é que a banda sonora podia puxar um pouco mais à banda sonora do filme animado. A memória auditiva podia trazer alguma nostalgia do filme animado e envolver mais o espectador.

Resumindo, diria que é um filme que vale a pena para quem gostou do filme animado e gostaria de ver uma reinterpretação que se mantém fiel e ao mesmo tempo inova em pequenos detalhes, contando uma história nova e já conhecida ao mesmo tempo. Tem momentos que dão que pensar, está bem construído, mais bem pensado do que esperaria, é deslumbrante visualmente, e conta com um bom elenco. Vou querer rever bem mais que uma vez.

4 comentários:

  1. Ao ler a tua opinião concordei com cada palavra. É um filme super amoroso! Espero que o próxima, "A Bela e o Monstro" também seja feito com o mesmo cuidado.

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    1. Obrigada! É tão adorável, não é? :D Também estou com muita vontade que o Bela e o Monstro seja igualmente bem feito, é uma história que gosto ainda mais que esta, por isso estou um pouco nervosa. Mas a Emma Watson tem uma certa pinta de Belle, por isso também estou confiante. :)

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  2. Também sinto esse receio e também gostei da escolha para Bela. Vamos lá ver como vai ser a adaptação, especialmente a parte da biblioteca!

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    1. Isso! Se a biblioteca for fabulosa, é meio caminho andado para ganharem o meu coração. xD

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