Opinião: Depois de dois livros que conseguiram manter o meu interesse, mas que não conseguiram deixar de me suscitar dúvidas e de me fazer apontar-lhes defeitos, chega o terceiro e último volume desta colecção. E sabem que mais? Foi fantástico, valeu mais que a pena, e valeu pela trilogia toda. Nem sequer tenho razões de queixa desta vez.
O aspecto mais importante e que mais me atraiu aqui neste livro foi mesmo a entrada na Primeira Guerra Mundial, porque permite colocar personagens em posições e funções muito mais interessantes. De certo modo, na minha cabeça passei o tempo a comparar a adaptação que este livro fez da Guerra com Downton Abbey, e honestamente o livro fica a ganhar.
É que a série fica demasiado presa à propriedade titular, e foge um bocado a mostrar coisas da Guerra, mostra mais como esta afectou a propriedade e os que nela vivem. O que até faz sentido, mas lembro-me que na altura em que a vi desejei ver mais sobre a Guerra, que mudou uma geração que até aí viveu com uma perspectiva de vida muito mais segura.
Aqui este livro enche-me completamente as medidas. Os personagens secundários externos ao elenco principal do livro são um pouco mais desenvolvidos, portanto quando vemos todos os rapazes do grupo de jovens a serem destacados e chamados para o exército, é muito mais fácil ficarmos preocupados com eles.
Todos os presumíveis pares das meninas protagonistas estão fora, e vamos tendo relatos deles, às vezes preocupantes e em segunda mão, às vezes em pessoa, que mostram como esta geração habituada ao ócio foi irremediavelmente afectada.
As jovens protagonistas também não ficam paradas. A Prudence morre de medo que o marido lhe seja levado pela Guerra, e luta para o proteger ao máximo, especialmente com a boa surpresa que recebem. É tão curioso ver evoluir a relação deles, e gosto de ver que algo que começou num pé menos auspicioso e menos afectuoso crescer para algo estável e forte e com afecto mútuo.
A Rowena ultrapassa o desgosto que recebeu anteriormente e agarra-se à vida e ao que adora fazer, a aviação, e consegue contribuir para o esforço de guerra servindo de piloto de transporte de aviões por todo o Reino Unido. É uma perspectiva tão excitante, e adorei seguir-lhe os passos. Tornou-se numa personagem favorita. Além disso, portou-se dum modo tão digno e despretensioso no campo amoroso, e gostei tanto de ver a ver evoluir desta maneira. O Sebastian foi um doce de pessoa e tão adorável.
(De certo modo, era este tipo de evolução que eu gostaria de ter visto para a Mary em Downton Abbey. Nem me lembro do que é que ela fez na série naqueles quatro anos, a não ser olhar para as paredes, e desde então têm embarcado num jogo ridículo de emparelhar a Mary que até me faz revirar os olhinhos. Como se ela não tivesse mais que fazer, e não houvessem coisas mais interessantes para a pôr a fazer.)
A Victoria, bem, anteriormente irritava-me um bocado, porque me faz comichão haver alguém tão idealista e ingénuo e com pinta para fazer asneira. No entanto, neste livro ela cresce brutalmente, e adoro vê-la como voluntária/auxiliar de enfermagem, e gosto de ver explorada a vida de uma mulher nesta época que o fizesse. Ainda mais porque gere bastante bem a sua doença, a asma, e isso permite-lhe fazer uma vida normal. Bem, não completamente, mas isso é porque a Vic exagera.
E diverti-me tanto a vê-la com o Kit, era muito claro que ele andava a zumbir à volta dela, mas a Vic quer independência e acha que não pode ter as duas coisas, o que é parvo, porque o Kit vai sempre fazer tudo o que ela quiser, é bastante óbvio. Ri-me tanto vê-los terem-se resolvido tão às pressas, é mesmo deles.
O enredo desenvolve-se muito bem, começa um pouco antes da Guerra, e entra por ela adentro até meio de 1915, parece-me. Há pequenos saltos no tempo, para permitir aos personagens viajar e fazer coisas e viver o dia-a-dia, mas nunca senti que isso se traduzisse em saltos abruptos na evolução deles, por isso a autora conseguiu fazê-lo funcionar.
Em suma, um óptimo fecho para a trilogia, uma boa descrição da Primeira Guerra Mundial e de como afecta os nossos personagens, e um livro que termina a história destes personagens fantasticamente e eleva a qualidade da série. (A única coisa que aponto é o fim, que parece um nada abrupto, não me importava de ter visto mais sobre o que aconteceu no futuro destes personagens. E gostava que a autora tivesse resolvido melhor a Elaine, ficou tão em suspenso, pobre da rapariga.)
Título original: Spring Awakening (2013)
Páginas: 280
Editora: Noites Brancas (Clube do Autor)
Tradução: Eugénia Antunes
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