sábado, 22 de agosto de 2015

Curtas BD: Nimona, Wicked+Divine, Finalmente o Verão, Zits

Nimona, Noelle Stevenson
Tenho uma história engraçada com este livro. Há uns tempos fui parar ao site da Noelle, onde este (originalmente) webcomic estava publicado, e li umas páginas, mas não me captou o interesse de imediato, e como muitas vezes me acontece na net, foi descartado, e passei à próxima coisa. Mais recentemente, já depois de saber que se ia tornar num livro, li novamente as primeiras páginas, e fiquei muitíssimo mais interessada. Claro que tive de mandar vir o livro.

E foi uma tão boa surpresa, porque gostei muito do que a autora aqui fez. É um mundo quase típico da fantasia épica, com pendor medievalista, mas com pinta de ficção científica, em que a magia convive com a ciência. Os temas são clássicos, mas a criadora dá-lhes uma reviravolta particular, que nos faz ver as coisas sob um novo ponto de vista, e apreciar o modo como apresenta as coisas.

Gostei tanto da Nimona, uma (aparentemente) adolescente shapeshifter com um feitiozinho desgraçado e uma queda para a vilania. É muito interessante que de todos os formatos de corpo, ela escolha precisamente aquele, o que manda uma mensagem saudável; por outro lado, as travessuras a que se propõe são tão divertidas. Além disso, a sua história torna-se progressivamente mais séria, questionando a natureza do que faz alguém um monstro, terminando numa nota particularmente agridoce.

Já o Ballister Blackheart faz um vilão fascinante, porque o que faz dele um vilão não são necessariamente as suas acções, mas a narrativa pré-estabelecida por outrém, e pela suposta necessidade de haver um vilão. A sua relação com a Instituição é tão complicada, e gosto da maneira como a autora vira as coisas neste ponto, e também na pessoa do Ambrosius Goldenloin (grande nome). Aliás, a relação dele com o Ballister é adoravelmente complicada, e tão gira de seguir.

Gostaria ainda de destacar o sentido de humor com que a história evolui, balanceado com a gravidade de certos momentos muito bem introduzidos. E gostei de ver evolui a arte (e o trabalho de legendagem), vê-se que foi algo feito ao longo de muitos meses, e que permite acompanhar a evolução da autora.

The Wicked + The Divine v.2: Fandemonium, Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matthew Wilson, Clayton Cowles
Eu nem sei bem que dizer sobre isto, e que não passe por fazer muitos spoilers. Porque oh, que raios, esta gente é doida. Completamente varrida. No bom sentido, mas depois fazem-me coisas que deixam uma pessoa estarrecida. Ainda estou a bater mal do final explosivo que este livro/arco têm.

Vamos tentar falar doutra coisa. Voltando à premissa: deuses voltam de 90 em 90 anos, inspiram as massas, vivem durante dois anos, morrem em grande. Vira o disco e toca o mesmo. E mesmo assim, os autores conseguem explorar esta sua premissa e apresentar mais facetas da coisa que são fascinantes de considerar. Gostei muito de vislumbrar como certos aspectos funcionam, e como ao apresentar as regras, nos estão a mostrar como podem também ser quebradas.

Outro ponto muito positivo são as divindades que fazem parte do panteão. É suposto o mesmo ter 12 deuses de cada vez, mas tenho a sensação que é fluido, e que não sempre os mesmos de cada vez. De qualquer modo, aprecio imenso a diversidade incluída no panteão, e como entram divindades de várias mitologias. Vale tudo, e para esta totó da mitologia, é muito bom de ler.

Gosto particularmente de como me fazem trabalhar para entender aquilo que se vai passando. A papinha não está toda feita, obrigam um leitor a pensar no que está a ler, a interpretar, e por isso é das histórias mais ricas que já li. Além disso, a arte, já o disse, é linda, cativante, muito bem pensada, e gosto de ver quão eficaz é o trabalho final a contar a história que é preciso.

Quanto ao final, simplesmente estou furibunda. Eu já tinha ficado parva com o final louco/cliffhanger/seja o que for do livro anterior, aqui estou boquiaberta, não sei se de fúria se de espanto. Estes autores são o equivalente da BD do George R.R. Martin. Nada está a salvo, e vale tudo. Anda uma pessoa a investir o seu tempo para ver as suas esperanças cumpridas apenas brevemente, e depois arrancadas cruelmente das suas mãos. Só me sentirei vindicada se isto trouxer mais desenvolvimento e exploração deste mundo.

Finalmente o Verão, Jillian Tamaki, Mariko Tamaki
Planeta Tangerina, obrigada por publicarem isto. Muito obrigada, que ando há uns bons tempos para o ler, e se houver mais alguém a publicar banda desenhada em português a este preço e qualidade, eu vou querer.

Finalmente o Verão é uma história sem propriamente princípio, meio e fim, sem conflito principal a ser resolvido, sem curva de crescimento e evolução óbvia. É uma história sobre um verão indistinto partilhado entre duas amigas, Rose e Windy, que se reencontram todos os anos em Awago Beach.

É uma história sobre os momentos calmos e quietos do Verão, sobre ir à praia e jantar no alpendre, ver as estrelas e passear de bicicleta. Podia ser o Verão de qualquer um de nós na infância ou adolescência. Intercalados com isto, temos alguns momentos que permitem vislumbrar um processo de crescimento, uma possível evolução das protagonistas pré-adolescentes.

Exemplos: os conflitos com os pais, o entendimento que os pais têm problemas que não sabem resolver, que às vezes estão tristes. Um vislumbre da sexualidade através do comportamento de alguns adolescentes de Awago, e como isso é misterioso e difícil de destrinçar. As primas Tamaki conseguem descrever brilhantemente o dolce far niente das férias de Verão, e a incerteza e insegurança da transição para a adolescência.

O uso da cor azul para desenhar e pintar é tão inusitado, mas resulta tão bem, num equivalente de preto-e-branco que consegue mostrar brilhantemente os cenários, as paisagens, mas também as pessoas, as suas expressões e emoções. É uma opção ganhadora, e visualmente fica tão encantadora e impressionante.

Zits em Concerto, Jerry Scott, Jim Borgman
Já leio estas tiras há algum tempo, e a coisa que gostava de destacar de momento é o modo como as coisas se mantém mais ou menos estáticas ao longo dos quase 20 anos, pois o protagonista Jeremy praticamente não muda; contudo, ao mesmo tempo, os autores têm conseguido incorporar o estado de coisas actual ao longo dos anos, mantendo-se bastante relevantes.

Gosto muito das tiras pelo conflito geracional, as diferenças que acentua entre o Jeremy e os pais, o modo como a tecnologia os influencia e condiciona a sua relação; mas também pelos eternos dramas e conflitos adolescentes - arrumar o quarto, sair à noite com a namorada, fazer os trabalhos de casa atempadamente... simples e clássico, mas consegue fazer-me continuar a ler.

4 comentários:

  1. Quero tanto ler os 3 primeiros e pelo menos o 1º e o 3º já os tenho, adoro as tuas opiniões sobre BD.
    Bejinhos****

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, querida! :D Espero que gostes, o 1º e o 3º são adoráveis, mesmo ao estilo de quem lê YA e fantasia, como nós; e o 2º é complexo, mas tão recompensador e delicioso de ler. Muito recomendados. ^_^

      Beijinhos e boas leituras!

      Eliminar
  2. Mal vi a capa percebi logo:é uma das autoras daquela BD Lumberjanes!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É isso mesmo! No Lumberjanes ela é só argumentista, ao que sei, mas a capa do primeiro número e primeiro volume foi feita por ela, e é mesmo o estilo bem reconhecível dela. :) Também me dei conta que já conhecia o trabalho dela, fez a capa do Fangirl, da Rainbow Rowell. :D

      Eliminar