Sandman v.9: As Benevolentes I, Neil Gaiman, Mark Hempel, D'Israeli, Glyn Dillon, Charles Vess, Dean Ormston
Sandman v.10: As Benevolentes II, Neil Gaiman, Mark Hempel, Richard Case, Teddy Kristiansen
Sandman v.11: A Vigília, Neil Gaiman, Michael Zulli, Jon J. Muth, Charles Vess, Kevin Nowlan
Sandman: Noites Sem Fim, Neil Gaiman, Glenn Fabry, Milo Manara, Miguelanxo Prado, Frank Quitely, P. Craig Russell, Bill Sienkiewicz, Barron Storey
Ah, é triste. Não gosto nada de perspectiva de não ter mais nada desta série por ler. Passei tão bons bocados com ela, diverti-me tanto, maravilhei-me com a quantidade (e qualidade) de coisas que comporta e com todas as ligações que faz... que até vai parecer estranho não ter mais uns livros dela nos próximos meses para ler.
Estes três volumes comportam a evolução natural da série para o seu fim inevitável, aquele que já se anunciava há muitas páginas. Talvez mesmo desde o início, ainda que não o soubesse. É como se o escritor tivesse (quem é que estamos a tentar enganar? de certeza que tinha) este fim em mente, e foi construindo o seu castelo, peça a peça, para cativar o leitor e depois fazer-lhe cair o castelo em cima, e o impacto ser maior. Estou oficialmente em luto desta série. (Bastante adequado, diria.)
A piada da coisa é que o personagem que é a modos que protagonista da série (é o nome dele no título, apesar do foco ir mudando um pouco) é a coisa mais... ingostável de sempre, resmungão, discreto, pouco aberto... e ainda assim, o Morpheus tem uma evolução a nossos olhos, é possível ver como a atitude dele muda ou se adapta à medida que a série avança; e o pensar de forma diferente faz com que haja uma certa inquietude na forma como age e se apresenta: e é isso que o faz tomar uma decisão drástica (ou nem tanto assim) no final. Tudo o que vimos antes contribuiu para isto, ainda que nada tivesse a ver.
As Benevolentes só peca por uma coisa: é um bocadinho longo. 13 números da revista de BD é um algarismo sugestivo, claro, e eu até tive sorte porque como dividiram o volume em dois isso acaba por quebrar a leitura; contudo, pergunto-me se não poderia ter sido contada de forma mais sucinta. (Arrasta um pouco, de vez em quando.)
Só não me queixo mais por uma coisa: porque o Gaiman e os artistas aproveitam para nos proporcionar o melhor volume possível. Do lado da escrita, indo buscar todos os personagens e mais alguns que tenham alguma vez aparecido na série. A sério, tanta gente. Foi bom rever tantos deles. Muitos só têm uma aparição (o Batman, o Clark Kent e o J'onn J'onzz aparecem no A Vigília), outros têm histórias tangenciais (foi muito bom poder rever a Rose Walker e a Nuala, mas até tenho pena de não saber como é que a Barbie está).
Também gostei muito da intervenção de outros personagens como o Matthew (grandessíssimo totó, lia uma série só com as aventuras dele), ou até do Coríntio, que dantes me arrepiava até mais não. A Delírio tem uma história um pouquinho triste, porque não acompanha o enredo principal - o que até pode não ser coisa má para a sua sanidade.
A Larissa - que conhecemos por outro nome - tem uma intervenção interessante, porque as suas acções são marcadas por um conflito de interesses. É a mulher que anteriormente tinha sido aludida algures no volume 7 como uma paixão que correu mal. E a revelação dá logo uma panóplia de camadas e significados, especialmente às suas interacções ao longo da história... fascinante, especialmente pelo feitio e postura de ambos.
Oh... mas há tanta gente que aparece e que eu de certeza que não vou lembrar de fazer menção. A postura da Morte por toda a coisa é muito interessante. O Hob Gadling, por exemplo, tem direito a uma história extra, depois da vigília, em que se reencontra com a Morte e reflecte no que aconteceu. A reacção de todos os Eternos durante a situação da Vigília também é curiosa de acompanhar... e gostava tanto de ver o que se passou a seguir a isso.
Destaque ainda para os artistas destes volumes: a arte principal de As Benevolentes é enganadoramente simples e colorida, mas muito cativante; e a de A Vigília é aquele estilo desenhado/pintado que eu gosto tanto de ver.
Em Noites Sem Fim, Neil Gaiman escreveu uma história para cada Eterno, com vista a ser ilustrada por um artista diferente. A primeira é para a Morte e é das minhas favoritas, sobre um dia que se repete eternamente, mas como mesmo assim, ninguém escapa à Morte. O segundo conto é para o Desejo, e tem uma perspectiva fascinante de uma mulher que usa o desejo na sua vida... mas é ilustrada pelo Manara, e começo a ficar enjoada dele. É tão omnipresente e o estilo é tão único mas tão imutável... eh.
O terceiro conto é sobre o Sonho, decorrendo muito antes da acção principal da série. É sobre uma espécie de conclave de divindades/seres míticos que guiam o universo, e é sobre uma amante do Morpheus que o abandona, e é sobre o feudo criado entre ele e Desejo. É muito bom. Alguns dos seres são estrelas que iluminam sistemas solares como o nosso, ou o de Krypton.
O quarto, bem, a arte não é bem a minha onda. Muito abstracta para mim. Mas alguns painéis deixaram uma impressão, especialmente depois de ler o texto que acompanha. Até conseguem deixar uma impressão, apesar de tudo. Apreciei-os mais intelectualmente na sua maioria, mas alguns conseguiram dar um bom retrato de Desespero.
E o quinto, bem, é sobre a Delírio. Tão alucinado como ela. Mas isso quer dizer que a arte também é bastante abstracta e me passou largamente ao largo. Dá para entender a história no fim, mas a compreensão foi-me algo dificultada pelo formato er, "estranho" de apresentar a narrativa.
O sexto é sobre o Destruição e é intrigante, mas parece um capítulo duma aventura menor e quase que soube a pouco. Merecia ser alargado e melhor explorado. E o sétimo é sobre o Destino. Sobre o seu papel no grande esquema das coisas. É muito giro pela sua simplicidade.
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