Opinião: Uau, isto é mesmo o estilo de livro que se está a tornar marca da Rachel Vincent, ultimamente. Curtinho, mas empacotando uma riqueza de material fantástica, um enredo preenchido e envolvente, temas fascinantes que colocam questões a debater, personagens que cativam e dão gosto de acompanhar.
Neste mundo, em cada ano e em cada área de emprego (gestão, trabalhadores, soldados, cientistas, artistas, ...), há um genoma que é trabalhado e replicado em números contidos ou vastos, conforme a área e as necessidades da cidade. Cada genoma gera assim uma unidade de gente, e cada pessoa dessa unidade usa a mesma cara, as mesmas características físicas, aproximadamente, mas um nome diferente, normalmente relacionado com o emprego para o qual vão ser preparados durante o seu crescimento, em adição a serem referenciados por um número que indica os anos que passaram desde o nascimento da unidade - a sua idade, por assim dizer.
Dahlia 16 tem, como o seu nome indica, 16 anos. Está na unidade de trabalhadores, a ser treinada para ser uma jardineira hidropónica. Para ela é reconfortante ser mais uma num mar de iguais. Porque todas as suas "irmãs" da sua unidade usam a sua cara, mas têm pequenas diferenças de personalidade, pequenas idiossincrasias. São as suas melhores amigas, as jovens com quem partilha a sub-unidade de jardineiras.
Mas Dahlia sente orgulho no seu trabalho, e questiona-se sobre o que a rodeia. Sabe que é uma característica não desejável - se for descoberta, pode vir a condenar a sua unidade. Uma imperfeição numa jovem pode ser uma imperfeição em todo um genoma, e um genoma defeituoso é "retirado" (três tentativas para adivinhar o que isso implica).
A narrativa começa a desenrolar-se quando Dahlia fica presa num elevador com um jovem soldado, e a sua curiosidade leva-a falar com ele, mesmo sabendo que é proibido. E uma série de encontros e uma curiosidade crescente levam a que Dahlia comece a descobrir uma série de segredos que explicam o mistério de Lakeview - porque esta cidade de genomas tem mais do que se lhe diga.
O título é uma homenagem clara a Brave New World, e de certo modo, a história em si também o é. Ambas as narrativas preocupam-se com a capacidade de criação da humanidade no que toca a manipulação genética, e como isso afecta a vida em sociedade - apenas o fazem de maneiras ligeiramente diferentes. De qualquer modo, as questões que Brave New Girl levanta são fascinantes.
Gostei muito de acompanhar a Dahlia através das suas dúvidas e daquilo que vai descobrindo do seu mundo. É curiosa, mas tem medo de condenar as jovens do seu genoma. E só quando a sua mão é forçada é que se lança à procura da verdade - a tragédia é um excelente motivador, e Dahlia fica determinada em saber o porquê.
Também gostei muito de poder levantar a ponta do véu e começar a descobrir o que realmente se passa em Lakeview, e a sua relação com as cidades envolventes. É pesado e assustador, mas adoraria saber o que levou a sociedade a instalar este sistema. Traz muitas questões sobre os direitos em sociedade de alguém como a Dahlia.
O final mostra que isto é só o início de algo grandioso; é quase cliffhangeresco, não por deixar os personagens em perigo imediato, mas por deixá-los à beira dum momento que adoraria ver desenrolar-se. Promete ser divertido. E está mesmo feito para vir a dar molho. Ah... lá vou eu ter de esperar mais um ano.
Páginas: 272
Editora: Delacorte Press (Penguin Random House)
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