Opinião: Este livro leva o crédito de me apresentar uma road trip que me satisfez verdadeiramente. Demasiadas vezes tropecei em histórias com road trips que resvalavam para o lado cómico, resultando numa história que não me captou muito o interesse. Aqui, a autora faz com esse conceito algo que suponho que esperava ver/ler há muito: a road trip como espaço de reflexão e crescimento, como mote para a evolução dos personagens.
É esse o ponto forte da narrativa. A autora escreve de modo a tornar a história viciante e impossível de continuar a virar as páginas, e a Camryn e o Andrew fazem um par de protagonistas muito cativantes. Adorei segui-los à medida que se esforçavam para encontrar um rumo, dois jovens perdidos e a tentar resolver os problemas que carregavam.
A Camryn no início irritou-me um pouco. Parecia ter aquela atitude superior "eu sou boa demais para isto" em relação ao que a rodeava, mas suponho que era uma maneira de não ter que se envolver. Quando se mete à estrada acaba por se tornar mais interessante. A sua evolução, o seu acordar para a vida - sexual e não só -, e os desafios a que se propõe trouxeram outra dimensão à personagem. Foi fascinante vê-la com o Andrew e o modo como se desafiavam.
Quanto ao Andrew, achei-lhe maioritariamente piada, porque bastantes coisas que lhe saíam da boca eram bem divertidas. (No entanto, tenho dúvidas em relação a algumas outras.) Achei curioso, o significado da tatuagem dele. É um pormenor engraçado que agradou a esta fã de mitologia. Dá para ver que o Andrew tem muita coisa que carrega para trabalhar, incluindo alguma raiva e revolta pela sua situação... mas admiro o facto de ter conseguido manter uma boa disposição ao longo da história, sempre pronto a puxar pela Camryn.
Isto leva-me à única crítica que tenho a fazer à história, que é o fazer caixinha durante demasiado tempo com a "grande revelação". É muito claro desde o início que há algo que faz o Andrew reter-se. A manutenção do mistério durante demasiado tempo só fez com que a minha imaginação começasse a inventar as piores hipóteses possíveis. Esteve na prisão? Morreu-lhe uma namorada? Foi abusado quando era criança? Está a morrer? Tem uma mulher louca escondida no sótão?
E não, não vou dizer se alguma destas hipóteses estava certa, e se sim, qual.
O problema com este arrastamento é que a revelação é feita demasiado tarde. Se tivesse sido apresentada mais cedo, era um óptimo conflito para a narrativa. Desta maneira, é apenas uma fraca tentativa de manipulação emocional do leitor. E pior, não é muito bem resolvida, na minha opinião. Uma espécie de deus ex machina e um salto temporal que evita lidar com as consequências dessa revelação? Pfff, acho que podíamos fazer melhor.
Quanto ao final, é curto, mas giro. Fofinho, até certo ponto. A leitura da sinopse do segundo livro deixa-me a pensar que a autora vai, er, desfazer o que fez. *medo* É o problema das sequelas. Para continuar a escrever com os mesmos personagens, temos de lhes arranjar mais sarilhos. Bem, suponho que faz sentido. A Camryn e o Andrew terminaram a história num bom lugar, mas ainda têm coisas para trabalhar.
Foi uma boa leitura. Daquelas fantásticas e que nos consomem por um par de dias até devorar por completo o livro. Mas sobre as quais não é possível elaborar muito sob pena de estragar o encanto.
Título original: The Edge of Never (2012)
Páginas: 464
Editora: Presença
Tradução: Fátima Andrade
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