domingo, 30 de março de 2014

Marcados à Nascença, Caragh M. O'Brien


Opinião: Gaia é uma jovem de 16 anos que está a treinar para ser parteira, como a mãe, e Marcados à Nascença começa com o primeiro parto que faz sozinha. Só que devido à imposição do Enclave, a cidade fortificada que domina a sua terra natal, Gaia terá que entregar o bebé, para que o Enclave lhe possa proporcionar uma vida melhor. Só que quando algo ameaça a sua família, Gaia começa a questionar aquilo que sempre conheceu, lançando-se numa demanda para ajudar os pais.

Este é um livro com uma base muito interessante. O aspecto reprodutivo, e as questões que levanta acerca disso, cativou-me. As entregas dos bebés, as dificuldades reprodutivas dentro do Enclave, os problemas genéticos por trás de tudo... é um bom fundo para uma história distópica, e um que não tenho visto muitas vezes.

Passei um bom bocado a ler a história. É de leitura fácil e viciante, assim que nos embala. E impossível não torcer pela Gaia, para que perceba os problemas por trás deste sistema, para que consiga ajudar os pais e escapar às garras do sistema. Gaia é uma heroína inicialmente deslumbrada com o Enclave, mas aos poucos vai descobrindo do que o Enclave é capaz, e é recompensador fazer essa viagem com ela.

Contudo... isto, nas mãos de um escritor mais dotado, podia ser tão melhor. Há uma falta de profundidade, de complexidade, até de intensidade, no desenvolvimento do enredo, dos personagens e até do mundo. Achei as relações entre personagens com a falta de aquele quê que me faz acreditar nelas. Nunca acreditei que o Enclave, este sistema totalitário perigoso, fosse realmente assim... nunca há realmente uma sensação de perigo. A Gaia foge e é apanhada uma série de vezes por eles, e geralmente escapa de maneiras tão parvas e tão parvamente simples que me pergunto como é que o Enclave ainda está de pé, sendo gerido por idiotas. Por vezes as coisas não são bem explicadas ou apresentadas com a clareza necessária, enfraquecendo a história.

Isto impede-me de ter gostado do livro, ou de vir a ler as sequelas? Não, porque fora isto gostei da história, até estou investida no decorrer dos acontecimentos e quero saber o que vem a seguir, o que a autora tem preparado para o resto da trilogia. Terminei o livro com uma boa sensação, e a experiência de leitura foi agradável. Mas lá que me entristece ver uma história que podia ser grandiosa, ser executada de forma insatisfatória, entristece.

Título original: Birthmarked (2010)

Páginas: 416

Editora: Everest

Tradução: Maria João Rodrigues

6 comentários:

  1. Eu ainda não terminei de ler, mas estou a sentir o mesmo que tu. Comparado com outras sociedades do género (ou até mesmo com a prisão do Incarceron), aquele Enclave é uma piada. À excepção da Gaia, não consigo simpatizar com ela, é tão ingénua e há alturas em que ela consegue irritar-me a sério! Até o suposto romance com o Leon está a ser muito sem sal.

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    1. Pelo menos a prisão do Incarceron era algo assustadora. xD Mas fazes uma boa comparação, ambos os livros são algo, er, "simples" na maneira como foram escritos, e podiam ser tão melhores. A diferença é que o Incarceron me irritou na maneira como estava escrito... este foi mais tolerável, e fiquei com vontade de continuar a ler.

      Mas sim, a Gaia é tão tapadinha... melhora ao longo da história, contudo o desenvolvimento de personagens podia ser mais complexo - também não sou a maior fã dela com o Leon, mais uma vez falta-lhes ali qualquer coisa.

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    2. Mas é que assim que comecei a ler e falaram no Enclave lembrei-me logo do Incarceron. A mim também me irritou, e a busca pela saída, que não andava nem desandava, irra! Falta profundidade aos dois, em muitos aspectos, neste principalmente às personagens. Ainda não encontrei nenhum com que simpatizasse realmente, são todas meh, sem nenhuma característica especial.

      Eu espero que melhore, e quero muito gostar do Leon, mas ela não me deixa! A relação deles é muito simples, nem faíscas há! Não tem graça assim :p

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    3. Sim, falta-lhes química, eu quero derreter com as cenas do casal, não resmungar "meh" cada vez que aparecem em cena. Gosto da ideia dos dois juntos, mas na prática não vimos cenas giras. :/ Talvez a penúltima e a última deles... :)

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  2. Só tenho a dizer que concordo com cada ponto!

    Quanto a comparação com o Incarceron... o Birthmarked não me irritou, o Incarceron sim mas concordo que o Enclave parece um grupo de anjinhos ao pé da prisão loool

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    1. Tinham muito a aprender com a prisão, os senhores do Enclave, ah se tinham. Talvez os devêssemos mandar para lá. xD

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