Opinião: Há tanto, mas tanto tempo que eu andava para ler Georgette Heyer! Mas caramba, as expectativas preocupavam-me, e a verdade é que ela tem tantos livros que uma pessoa não sabe por onde começar. E como se não bastasse, as únicas edições em português que existiram são de muito antes de eu ter sequer nascido, e impossíveis de encontrar. Portanto, o lançamento desta edição foi uma boa surpresa que me deixou bastante animada.
Parte do interesse na autora vem do facto de escrever romance histórico, e ser uma espécie de precursora do género; e parte pelas comparações a Jane Austen. No segundo caso, pude observar e perceber a comparação. A Georgette tem um sentido de humor fantástico a escrever, e isso ressoa do próprio sentido de humor da Jane.
E, além disso, a Georgette escreve maioritariamente no período Regência, no início do século XIX, que foi a época em que a Jane viveu. Se no caso da Jane, a contemporaneidade permite-lhe criar uma história e um mundo reais e credíveis, no caso da Georgette parece que ela era adepta de investigar extensivamente sobre aquilo que escrevia, e isso vê-se na maneira como escreve, como evoca a época e os costumes. Os personagens podem ser um pouco exuberantes, mas são produtos do seu tempo.
Passando ao livro: diverti-me tanto a lê-lo! Já disse por aqui que a melhor maneira de me cativar é um sentido de humor brutal, e o modo como a Georgette escreve e desenvolve o enredo e os seus personagens está cheio disso. Não há um fio de enredo que conduza a história, algo que seja o objectivo final da história e os personagens; em vez disso, o que a dirige é o dia-a-dia dos personagens, os pequenos dramas de sociedade.
Adorei a Sophy, uma jovem pouco convencional, pois foi educada fora da sociedade inglesa, o que lhe deu uma certa desenvoltura e um descuido saudável em relação às regras de sociedade; e é refrescante o contraste com os personagens que a rodeiam. Ela cria um impacto entre a sua família e amigos, e se no início esse impacto pode ser visto como negativo por alguns personagens, cedo se torna óbvio que a mudança que trouxe é para melhor. Pelo menos a família tem-se divertido e soltado mais.
É muito engraçado ver o evoluir das relações entre personagens; porque podem começar todos por estar comprometidos e quase-comprometidos uns com os outros, mas com as reviravoltas que a narrativa promete, bem, não vai tudo acabar da mesma maneira. Passei o tempo todo a divertir-me a prever os casais finais.
Achei muita piada ao enredo da prima da Sophy, a Cecilia, porque mostra-a volúvel, mas honrada, e susceptível a uns empurrõezinhos no momento certo; ri-me tanto com as manobras da Sophy neste ponto. Por outro lado, também achei piada à Eugenia, pela sua rigidez, e aonde isso a leva; e ainda mais à relação da Sophy com o primo Charles, de cão e gato, porque é tão óbvio aonde aquilo vai dar que mantive um sorrisinho no rosto o tempo todo.
E agora que penso nisso, encontro mais uma ligação na minha vida literária, entre a Georgette e outra autora que aprecio: a Meg Cabot. A Meg escreveu dois romances históricos mais a pender para o YA, mas que têm um tipo de escrita que poderia dizer que honra o estilo da Georgette Heyer. E mais, em Victoria e o Charlatão, o protagonista masculino chama à Victoria bruxa, acusando-a de gerir e manobrar a família como um general no campo de batalha, o que é totalmente a pinta da Sophy.
Enfim, foi uma óptima leitura, e estou muito contente por lhe ter pegado. Há muito tempo que ansiava por um romance histórico assim, mais old school, se posso chamar-lhe assim. É um romance charmoso, bem giro de acompanhar, com uma autora que se esmera na imagem que nos desenha da época, e com personagens deliciosos. Por favor, Asa, vá lá, publica mais um...
Título original: The Grand Sophy (1950)
Páginas: 368
Editora: Asa
Tradução: Helena Ruão
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