Capitão América: Sonhadores Americanos, Ed Brubaker, Steve McNiven, Giuseppe Camuncoli, Travis Charest, Ed McGuinness, Frank Tieri, Paul Azaceta
Acho que o mais fascinante de ler histórias, a este ponto, sobre o Capitão América, e digo isto especialmente por ser um personagem tão icónico e conhecido, é ver como os escritores e artistas conseguem construir sobre o que está feito e acrescentar pormenores e detalhes ao seu mito e à sua história, contribuir para adicionar mais um pouco à sua biografia.
Neste volume em particular, descobrimos que uma equipa que trabalhou com Steve Rogers durante a Segunda Guerra Mundial ficou presa durante uma missão num mundo sonhado ou imaginário, mutável na presença e desejos dos seus habitantes (um pouco à Inception, eu diria). E assim ficaram, presos fora do tempo até aos dias de hoje, em que voltam com um intuito vingativo.
A história é cativante, o enredo corre bem sem engasgos, e até tem os seus momentos engraçados. É capaz de ser a primeira vez que vejo a Peggy Carter nos quadradinhos, e adoro um momento em que a Sharon diz algo do género "espera aí, roubaste a tia Peggy a outro homem???" ao Steve. A singularidade do momento é algo de nota. (Tendo em conta que a Sharon está ou esteve ou ainda está, I don't know, não tenho vida para seguir assim tão bem a vida amorosa dos personagens de comics, envolvida com o Steve.)
O volume tem ainda algumas histórias extra, de um número comemorativo, uma de uma página sobre a essência do personagem; outra sobre um momento em que se debate sobre se deve voltar a usar o uniforme; e a última sobre um clone de alguém que o Capitão conhece muito bem, e que fez muito mal - aqui a perspectiva é sobre se esta pessoa deve ser condenada por algo que ainda não fez, e talvez nunca venha a fazer, mas que o seu, er, original fez. Muito bem apresentado, o dilema.
Wolverine: Ilha da Morte, Frank Cho
Curiosamente, acabei a gostar bastante desta história. Não é nada o meu estilo, porque não costumo ler coisas com o Wolverine por aí além, e uma narrativa na Terra Selvagem também não me puxaria. Mas acabou a ser uma bela surpresa.
Combinando um estilo de aventura à Indiana Jones, ou à filme de sábado à tarde na TV, que puxa à nostalgia, com alguns elementos sobrenaturais e um cenário na selva que é mais ameaçador que encantador, acaba por ser muito divertida, com o seu quê de acção.
Gostei tanto de acompanhar os sarilhos em que o Wolverine e a Shanna se metiam, especialmente porque metade derivava de eles discordarem num curso de acção, e irem por caminhos diferentes sem se combinarem. (Mas também era assim que metade das situações se resolviam.) Fiquei curiosa por ver de onde este personagem do Amadeus Cho apareceu, porque acho que nunca o tinha visto, portanto assumo que é um personagem muito pequeno, ou então nunca tropecei em histórias em que ele apareça.
Gosto da reviravolta sobrenatural da história, e como afecta o percurso dos personagens. Não gosto do fato da Shanna, porque passei metade do livro a pensar como é que aquilo funcionava, se fosse só uma tira de pano à frente e atrás, sem ligação, era doloroso expor tanto os genitais, mas depois percebi pelo desenho que afinal é uma espécie de bikini por baixo. E assim, meus senhores é que se descobre os uniformes mais mal concebidos. Se o leitor tem de parar para pensar na exequibilidade da coisa, é porque não está bem feita.
O final é super interessante, pela ameaça que sugere; mas ao mesmo tempo frustrante, porque fica para resolver noutro livro, e é sempre isso que me aborrece nos comics, o não poder ler logo a seguir quando fico (muito ou pouco) pendurada. A arte, essa, bastante agradável ao olho, com uma planificação de vinhetas e pranchas pouco usual, mas que me cativou.
Demolidor: Partes de um Todo, David Mack, Joe Quesada, David Ross
O Demolidor não é um personagem que eu tenha lido muito, mas parece-me bastante mais interessante, pelos temas e ideias na base do personagem. E felizmente, tenho apanhado alguns livros que o confrontam com essas ideias e temas, histórias que mostram bem a sua essência.
Neste livro, os autores juntam-no com uma jovem que será o seu par ideal. Gosto do argumento e da ideia que um bom par para o Matt Murdock terá de ser alguém que entenda o que ele enfrenta todos os dias, uma combinação de uma incapacidade com uma capacidade extraordinária. E nesse aspecto, a Eco é fantástica, com uma incapacidade e uma capacidade que se complementa com a do protagonista.
Só que as coisas não são assim tão fáceis, pois não? Especialmente para o Demolidor, que parece ter um azar enorme com as mulheres, e parece-lhe ser impossível manter uma namorada por um período prolongado de tempo. Aqui, a interferência vem de Wilson Fisk (quem mais?), o Rei do Crime (esse tipinho que parece estar sempre a jeito para lixar a vida do Matt, mas adiante), que lança a Maya contra o Demolidor numa missão de vingança, sem ela saber que o super-herói e o homem por quem se apaixonou são a mesma pessoa.
Gosto mesmo da forma incomum como a narração é feita, a três vozes, dando espaço para os três personagens contarem o seu lado. E mais importante ainda, apreciei como a arte é usada para ajudar essa narração pouco habitual a transmitir algo ao leitor; é muito interessante como tenta mostrar a perspectiva do Matt e da Maya, vivendo com uma incapacidade. Fascinante de observar, a arte conta a história como poucas vezes vi fazer.
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