Opinião: Há um ano comecei a opinião do primeiro livro desta série abordando as comparações entre esta série e a do Harry Potter, e tendo em conta que estou a meio de ler a última das duas, sinto que posso comentar mais qualquer coisa acerca desse assunto.
E que posso eu dizer, à medida que tenho avançado nas duas? Cada vez mais é aparente que elas nada têm a ver. A série do Magisterium pode lembrar os primeiros livros do Harry Potter, talvez. Porque ambos têm uma faixa etária alvo semelhante, e porque são bastante incipientes, simples, ainda bem no início e com poucos detalhes. Mas mais para a frente, a J.K. Rowling é uma deusa dos detalhes e pormenores e do enredo complexo e bem orquestrado, ao ponto de dar vontade de chorar. (De inveja e de reverência, quero dizer.)
Quanto a esta série, apesar de ser bastante derivativa e partilhar algumas semelhanças, é um cavalo de batalha bem diferente. É muito mais simples e não tenta propriamente não sê-lo, e não tenta ser algo que não é. É o que é, e consigo apoiar isso.
Quero com isto dizer que realmente o enredo é bastante simplório neste livro. Por um lado aprecio que as autoras não fiquem presas à estrutura rígida dos anos escolares para guiar a narrativa, porque as constrangeria no desenvolvimento da história, e porque assim podem mostrar uma fatia da vida dos personagens, sem termos de ver o ano todo, sem se sentir obrigadas a mostrar as aulas e outros momentos potencialmente aborrecidos.
Por outro, fico a perguntar-me se vamos ficar sempre sem ver o concluir do ano lectivo, sem os personagens ganharem o direito de passar para o ano seguinte. Fiquei com a sensação que era uma coisa mais importante no livro anterior, e aqui é um pouco posta de lado. Além disso, a questão das aulas também tem o seu interesse, porque eu gostei do sistema de magia e gostava de saber mais sobre ele.
Este livro lida com a revelação que o Callum encontrou no livro anterior, e segue um caminho bem interessante com isso. Achei amoroso ele estar sempre a fazer uma contagem dos seus actos, e de quão "Senhor do Mal" eles eram. O Call debate-se com o horror da pesada herança que tem, de descobrir quem é e quem não é, e do quanto aquilo que já foi condiciona aquilo que é. É uma luta cativante de ler e gosto que as autoras estejam a tentar explorar esta questão.
Além disso, isto põe uma tensão na narrativa, sobre se o Call vai contar aquilo que sabe aos amigos, se confia neles o suficiente para se expor, e isso também é muito giro de acompanhar. O próprio livro lida com a relação que o rapaz tem com o pai, muito complicada pela "questão principal", e parte do enredo envolve o que parece que o pai, Alastair, está a tramar - e o fino equilíbrio que é preciso para tentar pará-lo sem ter de revelar já o grande segredo.
Continuo bastante intrigada com o sistema de magia, já o disse, mas até é coisa que não foi tão evoluída como gostaria. Foi-o mais no modo como se relaciona com a "grande revelação". No entanto, tudo o que envolve Constantine Madden e o que ele fez para atingir a grandiosidade e a imortalidade é fascinante e muito importante para a narrativa. Gostei de ver a parte final, com o covil do Constantine, e de como os acontecimentos mudam um pouco o status quo, e as alterações que isso trará para o Call.
Quanto a personagens, o livro também é mais simplório no desenvolvimento detalhado e complexo dos mesmos, contudo, tendo em conta que eu tenho uma queda por personagens bem desenvolvidos, até fiquei satisfeita com o que li. Os personagens são mais arquétipos com que as autoras estão a brincar, subvertendo as expectativas acerca deles aos poucos. Faz sentido tendo em conta a faixa etária, e mesmo assim tem um pouco de criatividade na maneira como é desenvolvido.
Já disse que achei bem adorável o modo como o Call se preocupava com a sua natureza, e acrescento que adoro o cão Ruína, que tem a sua personalidade e é tão parte do grupo como qualquer outro. A Tamara e o Aaron não parecem ter um desenvolvimento extraordinário, além do que envolve a "grande revelação" (e mesmo assim eu queria mais e melhor); já o Jasper, anteriormente o rufia irritante de serviço, torna-se um aliado relutante e gostei de como lentamente ele se juntou ao grupo.
E pronto, não é uma obra prima nem nada de extraordinário, até porque conheço o resto das coisas da Cassandra e estas vão mais de encontro ao meu gosto, em vários aspectos; mas posso dizer genuinamente que gosto muito do que este par de autoras tem feito até agora e das ideias que têm apresentado. Só a subversão dos clichés já lhes merece um louvor; em adição é uma história bem gira e que envolve o leitor. Não peço mais que isso.
Título original: The Copper Gauntlet (2015)
Páginas: 280
Editora: Planeta
Tradução: Catarina F. Almeida
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