sexta-feira, 8 de julho de 2016

Fangirl, Rainbow Rowell


Opinião: Acho que nesta releitura vou remeter para a minha opinião original, porque essencialmente tudo o que disse ali, ainda se aplica. Continuo a gostar daquilo que gostei, o que o livro me disse na altura ainda é capaz de mo dizer agora.

Não é um sinal de estagnação, mas sim um sinal de um favorito, fixo no céu como uma estrela, sempre pronto a oferecer conforto quando dele precisamos. Gosto bastante do que a Rainbow faz nos seus livros e este é especial entre eles.

Quero só acrescentar algumas considerações acerca de traduções, que esta em particular me suscitou. Tenho pena que a maior parte dos tradutores em Portugal traduza (assim mo tem parecido até agora) o que tem à frente sem olhar ao contexto, sem consideração pelo conteúdo do texto que tem à frente. Tomando o contexto, as coisas não seriam traduzidas literalmente, e creio que muitos dos erros de tradução partem daqui.

Outra coisa que me desaponta é a tradução sem uma noção de conhecimento sobre a sociedade que é explorada no livro traduzido. Ninguém pensaria em traduzir o Anna Karenina do russo sem entender a sociedade russa do século XIX; mas pelos vistos qualquer um pode traduzir livros do inglês com o mínimo esforço. *suspiro*

Nem sequer é que as pessoas façam exactamente um mau trabalho, em si, mas... sei lá, tenho alergia a falta de empenho e/ou brio no trabalho que se faz. O exemplo deste livro nem sequer é dos melhores, porque na sua maioria, não tive razões de queixa, e faz um bom trabalho. Mas tem duas ou três ocasiões que me levaram a estas considerações acima, que nem sequer são bem sobre este livro em si, são sobre o panorama geral em Portugal - e no entanto, o livro faz indubitavelmente parte dele.

Uma, durante uma conversa entre a Reagan e a Cath, a primeira pergunta algo do género "sois gémeas verdadeiras?" Er, não, não e não. Ninguém desta idade e geração usa esta forma verbal. E realmente ela não é usada durante o resto do livro. Estou pronta a aceitar que seja um problema que não foi corrigido na revisão. (Que é um problema em si em Portugal, mas enfim...)

Dois, "repas"? Er, há algum problema com a palavra "franja"? Eu sei que é usado no contexto da aparência de um rapaz, mas parece-me que podemos dizer que um rapaz tem franja. Em alternativa, farripas de cabelo era mais adequado, mas enfim. Faz comichão quando se metem a usar termos semi-obscuros (ao menos nunca me vou esquecer da Parúsia por causa disso) só porque sim, e não sem uma boa razão para tal.

Três, há por ali uma expressão que diz algo como "um corpete seco". Oh, céus. Esta até me dá vontade de chorar. O original tem a palavra "corsage", que é um ramo de flores, especificamente um usado nos bailes de finalistas americanos pelas raparigas. Pois. Corsage, não corset. Um corpete seco não faz sentido algum, mas um ramo de flores seco já faz. Daí os meus comentários sobre entender algo da cultura que se está a traduzir.

E pronto, como eu disse no todo a tradução é bastante decente, mas basta eu apanhar duas ou três destas, para ficar frustrada. Fico especialmente frustrada porque o resto até é um bom trabalho. E portanto, leva por tabela, ainda mais quando a frustração se vai acumulando ao longo de vários livros anteriores.

Acaba por ser por estas coisinhas que eu acabo a ler mais em inglês. Não consigo desligar a leitora em inglês quando leio em português, e por isso na maior parte dos casos prefiro não ter alguém a intermediar a minha compreensão do texto, especialmente se é para me dificultarem a vida. Venha o próximo e que não me complique tanto a leitura.

Título original: Fangirl (2013)

Páginas: 448

Editora: Chá das Cinco (Saída de Emergência)

Tradução: João Seixas

2 comentários:

  1. Ainda é pior quando já conheces a voz da autora e neste caso até das personagens no original, e depois lês em português e .... yikes. Soa tão mal.
    Até tinha ideia que o corsage já era reconhecido no português, tipo como bouquet. Mas oh meu deus sim, claramente quem fez a tradução estava a dormir, corset e corsage nem sequer são a mesma coisa. Até o google translator fazia melhor. Se bem que esse problema dos tradutores por vezes nem ligarem ao contexto deixa uma pessoa a pensar que se calhar foi o Google a traduzir.

    Estamos a falar disto e nem de propósito estás a ler o Tower of Thorns o que me lembra que quando postei no meu blogue que ia sair a versão tuga, uma pessoa queixou-se logo que a tradução da série não anda muito boa. :/

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    1. I know! Os piores livros são esses. Quando pensas "dafuq did I just read???" Acho que não tenho apanhado nenhum recentemente, felizmente. Mas não deve faltar muito, é o meu karma.

      Loool metade das vezes eu fico mesmo a achar que eles metem no Translator o texto todo e está a andar. Jasus, às vezes há com cada frase mais revirada... xD

      Epá, eu já ouvi tanta gente queixar-se da tradução do primeiro da Juliet, mas ou eu estava dopada, ou não me incomodou nadinha quando o li. E eu sou tão picuinhas com isto! Mas não me lembro sequer duma ocasião em que tivesse implicado com o livro.

      Eh, se calhar estava tão enlevada com estar a ler a Juliet que nem reparei. Ou nem o pior tradutor do mundo ma poderia estragar? I don't know. Por acaso não tenho nada razões para confiar ou gostar da tradutora da Juliet, mas nem neste segundo livro eu achei razão de queixa. Estou a perder qualidades. :P

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