Sandman v.5: Um Jogo de Ti, Neil Gaiman, Shaun McManus, Colleen Doran, Bryan Talbot, George Pratt, Stan Woch, Dick Giordano
Sandman v.6: Fábulas e Reflexões, Neil Gaiman, Bryan Talbot, Stan Woch, P. Craig Russell, Shaun McManus, John Watkiss, Jill Thompson, Duncan Eagleson, Kent Williams
Sandman v.7: Vidas Breves, Neil Gaiman, Jill Thompson, Vince Locke
Sandman v.8: A Estalagem no Fim do Mundo, Neil Gaiman, Michael Allred, Gary Amaro, Mark Buckingham, Dick Giordano, Tony Harris, Steve Leialoha, Vince Locke, Shea Anton Pensa, Alec Stevens, Bryan Talbot, John Watkiss, Michael Zulli
Ahhhh e as histórias recheadas de referências e cruzamentos entre pontos deste mundo riquíssimo continuam... a sério, é uma delícia encontrá-las. Ver personagens reaparecer, comentários de passagem explicados, momentos mencionados revisitados em flashbacks. Toda uma panóplia de coisas que faz parecer que estava tudo planeado desde o início. (Mesmo quando não estava.)
Os melhores autores fazem-no. Criam um mundo tão rico e vasto, e começam a criar ligações entre pontos afastados dele, e introduzem à-partes para ser explorados mais tarde. Faz tudo parecer uma tapeçaria gigante que o autor tece, partes diferentes em momentos diferentes. E o todo é fantasticamente coeso.
Além disso, as referências! De babar. O Neil Gaiman mete tanta coisa de mitos e lendas e dá-lhe a sua própria interpretação, e mais importante, estabelece uma ligação íntegra entre elas. Quem nunca tivesse ouvido falar delas acreditaria que isto pertencia tudo ao mundo do Sonho. E a cultura que é preciso para juntar isto tudo e fazer um todo coerente... impressionante.
O quinto volume, Um Jogo de Ti, segue uma personagem que tínhamos conhecido no segundo volume, a Barbie, já sem o seu Ken. (O Ken trocou-a pela... "Sindie". Eh.) Como nesse volume, este foca-se numa protagonista feminina e explora mais aspectos do mundo do Sonho e como ela se relaciona com eles.
E caramba, que história pesada. Fascinante, mas acontece tanta coisa... a relação da Barbara com o mundo do Sonho é bem diferente. Quando era criança habitava esse Mundo, e era princesa de um reino, a escolhida para o salvar. Barbara vai reencontrar-se com ele, mas as coisas não são bem como ela imagina, e um novo conceito do Sonho pode ser a maior ameaça de todas.
Achei fascinante a exploração desta história e dos conceitos que porta, mas também gostei muito das suas personagens. A Barbie, a Wanda (fico com pena de não a vermos mais), a Hazel e Foxglove, a Thessaly (que eu espero ainda vir a ver no futuro nestas histórias)... todas ocupam o seu lugar na narrativa, e curiosamente todas encarnam um aspecto diferente de feminilidade.
Fábulas e Reflexões, o sexto, é mais um volume de contos e histórias curtas que exploram várias facetas do mundo do Sonho. Medo de Cair sobre como um encontro com o Morpheus inspira alguém a sair da sua zona de conforto.
Três Setembros e um Janeiro dá dimensão a uma personagem pouco conhecida, o Imperador Norton dos EUA. Só mesmo o Neil Gaiman para dar um destaque tão giro e respeitoso a tal coisa. Adoro como incorpora a Desespero, e o Sonho, e Desejo, e até a Morte, obviamente, no seu percurso.
Termidor revisita a personagem da Johanna Constantine, que executa uma missão para o Morpheus na França do Reino do Terror de Robespierre. Again, quem é que se lembra destas coisas? Só o Gaiman para melhorar a nossa cultura geral. Gostei de ver a interacção da Johanna com Robespierre e com a França desses tempos, e achei interessante aquilo que lhe é pedido para fazer.
A Caçada: sob o formato de uma história dentro da história, conta com mais algumas aparições de habitantes do Sonho, e conta com uma pequena revelação no fim muito gira. Agosto: sobre o Imperador Augusto, os rumos que tomou (e que o Império Romano tomou), e como um dos Eternos influenciou o seu caminho. De novo, uma pequena parte da História é apresentada de forma tão fascinante que me dá vontade de ir pesquisar sobre ela.
Lugares Instáveis: Morpheus cruza-se com Marco Polo, enquanto este se vê perdido num deserto, no início das suas aventuras. A Canção de Orfeu: sobre o único filho de Morpheus, é o Orfeu da mitologia grega. A sua história decorre mais ou menos como conhecemos, mas com pequenas modificações, derivadas de pertencer à família dos Eternos. Muito interessante, pela relação complicada entre pai e filho. E por ser a base para o que se vai desenrolar no futuro.
O Parlamento das Gralhas: sobre o que acontece quando um bebé adormece (e acabei de perceber que o bebé deve ser o filho duma grávida que o Sonho salvou há uns volumes atrás) e vai parar ao Sonho. Conhece Eva, Caim e Abel, e eles contam-lhe histórias, que são um pouco sobre as suas próprias histórias. Acabo sempre a morrer de pena do Abel quando ele aparece, porque fazendo jus ao nome, acaba sempre perdido na violência às mãos do irmão. Eles parecem amar-se, mas depois o Caim vira psicopata e bem, acaba sempre mal. E recomeça. E pronto, este volume é um excelente exemplo de quanta coisa boa e interessante o Gaiman mete no seu mundo, e quão bem elas soam juntas.
O sétimo volume, Vidas Breves, explora finalmente o irmão desaparecido, Destruição. A Delírio, que o adora, quer encontrá-lo, mas Desespero e Desejo não estão com vontade de ajudar; vai pedir ao Morpheus, que não parece muito inclinado a ajudar, mas acaba por embarcar no esforço.
Coisa fascinante número um: eles estão a fazer caixinha comigo!!! Todas estas referências sobre o Sonho ter o coração partido por causa duma mulher, mas ela ainda não foi apresentada, não sabemos o que aconteceu. E número dois: a maneira como a relação da Delírio e do Sonho evolui. Adoráveis. Aliás, gosto bastante de como alguns dos irmãos se relacionam. Eles e a Morte reagem muito como irmãos uns com os outros. Bem fofo.
Número três: uma alusão à maneira como a Desespero assumiu o lugar. E número quatro: a maneira como esta família é absolutamente disfuncional e lida com os seus "deveres". É sempre uma delícia ver a sua história a decorrer ao longo destes volumes. O fim deste marca uma viragem irreversível na sua história, é bastante fácil de ver, e temo que nada mais será o mesmo, que a tragédia esteja ao virar da esquina (especialmente depois de ler o fim do oitavo volume).
O oitavo volume é A Estalagem no Fim do Mundo. Mais um livro de contos que sobe para o próximo nível, explorando a natureza das histórias, frequentemente introduzindo histórias dentro de histórias, ou histórias contadas em segunda mão, um artifício potencialmente difícil de usar, mas bastante claro no modo como aqui é apresentado. A Estalagem é um local, algures parte do Sonho, onde entram viajantes de todo o tipo, perdidos nas suas viagens; e a premissa do volume é que esses viajantes contam histórias para passar o tempo.
A primeira história é Ramadão, que não é bem parte deste volume, tradicionalmente é do sexto. (Imagino que passou para aqui para equilibrar o tamanho dos volumes.) É tão gira, tão colorida e bem desenhada (adoro o traço), e uma que pertence verdadeiramente ao mundo do Sonho, inspiradora e etérea. Segue Um Conto de Duas Cidades (outra com traço e cores visualmente fantásticos) sobre a natureza das cidades. Assombrosa e claustrofóbica.
Gostei mesmo de O Conto de Cluracan, por explorar um personagem que já conhecemos anteriormente, e porque o local que ele visita dá a sensação de ter uma história riquíssima, da qual só nos é apresentada uma fracção. Senti vontade de a explorar melhor. O Leviatã de Hob também me agradou, pela história pessoal do Jim, mas também pela aparição do Hob Gadling, que já conhecemos doutras andanças. E pela história-dentro-da-história apresentada, e pela reflexão sobre certas coisas extraordinárias.
O Rapaz Dourado: acho que apreciaria mais se conhecesse o personagem doutras andanças. Creio que faz parte do universo DC e foi aproveitado pelo Gaiman para este conto. Gostei de ver como o Sonho e a Morte são desenhados aqui. Mortalhas: cheio de histórias-dentro-de-histórias, apresenta outra cidade que gostava de ver melhor explorada. Parece fascinante. (E o Destruição aparece! E descobrimos com ele mais um pouco da história dos Eternos.)
Ah, este conceito da Estalagem é fascinante. (Já agora, a estalajadeira é alguém que suspeito que já conhecemos [Astarte/Ishtar].) Mas pesada mesmo? É a parte final deste livro. A natureza da tempestade que trouxe estas pessoas à Estalagem é clarificada um pouco, abordando a natureza da realidade... e os visitantes da estalagem vislumbram um velório no céu, e vemos tanta gente conhecida, e é impressionante de ver, e céus, this does not bode well. Até tenho medo de continuar a ler. A expectativa diz-me que coisas boas não vêm nesta direcção.
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