She-Hulk v.1: Law and Disorder, Charles Soule, Javier Pulido, Ron Wimberley
Acho que nunca tinha lido nada da Jennifer Walters/She-Hulk, e por isso foi uma surpresa ver o quanto gostei desta história. Poderia compará-la ao recente Hawkeye, no sentido em que mostram ambos o dia-a-dia de cada herói, o Clint Barton na sua tendência para se meter em sarilhos, e a Jennifer no seu trabalho de advogada.
E acabou por ser um arco narrativo muito divertido de acompanhar. O argumentista faz um bom trabalho a descrever o meio da advocacia (ao que parece por experiência própria: é advogado), introduzindo um bom balanço de anedotas (como os advogados e patrões da Jennifer no início), e de burocracia no seu lado humorístico. Intercalados, claro, com um pouco de acção aqui e ali, relativa aos sarilhos em que a She-Hulk se mete.
Adorei a Jennifer pela sua personalidade, bem-humorada, impulsiva, confiante, forte e decidida; é uma delícia acompanhá-la. Oh, e destaque ainda para um aparição do Daredevil em certo ponto, foi um bom momento da história.
A arte, bem... Já tinha contactado com o Javier Pulido em Hawkeye, e se ali perdia em comparação com o David Aja, aqui ganha na comparação com o outro desenhador. Há qualquer coisa que me desconcerta na maneira como desenha, mas entranha-se. O seu estilo adequa-se à história à personagem e à história, sendo leve e fresco, e arrisca-se mais que em Hawkeye, fazendo umas coisas interessantes com o planeamento das pranchas, principalmente nas cenas de acção.
Do outro desenhador, Ron Wimberley, não gostei nada. O seu estilo é muito cheio de traços, um pouco estranho, e pior, delineia as sombras. Não as pinta a tinta, só as delineia, o que no resultado final fica bizarro, quando temos uma coisa, por exemplo, como uma sombra/mancha destas na cara da Jennifer, delineada, mas que depois é da mesma cor do resto da cara.
Marvel 100th Anniversary Special,
Jen van Meter, Sean Ryan, Robin Furth, James Stokoe, Andy Lanning, Ron
Marz, Joanna Estep, In-Hyuk Lee, Jason Masters, Gustavo Duarte
A premissa deste volume é curiosa: acompanharmos um possível número de uma revista de vários super-heróis (ou equipas) no seu centésimo ano de publicação: entre eles, o Quarteto Fantástico, o Homem-Aranha, os X-Men, os Vingadores e os Guardiões da Galáxia.
Creio que a qualidade dos números não é equilibrada: aceito a lógica de alguns dos números fazerem de conta que são o final de arcos longos que estavam a ser contados naquele ano, mas há histórias que se compreendem melhor nesse aspecto, outras pior, e quanto mais referência faziam a acontecimentos passados (mas que são do nosso futuro), pior. Algumas são sem consequência, ou apenas um repetir dos temas que os heróis já representam; preferia que fossem mais uma reflexão sobre o papel dos respectivos super-heróis nesse futuro imaginário.
O número do Quarteto Fantástico acompanha um grupo de jovens, netos dos heróis (e vilão) originais, como exploradores espaciais que se cruzam com a oportunidade de trazer de volta o passado da equipa. É uma história gira, mas o Quarteto é das equipas que menos conheço e com a qual tenho menos ligação, por isso foi-me difícil importar com o que estava a acontecer. Ainda por cima a história acaba num cliffhanger demoníaco e quase inexplicável, não fossem um par de menções nas histórias mais à frente. O unico ponto a destacar é uma Sue/Mulher Invisível já idosa mas ainda badass.
O número do Homem-Aranha pega no Venom e postula a ideia de o simbionte ter sido melhorado com tecnologia; pelo meio, o Rei do Crime tenta apoderar-se dele e o Peter tenta travá-lo. É uma história que também não me disse muito (para além de: o Venom outra vez?), não adiciona muito de novo ao herói nem traz nenhuma nova reflexão sobre o seu papel. A arte é gira, em estilo pintado e hiperrealista.
O número dos X-Men começa bem, com a ideia que os mutantes mudaram a percepção de parte da humanidade, ao ponto de o Scott Summers chegar à presidência dos EUA. Só que depois a história esquece-se do potencial que isso tem e deriva para território bizarro, com o desaparecimento súbito de vários dos heróis e uma intervençãozinha da Fénix. Não gosto da lógica de "vamos desafazer o passado para salvar o futuro", e soa tudo a fanfiction na maneira como termina, porque nem eu acredito que se desfizesse a continuidade dos X-Men daquela maneira. O ponto alto é vermos o futuro de alguns dos mutantes jovens que acompanham o Ciclope no presente.
O número dos Vingadores pega na ideia de que o território dos EUA desapareceu na Zona Negativa depois de uma tentativa de invasão falhada dos Badoon. Tendo em conta que não estou familiarizada por aí além com nenhum, nem com o antagonista que os personagens encontram, foi mais uma história que me passou ao lado. Achei interessante as ideias que permitem que a Rogue, o Doutor Estranho e o Beta Ray Bill façam parte da equipa, e ainda mais interessante a situação do Homem de Ferro. Mas achava bem mais cativante se acompanhássemos o Capitão América na incursão pela Zona Negativa, como é mencionado que ele está a fazer.
O número dos Guardiões da Galáxia é aquele que vale pelo livro todo, porque é simplesmente fabuloso, uns furos acima das outras histórias. (Talvez pela presença de um dos criadores da equipa de 2008 no argumento, Andy Lanning.) É uma história que flui bem, simples, envolvente, que evoca os Guardiões do presente no futuro. Adoro as pequenas alterações na equipa e nos personagens - a Gamora é agora o Star Lord - que está presumivelmente morto -, o Drax e o Groot evoluíram na aparência e poderes, e o Rocket tem três filhos, perdão, sobrinhos, os Racoons, que são as coisas mais adoráveis de sempre, e que herdaram o gosto do pai, erm, tio pelo armamento. Há ainda aparições de Knowhere, do Galactus (que evoluiu de maneira intrigante), e dum arauto que pertence ao passado dos Guardiões. A arte é muito adequada à aventura no espaço e adorei.
Black Widow v. 1: The Finely Woven Thread, Nathan Edmondson, Phil Noto
Lá estou eu outra vez com as comparações, mas este título também é como o Hawkeye e o She-Hulk, no sentido em que acompanhamos a Viúva Negra no seu dia-a-dia. Que no seu caso, passa por viajar pelo mundo a fazer coisas de espião.
Apreciei bastante o desenvolvimento do enredo, cheio de intriga, perigo e acção, com uma boa evolução e equilíbrio. A evolução da protagonista, a Natasha, está bem delineada: a personagem quer expiar o que fez no passado, e aceita trabalhos tendencialmente bons no sentido moral, para compensar as vítimas dos seus actos passados. Gosto da sua narração sobre o trabalho de espionagem, e da relação que desenvolve com o gato que ronda a sua porta quando está em Nova Iorque.
A arte vai ficar como das minhas favoritas, fotorealista, em estilo pintura, muito bonita e cativante, foi uma delícia acompanhá-la.
Moon Knight v. 1: From the Dead, Warren Ellis, Declan Shalvey
Não conhecia nada deste personagem, de todo. A razão pela qual quis ler este livro foi por ter visto algures uma boa opinião, e o que era dito me fez ficar curiosa o suficiente para me arriscar na leitura. E foi uma boa aposta: cada número contido no livro é uma história stand-alone, e os criadores fazem um óptimo trabalho em caracterizar o personagem bem o suficiente para os que não estão familiarizados com ele.
E é um personagem fascinante de explorar. Um homem que ressuscitou por obra de um deus egípcio, Khonshu, procura vingança contra os que atacam pessoas que viajam à noite; a noite é o seu elemento, e caça os predadores. Tem perturbação de personalidade dissociativa, que é apresentada de forma subtil e intrigante, mas o que faz dele um personagem que nos faz questionar a sua sanidade é o modo como se lança no perigo sem hesitar, caçando os criminosos sem preocupação consigo próprio: Marc Spector está sozinho no mundo, isolado, como é mostrado subtilmente ao longo da história.
A Nova Iorque aqui apresentada é escura, sombria, arrepiante, tanto dominada por um assassino em série como por acontecimentos sobrenaturais. As histórias são variadas, mas envolventes, criadas de forma que destaca o trabalho dos artistas.
E que trabalho esse. O desenhador tem oportunidade de mostrar um repertório completo, entre o submundo novaiorquino, uma aventura psicadélica, ou fantasmas violentos. Há uma ocasião em que o trabalho de um sniper é apresentado duma forma visualmente estimulante, que elimina as vítimas da prancha até esta ficar em branco.
O trabalho de cor é lindo, cativou-me o olho, é versátil, e com opções fantásticas a nível visual, tanto no uso predominante duma cor conforme a aventura, como na escolha de não pintar o Moon Knight de todo, o que só destaca ainda mais o seu uniforme. Fiquei fã.
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