Título original: All-American Girl (2002) / Ready or Not (2005)
Páginas: 296 / 336
Editora: Bertrand / HarperTeen (HarperCollins)
Tradução: Isabel Valente / não aplicável
Já não me lembrava de quanto gostava destes livros e do quanto eles me divertiam. A Samantha Madison, com os seus dramas e inseguranças, é fascinante de acompanhar, e adoro a premissa dos livros e o que a autora desenvolve a partir dela.
Para quem não conhece os livros, a Sam é uma jovem normal, irmã do meio, que se sente meio perdida no meio da irmã mais velha, Lucy, cheerleader e superconfiante, e da irmã mais nova, Rebecca, uma menina sobredotada. Tudo o que a Sam quer é continuar a desenhar, e que os pais reparem nela, o que a faz querer ter comportamentos mais... mal-comportados.
Um dos sarilhos em que se mete leva a que eles a coloquem em aulas de arte, para exteriorizar os seus impulsos criativos. O que a leva a estar na hora certa, no lugar certo durante um atentado à vida do Presidente dos EUA. Sam impede o malfeitor, e dá por si uma heroína nacional... e a receber as atenções do filho do presidente, que também está na aula de arte. Só que Sam cobiça o namorado da irmã mais velha... ou será que não?
Gosto tanto do retrato que a autora faz da Sam, porque é bastante credível e faz uma bela evolução de personagem. Essencialmente, a Sam, por ser a irmã do meio, a bem comportada, a que não arranja problemas, sente que os pais não lhe dão atenção, e por isso deseja ser e fazer coisas que contrariem essa atitude.
O que ela não entende (numa cegueira tipicamente adolescente) é que a aparente "negligência" dos pais significa que confiam nela, que acreditam que ela é madura o suficiente para lidar com as coisas sem precisar de paninhos quentes. E por isso a Sam quer dizer e fazer coisas aparentemente rebeldes para lhes captar a atenção, como ter um namorado como o da irmã, mas acaba por não prosseguir com grande parte delas, talvez por subconscientemente reconhecer que a sua atitude não é a melhor.
Sou uma fã da premissa do primeiro livro, que é um pouco wish fulfillment, no sentido de uma pessoa se tornar repentinamente conhecida e notória, com tudo o que isso implica, por uma situação que está fora do seu controlo, mas que ao mesmo tempo envolve uma acção com intenção e que mostra a fibra e o carácter do indivíduo.
Gosto bastante da maneira como a Sam de repente se vê a lidar com a Casa Branca, tendo uma posição oficial de Embaixadora dos Jovens dos EUA para as Nações Unidas; e gosto mais ainda de como em ambos os livros isso a põe em oposição ao Presidente.
Essencialmente, ele coloca-a em posições e situações em que acha que lhe vai dar a volta, achando que ela é uma miúda maleável, mas sai-lhe o tiro pela culatra, porque a Sam acaba por arranjar maneira de o embaraçar ou opor. É fascinante ver alguém numa posição tão importante a meter-se em sarilhos por causa de uma adolescente; e é muito interessante ver uma pontinha de drama politico neste aspecto.
Adoro ver como a relação da Sam com a irmã Lucy evolui. De início ela descarta as coisas que a irmã gosta ou diz, achando que por não serem as mesmas que ela aprecia, não têm interesse. Mas depois ela pede conselhos à Lucy, e o processo aproxima-as, para além de a Lucy ser uma caixinha de surpresas, e a Sam termina a história apreciando muito mais a irmã. Só tenho pena que a Rebecca não tenha o mesmo desenvolvimento.
Acho piada à envolvência familiar, porque os pais da Sam têm ambos trabalhos exigentes, e por isso têm em casa uma espécie de governanta, a Theresa, que acaba por ser a disciplinadora, e quem cuida da vida rotineira das meninas. Acho engraçado ver como isso funciona, e como os pais tentam no segundo livro envolver-se mais na vida das filhas.
Sobre o romance, é muito divertido ver a Sam e o David aproximarem-se. O rapaz é bastante discreto, mas sabe o que quer, e é bem giro vê-lo orbitar em torno da Sam, com ela abstraída da reacção que provoca nele. Os sarilhos em que se mete por causa da paixoneta que acha que tem pelo Jack são embaraçosos, mas são compensados pelo modo de desenvolvimento dos sentimentos dela em relação ao David.
Uma coisa do segundo livro que pode ser controversa, mas que me agrada mesmo muito, é como a questão do sexo é abordada. Não propriamente os dramas da Sam, que mete o assunto na cabeça, e agoniza sobre ele, e empola-o durante o livro, sem nunca falar com o pobre do David, que pobrezinho, não faz ideia da bagunça que ela faz na cabeça dela. (Comunicação era o ideal, mas vou dar um desconto, a Sam é demasiado nova e inexperiente para saber já isso.)
Não, o que aprecio é a discussão sobre sexo. Essencialmente a Sam passa o livro a tentar perceber se está preparada para esse passo, a informar-se sobre o assunto, a pesquisar, ... é muito refrescante ver num livro americano uma discussão honesta sobre o assunto, e uma descrição de sexo casual, no sentido em que não temos nada da perspectiva mais tipicamente conservadora sobre o assunto que é tão comum na sociedade americana.
É disto que os jovens precisam, e ainda mais satisfatório é o facto de haver um livro destes há já dez anos. Com o boom recente dos livros na faixa etária YA, é uma perspectiva mais comum hoje em dia, mas tenho a sensação que não seria tanto assim na altura em que foi publicado.
Já agora, a tradução do primeiro livro é horrenda. Horrenda, horrenda, horrenda. Há montes de frases traduzidas à letra, quando devia seguir-se o espírito da coisa, no caso de expressões idiomáticas e tipicamente americanas, há meter os pés pelas mãos, há usar palavras pouco adequadas para o que está a ser transmitido, há voltas de frase mal feitas, porque a ordem das palavras numa frase não é a mesma em inglês e em português... caramba, esta tradutora parece que nem sabe falar português, quanto mais inglês.
De qualquer modo, esta é uma duologia que guardo no coração, porque é muito divertida, a perspectiva da Sam, e o seu percurso, são fantásticos e fascinantes, e gosto mesmo da premissa. Foi muito bom revisitar.
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