terça-feira, 11 de outubro de 2016

9 de Novembro, Colleen Hoover


Opinião: É assim, isto não pode ser. Eu passei a minha última opinião sobre um livro da Colleen a malhar nele e a queixar-me dos "truques" e "bengalas" que ela usa quando escreve. E depois vou ler outro livro dela, e até tem essas coisas de que me queixei. E acabo a gostar. Muito. E relutantemente. Eu sei. Eu também estou a abanar a minha cabeça face à minha inconstância.

Pronto, vamos focar-nos primeiro nas coisas ligeiramente irritantes (irritantes neste momento porque começa a parecer que ela não sabe escrever um livro sem elas) que ela passa a vida a fazer. A premissa louca. Fui a primeira a torcer o nariz a ela, céptica, porque já demasiados filmes e livros fizeram coisas parecidas. Tanto na parte de "reencontro ano após ano" como "livro dentro de livro".

E mesmo assim, resulta. Sei lá eu como, que reviro os olhos a instalove e conexões instantâneas e gente a suspirar uma pela outra após aproximadamente cinco minutos de tempo em conjunto. Mas a maneira como a Colleen escreve a situação em que os personagens principais se conhecem e aproximam, e combinam voltar a encontrar no futuro... bem, encheu-me as medidas. Intelectualmente, depois de ler, sei que a Fallon e o Ben passaram demasiado pouco tempo juntos para ser real.

Contudo, no livro, soou real. A Colleen escreve emoção reconhecidamente como as melhores, e conseguiu que a ligação entre os dois fosse credível, que eu pudesse acreditar que as coisas se passassem assim e torcesse pelos personagens. Dizem as coisas certas, e a emoção está lá.

Bem, e quanto à típica "reviravolta que mostra que os personagens têm uma ligação escondida"? Errr não foi assim tão difícil de adivinhar. A história não é assim tão complexa, e quando já sabemos que a Colleen faz *sempre* esse tipo de coisas... estranhamente, não me incomodou. Deu uma dimensão diferente à coisa, até mais complexidade à história. Estava curiosa para ver a história por trás dessa "ligação". Ajuda termos o ponto de vista dos dois personagens, que mostra que são genuínos na ligação que vemos desenvolver, mesmo que um deles esconda coisas.

Quanto à "protagonista coitadinha (e inexperiente)": entre as personagens femininas da Colleen, não é a pior. Claro que preferia que ela parasse de as escrever. Mas a Fallon faz algum sentido como personagem. Tendo passado pelo que ela passou, nas circunstâncias que eram, as suas inseguranças fazem muito sentido, ainda que sejam algo exasperantes de ler. Mas o ser humano é sempre muito irracional no que toca a inseguranças, por isso não lhe posso levar a mal.

E a modos que gosto do percurso dela. O modo como ganha confiança e evolui ao longo da narrativa. É um pouco frágil que isso aconteça em parte por causa de um rapaz, mas as inseguranças dela têm a ver com beleza exterior, e por isso ela precisava mesmo que alguém beijasse o chão que ela pisa durante cinco minutos para ver que sim, é uma pessoa fantástica, que se lixem as cicatrizes.

E de qualquer modo, como ela não vê o Ben durante o ano é mais como se os momentos com ele fossem momentos para lhe alimentar a confiança, que depois assentam durante o ano e tomam raízes, levando-a a expor-se mais e fazer coisas que a desafiem.

E enfim. Claro que achei que era uma parvoíce eles concordarem em só se verem uma vez por ano durante cinco anos, e não se procurarem nem manterem contacto. No início faz algo sentido, e até explica a intensidade da ligação. Queremos o que não podemos ter. Mas depois, quando eles se começam a envolver mesmo a fundo, é mais difícil de justificar a separação e continuar a ter os encontros ano após ano. Algumas separações são mais dramáticas por causa disso. Uma delas roça o ridículo na racionalização que um dos personagens faz, mas as outras fazem ao menos sentido dentro das circunstâncias.

Quanto ao Ben... é um pouco complicado. Sinto-me manipulada. É claro que eu sabia que ele andava a esconder algo desde o início, e não era bonito. E sabendo da verdade, no final do livro, algumas acções dele são questionáveis. Mas pronto, ajuda muito que tenhamos o POV dele. Dá para perceber que é genuíno no interesse pela Fallon, ainda que o cruzamento dos seus caminhos não tenha sido acidental. E enfim, ela escreve o Ben demasiado perfeito. É um pouco difícil resistir a tanta dedicação quando ele diz as coisas certas.

O enredo de um livro dentro de um livro é certamente interessante, e aqui ajuda a entregar a reviravolta da coisa. Ou as duas reviravoltas, diria. Na maior parte, a Colleen usa isso e o facto de o Ben ser escritor para brincar um bocadinho com os clichés de romances (irónico, tendo em conta que ela se apoia fortemente nos seus próprios clichés), e é engraçado, mas às vezes é algo indulgente com as piadas internas. Nem sempre tem piada, Colleen. Às vezes a análise que fazes é demasiado, ou demasiado pouco, autoconsciente.

Pontos bónus (ou não, porque não tenho saudades nenhumas), os protagonistas de Amor Cruel aparecem, felizes da vida, claro. O Ian que era amigo do Miles? É o irmão mais velho do Ben.

E pronto. Esta é a história de como mesmo estando ciente das fragilidades e clichés duma autora, ela ainda assim me dá a volta e faz gostar do seu livro. Como disse, isto foi um percurso percorrido muito relutantemente. Não se pode confiar em mim quanto a esta autora. Que diabos, eu não posso confiar nela. De certeza que o próximo me vai dar cabo da paciência. Estou de respiração suspensa, só da antecipação. (Ou não.)

Título original: November 9 (2015)

Páginas: 320

Editora: Topseller

Tradução: Dinis Pires

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