quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Meg Cabot: Retrato do Meu Coração, Awaken


Título original: Portrait of My Heart (1999) / Awaken (2013)

Páginas: 400 / 352

Editora: Quinta Essência / Point (Scholastic)

Tradução: Margarida Malcato / -

O primeiro livro deste par que vou opinar é um livro do início da carreira da Meg Cabot. Os primeiros livros que ela publicou eram romances históricos sob o pseudónimo de Patricia Cabot; e entre aqueles que li, posso dizer que são produtos do seu tempo, e por isso dou-lhes o devido desconto; mas também posso dizer que ao longo do tempo têm vindo a ser cada vez mais divertidos de ler para mim.

Retrato do Meu Coração conta a história de dois protagonistas. A Maggie Herbert tem 17 anos quando o livro começa, é travessa, pouco inclinada para seguir o que a sociedade espera dela. Adora pintar e quer ser uma artista. E adora arreliar o Jeremy, duque de Rawlings (o Rosa Selvagem lida com o tio dele e a Pegeen). Já o Jeremy detesta o papel que terá de assumir, odeia a ideia de se aproximarem dele só por ser duque, e faz por ser expulso de todas as escolas e mais alguma.

Quando os dois colidem, é explosivo. O Jeremy encanta-se pela figura tão diferente que encontra na Maggie, e ela... bem, também. Uma indiscrição em que são apanhados pelo tio faz com que o Jeremy acabe a ir para a cavalaria, e a Maggie para uma escola de arte em Paris, separando-os. Cinco anos mais tarde, os dois reencontram-se, e apesar do tanto que mudou... as faíscas estão lá.

Eu acho que digo isto sempre, mas a cada romance histórico que leio da Meg, cada um é mais divertido que o outro. A sério, há partes deste livro que são hilariantes. A autora escreve com um humor fabuloso. O tom caricatural e sarcástico que dá a algumas passagens... e o humor que imprime a certos diálogos... uau.

Adoro, por exemplo, que o Jeremy queira casar com a Maggie, mas o tio replicar que não pode ser, ele não a merece; ou que a Pegeen esteja em trabalho de parto mas ainda assim a dar conselhos ao sobrinho com uma naturalidade estupenda (e o marido a correr a casa à procura dela); ou a cena final, em que o Edward apanha a Maggie e o Jerry juntos, e diz que assim não pode ser, têm de casar, e eles dizem que sim, claro que sim, com a maior das naturalidades. (Como se não tivessem sido apanhados num momento escandaloso.)

Gosto bastante da Maggie, pouco inclinada para aceitar o que a sociedade espera dela, com vontade de trilhar o seu próprio caminho. Gosto que não desista do seu sonho e na segunda parte esteja a trabalhar para viver e continuar a fazer o que adora. Gosto de vê-la e ao Jeremy juntos, pelas faíscas, pela química, pela maneira como funcionam bem juntos e porque ele desde o início que quer casar com ela, sem hesitações.

O que tenho a apontar aqui de negativo é o tipo de coisa que tenho a sensação que era mais prevalente nos romances históricos desta altura. Que é a forma como o Jeremy se comporta, demasiado excessivo em relação à Maggie, um tudo-nada demasiado não-consensual? A maneira como as cenas entre eles se desenrolam são todas da mesma maneira, ela nega, não quer, mas ele continua, e eventualmente a moça derrete-se nos braços dele, e o consentimento é assumido com esse derretimento.

Ora isto até podia ser considerado romântico, sei lá, até aos anos 90, mas hoje em dia consentimento é uma coisa muito importante num par romântico, e este tipo de comportamento já não se vê nos romances, particularmente os históricos. E as minhas sensibilidades de século XXI certamente torcem-lhe o nariz. Tolerei, porque tenho noção de quando é que o livro foi publicado originalmente, e como o resto foi demasiado divertido, isto acaba por ser apenas um buraquinho na estrada. Mas ficou notado.

Passemos ao Awaken, com muita relutância minha. Já tinha dito na opinião aos livros anteriores da trilogia que aquilo é uma confusão pegada. Oh, se é. A sério, é o enredo que não cola nem descola em dois terços do livro, avançando a passo de caracol. Depois, faz tanto sentido a evolução da narrativa como ver tinta secar. E por fim, se a Pierce e o John são supostamente românticos, é melhor eu virar freira porque não aturava as coisas que ela atura. (E de certeza que não fazia as coisas embaraçosas que ela faz. Ou pensa.)

Mas a sério. Não percebo como é que eles chegam à conclusão que o John "morreu", nem como descobrem magicamente que o Thanatos tem o John, nem como têm a inspiração divina de ir a um lugar remoto no meio duma tempestade que tem um bando de adolescentes loucos a festejar o mau tempo. Nem como têm a sorte imensa de o Thanatos estar a possuir um dos miúdos, que eles até conhecem, e surpresa! conseguem exorcizá~lo, sem o puto morrer nem nada, mas não é claro exactamente quando isso acontece.

Não percebo como é que esta gente passa o tempo todo a falar do "desequilíbrio" que faz com que as Fúrias os persigam, sem lhes ocorrer nas cabecinhas ocas que o mesmo tem a ver com terem trazido o Alex de volta no livro anterior, algo que eles na altura sabiam que estavam a fazer de errado de acordo com as "regras"! UGHHH detesto quando tenho de lidar com personagens burros e um enredo burro só porque o autor é preguiçoso demais para escrever algo mais inteligente. Alguém me mate.

Para cúmulo, o enredo está pilhado de "coincidências", coisas que acontecem só porque são convenientes, e facilitam a vida aos personagens, para garantir que acaba tudo num lindo final feliz bonitinho em que toda a gente fica emparejada e feliz para sempre. Raios, eu sou pelos finais felizes, mas por aqueles pelos quais se teve de batalhar, não pelos entregues de bandeja.

A única coisa boa disto é que finalmente os pais da Pierce conhecem o John e ficam a saber de toda a coisa sobrenatural. A reacção deles é fantástica, especialmente o pai dela, que começa logo a pensar em lucrar com os poderes do John. Ah, e o tio Chris é fantástico, adorável, um doce de pessoa, incrivelmente leal. O melhor personagem deles todos. Não merece a família que tem.

E detesto com todas as minhas forças a maneira como a Pierce e o John são um... casal. É suposto eu crer neles quando se apagam um ao outro, vivendo para o outro? A Pierce depois de se meter nesta coisa de rainha do Underworld não tem interesses próprios. Não mostra vontade de voltar à escola, ou de fazer a sua própria coisa. Fala em ter um bebé, que é a coisa mais estranha de sair da boca duma miúda de 18 anos que nem parece ter a maturidade para se virar sozinha a fazer certas coisas.

O John em momentos de perigo fala com ela do género "fica aí quietinha, não faças nada, deixa os homens trabalhar, fica ali protegida". Raios. Eu sei que é suposto ele ter nascido no século XIX... mas também passou este tempo todo a ser exposto à evolução do mundo e da sociedade. Não faz sentido ser tão retrógado.

E sei lá, não sinto nenhuma química entre eles. Não há nada que me faça acreditar neles como casal. É tudo tão mecânico, e ao mesmo tempo lamechas e totó. Não sei explicar... só sei que todo o livro, toda a trilogia, me cai mal. Não é que tenha passado um mau bocado a ler... mas também não tinha acontecido isso com o Crepúsculo. E a verdade é que não sou nem posso ficar cega aos enormes defeitos desta série. Não me voltes a fazer uma destas, Meg.

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