sábado, 11 de fevereiro de 2017

Stolen Songbird, Danielle L. Jensen


Opinião: Há leituras em que uma pessoa está em modo "deixa-me gostar de ti, por favooooorrrr", e o livro responde "não, não, não, eu vou mas é dificultar-te a vida o mais possível". Este é um desses casos.

Stolen Songbird é exactamente aquilo que a sua sinopse apregoa - e ainda assim, muito mais do que pode ser expresso por ela. Cécile é uma jovem que é raptada da sua terra e família para ser levada para debaixo da montanha, onde os trolls vivem. Dominados por uma maldição que os prende onde estão, uma profecia promete oferecer-lhes a liberdade. Cécile é a jovem que vêem como a chave da profecia.

Cedo no livro, o quebrar da maldição não corre assim tão bem como o esperado; e Cécile vê-se como peixe fora de água, no meio da sociedade troll, a tentar compreender os seus costumes, política e história. Há uma riqueza de detalhes nesta sociedade que a protagonista se esforça para compreender, e acaba por se ver envolvida no conflito interno da mesma, ao mesmo tempo que sonha poder fugir e voltar ao mundo que conhecia.

O meu problema é... eu levei quatro dias para passar da página 150. Isso não me acontece. (Quase nunca.) Pensei muito nisto e cheguei à conclusão que, apesar da Danielle fazer muita coisa certa em termos de escrita, não estava preparada para ser uma escritora com um livro publicado. Falta-lhe qualquer coisa para enganchar o leitor e puxá-lo pela narrativa fora. Apesar de nessas primeiras páginas me estar a apresentar muita coisa potencialmente fascinante, a minha reacção era maioritariamente um "meh".

Acho que lhe faltou qualquer coisa capaz de me fazer importar com o que estava a ler. Algo para me envolver. Porque é que eu me devia preocupar com estas pessoas? Nunca respondeu realmente a essa pergunta, para mim.

Creio que parte disto tem a ver com o facto de ela não ser muito boa naquilo de show, don't tell. Ela diz-nos que a Cécile está a ficar amiga do Marc e dos gémeos, mas não nos mostra cenas com eles a avançar a sua relação. O mesmo com o Tristan; de repente a protagonista dá-se conta que está apaixonada por ele, onde é que estão as cenas para eu acreditar neles como casal?

Parece que não passam lá muito tempo juntos; há as cenas em que ela canta, ou uma outra em que estão a fingir discutir publicamente. O que é que a fez mudar de ideias? Estar permanentemente ligada a ele pelo bonding? Porque não mostrar-nos isso?

O trágico da coisa é que eu acredito que era possível expandir e substanciar estas relações, e até caracterizar melhor os personagens, tornando o livro mais rico e mais interessante, ao mesmo tempo que o worldbuilding era apresentado, a sociedade e o seu passado eram descritos, e a narrativa era desenvolvida. É possível envolver estas coisas todas umas nas outras e ter um todo coerente; da maneira como está, certas revelações ou pormenores parecem deslocados e descontextualizados, meio confusos até.

É por isso que chego à conclusão que a Danielle precisava de trabalhar mais antes do livro ser publicado. Ou então o seu editor devia ter sido mais aplicado e puxado por ela até o livro estar mais bem esgalhado. É o género de coisas que eu sei que um autor com prática sabe fazer. (Ou um editor bom sabe puxar do seu autor.)

Tortura-me particularmente saber que o livro não é tão bom como podia ser, especialmente porque já é algo com alguma qualidade para começar. Adoro tudo por trás da criação da sociedade troll: como ficaram presos na montanha, como funciona a sua magia, os conflitos de classes presentes, a complexa política entre a classe regente. Neste aspecto é tão rico! O tipo de coisa que dá que pensar por horas.

Até os personagens têm a semente de vir a ser algo cativante; o Marc tem uma história trágica e emocionante; os gémeos são tão divertidos com as suas competições; a Anaïs foge do molde em que podia ter sido metida, pela sua posição no enredo. Os reis de Trollus têm um certo potencial, e os personagens meio-sangue e desfavorecidos pelo seu estrato social mostram uma fatia variada.

Enfim, assim que a história ganhou tracção, não foi tão complicado de me fazer virar as páginas. Como disse, fiquei interessada em montes de aspectos da narrativa, mas preferia ter sido arrebatada, arrastada para dentro dela sem ter escolha no assunto.

A parte final é novamente um pouco frustrante porque assim que a Cécile e o Tristan chegam à conclusão que gostam um do outro, bem, ficam um pouco parvinhos. Ele passa o tempo a duvidar dela só porque sim. (Eu sei que é estranho conviver com alguém que pode mentir, ao contrário de ti, Tristan, mas tem ela realmente motivos para mentir? Idiota.) E pior, não achei piada nenhuma a ele agir como se ela não soubesse o que estava a dizer e sentir, e agir como se soubesse melhor que ela. Não é fixe, Tristan.

Disse ali parvinhos também porque tomam um monte de decisões questionáveis só porque sim. Está bem, o amor deixa as pessoas tolas, mas não era preciso tanto. A parte final então? O Tristan a provocar o caos e a pôr a descoberto aquilo em que acredita para ajudá-la? Havia um milhão de maneiras diferentes de fazer isso. Aquilo que ela faz antes? Incrivelmente perigoso e bastante estúpido. Há uma longa lista de erros que eles cometem nas últimas 100 páginas, mas nem quero pensar mais nisso.

Again, acho que é inexperiência da Danielle. Ela quer que a narrativa vá num sentido, então faz os personagens agirem fora do que são para que isso aconteça. Em vez de tentar descobrir uma maneira de fazê-lo acontecer que seja coerente com o que eles são. Aaaargh.

Portanto, em suma, diria que estas são das opiniões mais difíceis de escrever. Quando uma pessoa quer mesmo gostar dum livro, mas ele dificulta-lhe mesmo a vida. Quando um livro tem tanto a seu favor, mas comete alguns pecados capitais que nos é impossível de ignorar, e temos de falar longamente sobre porque é que ele não funciona assim. Não quer dizer que não venhamos a ler o resto da série (é bastante provável, eventualmente), pois tem tudo para vir a ser bem melhor, mas não se pode fingir que não teve os seus problemas.

Páginas: 480

Editora: Angry Robot

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