Opinião: ... ou como um bando de homens feitos se pode portar como uma capoeira de galinhas histéricas, com o empurrão certo. A sério, falava eu do sentido de humor do Rex Stout no livro anterior... e aqui, ele sobe a fasquia e goza com a cara dos próprios personagens.
Neste volume, um grupo de antigos alunos de Harvard vem parar à sala de Nero Wolfe porque suspeitam que um deles, horrivelmente magoado numa brincadeira dos tempos de estudante, estará a assassinar os seus membros como forma de vingança. A apoiá-los estão as cartas crípticas que todos receberam depois de cada morte, aludindo às mesmas.
A piada da situação vem do facto que a histeria do grupo é largamente infundada. (E atenção que isto não é uma avaliação da culpabilidade ou falta dela do suspeito.) Pior, as suspeitas deles levam-nos a tomar acções que não tomariam - exemplo, o comportamento de Hibbard neste livro, ou as acções do criminoso no final do livro.
Apesar de já ter lido o livro e ter uma ideia de para onde se dirigia o enredo, gostei mais deste e das suas reviravoltas. O anterior fixa-se no assassino demasiado cedo e isso corta um pouco o fôlego à narrativa. Aqui, as constantes revelações sobre o que se está a realmente passar, e sobre os crimes e acções que foram praticadas pelos jogadores do enredo, tornam tudo mais cativante e prendem melhor o leitor.
Este volume traz também um momento engraçado na dinâmica entre o Archie e o Nero. A certa altura o Archie faz uma asneira, deixando-se vulnerável quando devia ter sido desconfiado (o que em si é divertido e preocupante), e o seu paradeiro torna-se incerto por momentos. Coisa que é das únicas que fez Nero Wolfe levantar o traseiro da cadeira e - gasp! - sair realmente de casa. (Tal era a preocupação.)
Isto é interessante porque este par trabalha em conjunto há alguns anos quando a série começa no volume anterior, e apesar da constante esgrima verbal, é bastante claro que se preocupam um com o outro. Ah, e por falar na esgrima verbal... é uma risota quando o Archie se sente frustrado por a) falta de trabalho ou b) não estar a ver o que quer que o Nero está a ver sobre o caso, levando a c) picar Wolfe para ver se obtém uma reacção. Muito engraçado.
Destaque para Paul Chapin, o suspeito de serviço, que tem uma análise psicológica muito curiosa na página; Nero Wolve adivinha correctamente o que o move, e é fascinante de ler. E acho interessante ver que, no final, e tal como no livro anterior, o que move os protagonistas não é necessariamente o fazer-se justiça; é fazer aquilo para que foram contratados. Nero Wolfe é bastante rigoroso nesse aspecto, e isso põe algumas questões morais e éticas ao leitor, especialmente quando o interesse do detective e a execução da justiça não coincidem.
Título original: The League of Frightened Men (1935)
Páginas: 304
Editora: Livros do Brasil (Porto Editora)
Tradução: Fernanda Pinto Rodrigues
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