Opinião: E aqui vou eu fazer chover na festa de toda a gente. Enfim. Não se pode gostar de tudo. Em defesa do livro, eu normalmente tenho um sexto sentido para saber do que vou gostar, e tinha uma boa ideia de que isto não ia necessariamente ser a minha praia.
Quero dizer... eu adivinhei a reviravolta do enredo só por ler a sinopse. Tão simples assim. Afinal, como é que se ia resolver um problema como o da Madeleine? Pois. Duh. *suspiro* Da última vez que adivinhei a reviravolta dum livro tão cedo - foi na página 40 e tal do Gone Girl, e a Gillian Flynn entregou o ouro sem sequer tentar esconder um bocadinho -, passei o resto da leitura a desenvolver uma relação de intenso ódio com o livro.
Tudo, Tudo e Nós não teve esse azar (ou sorte), mas simplesmente porque é um livro tão blah, tão morno e desinteressante que não foi capaz de me suscitar grandes emoções. Só... indiferença? (Tangente: a sinopse está ali, e de qualquer modo toda a gente que possa estar interessada no livro já ouviu falar dele; por isso não vou fazer um miniresumo da história.)
Sinto-me algo indignada com a reviravolta. Se não a tivesse adivinhado de antemão provavelmente ainda me sentia mais; mas raios, é o tipo de coisa que envolve uma enorme quebra de confiança, que envolve um engano tão grande que é incredível ter sido sustentado tanto tempo; e pior, diminui e destrói o percurso da protagonista anteriormente. Havia alguns pontos interessantes no mesmo, e o esforço dela por conseguir algo de seu era algo interessante; mas depois vem isto e torna o livro menor, apenas mais um num mar de tantos livros contemporâneos.
Pior: acho que o livro é um sintoma dum mundo literário obcecado com o John Green. E eu não tenho nada contra o John Green: acho que ele fez coisas bastante interessantes nos seus livros que li, acho que ele entende bem certos momentos emocionais e transmite-os bem.
O problema... é que toda a gente quer encontrar o próximo John Green. E portanto toca a publicar tudo o que tenha adolescentes preciosos e precoces, e que tenha Lições de Vida (TM), e que pareça profundo como o raio, mesmo que depois de esmiuçado não tenha assim tanta substância como isso.
Quero dizer, há coisas com valor na experiência e no percurso da Madeleine. Adoro como ela não é negativa com a sua situação, como a aceita. Adoro ver como ela é tão aberta ao mundo. Mas acho que o livro, para ser bom, precisava de ser mais. Precisava de explorar uma série de coisas... mais. E melhor.
Vejamos: a situação familiar do Olly era algo digno de mostrar mais em detalhe. Talvez um pouquinho mais da Carla, que é um doce. Acho que gostava de ver a Maddy mais para além da dimensão da sua relação com o Olly - não vemos muito só dela antes dele aparecer, e depois é só Olly, Olly, Olly.
Gostava que a relação deles fosse mais substanciada. Ok, eles passam muito tempo a mandar mensagens instantâneas. E depois? Passam um tempo juntos um par de vezes no mesmo espaço físico, e de repente "beijinhos, amo-te, deixa-me fazer coisas incrivelmente perigosas porque as hormonas estão a deixar-me doida e quero saltar-te em cima sem restrições".
Não, ainda não me soa nada romântico. Lá está, eles caem de amores um pelo outro mas eu nunca o senti. Não tenho cenas suficientes para o suportarem e mo tornarem credível.
Estou a tentar encontrar algo de que realmente tenha gostado... quer dizer, não é que tenha odiado o livro. Mas em retrospectiva, não lhe encontro mesmo nada de especial. Oh, mas já agora, gosto que a Maddy seja resultado duma família interracial.
Oh, e gostava de ter gostado mais da escrita. Tem os seus momentos de profundidade, mas no geral... meh. Tinha ouvido dizer que era bonita, mas nada se destacou para mim. Talvez por ter a tradução a atrapalhar pelo meio? Não me pareceu má, mas talvez o livro ganhe na comparação se o tivesse lido em inglês.
E pronto, o fim. Acho que não tenho mais nada a desancar no livro.
P.S.: bem, talvez possa desancar na Presença, que decide mudar o título do livro em português, e depois dão um tiro nos pés e chamam ao livro Tudo, Tudo nas biografias dos autores. Onde é que essa cabeça andava mesmo?
Título original: Everything, Everything (2015)
Páginas: 320
Editora: Presença
Tradução: Maria Fraústo
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