Opinião: Uau. Pensei mesmo que este ia ser um John Green-wannabe (tenho tido alguma sorte ou azar ultimamente com esses); felizmente, é muito mais (e melhor) que isso. É espantoso que este seja o primeiro livro publicado da Krystal; mas ao mesmo tempo, acabo de reparar que ela é australiana, e bem, todos os autores australianos em que pus as mãos têm sido extraordinários, primeiro livro ou não. Portanto, já não estou espantada. É claramente algo que os australianos metem na água.
Henry Page é o protagonista desta história. É um miúdo inteligente, divertido, geek, relacionável e observador. Tem maturidade suficiente para apreciar ver os pais apaixonados, mas é inexperiente romanticamente. Nunca teve uma relação séria.
No primeiro dia de escola, conhece Grace Town. A Grace é uma moça estranha, usando roupas que não são dela, usando uma bengala para ajudar com um problema na perna, mantendo-se à distância e evitando tudo o que a obrigue a envolver-se mais com os outros.
O Henry fica encantado e intrigado: ela tem todo o tipo de comportamentos estranhos mas ele fica interessado em desvendar o mistério que é Grace Town. No entanto, eles têm as mesmas referências culturais, gostam das mesmas coisas, entendem-se bem... resultado: ficam cativados e entram numa relação.
Como disse, pensei que este livro ia tentar emular o estilo Greeniano, mas ainda bem que é a sua própria coisa. É uma história incrivelmente interessante: tem humor e momentos tristes, boa escrita e bom timing, e o melhor de tudo - é emocionalmente honesto e credível, examinando a relação dos dois personagens e mostrando porque/porque não funciona.
Diria que a Grace tem muita bagagem emocional e não está preparada para estar numa relação, e definitivamente não numa com alguém tão inexperiente. Precisa de tempo para fazer o seu luto, voltar a abrir-se ao mundo e deixar de distorcer o que a rodeia, as intenções dos outros e o que esperam dela e o que espera dos outros.
O Henry... bem, como disse, não está no lugar ideal para ser um parceiro para a Grace. É a sua primeira relação séria, ainda tem uns óculos cor-de-rosa, e não tem nem de perto a experiência emocional para cuidar dela e deles os dois. Ele encanta-se com a Grace de agora, isso acredito, mas quando descobre quem ela era é-lhe difícil não desejar que ela volte a essa sua versão. Queremos o melhor para os que amamos, e a Grace de agora não está no melhor dos lugares.
Isso não é errado, mas todos temos a nossa maneira de processar as coisas, e desejar que ela volte a esse ponto é pressioná-la quando ela não se sente preparada para caminhar na direcção da recuperação. Em suma, eles são pessoas em pontos diferentes da vida, e é isso que cria a incompatibilidade entre eles. Aprecio a Krystal por observar a relação deles sob uma lente tão honesta. Às vezes as coisas não resultam, e ninguém tem a culpa.
Adorei o elenco de personagens secundárias. Os pais do Henry e a irmã Sadie são tão divertidos e têm uma relação gira com ele, sempre a meter-se com ele, mas mantendo-o debaixo de olho. (E o terror que a Sadie era quando andava na escola secundária dele! Hilariante.) E o grupo de amigos que o Henry tem, o Murray e a Lola, são amorosos. Tão refrescantes e credíveis como adolescentes, com as suas idiossincrasias, e o tipo de gente que devia vontade de serem nossos amigos. E adoro a nova adição ao grupo, a Maddy.
Quanto ao final, aprecio-o muito pelo que é. É honesto, e termina numa boa nota. Num livro que foi realista no decorrer do enredo, sinto que também o foi no final. Foi, em suma, o tipo de livro que me faz querer seguir um autor. Krystal Sutherland, estás na minha lista a seguir.
Título original: Our Chemical Hearts (2016)
Páginas: 280
Editora: Porto Editora
Tradução: Paulo M. Morais
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