domingo, 16 de julho de 2017

The Girl with the Make-Believe Husband, Julia Quinn


Opinião: Ah, simplesmente amoroso. Acho bastante piada a este "truque" do romance, o do falso casamento, por forçar duas pessoas a uma intimidade que de outro modo não teriam, e gostei de como a Julia o explorou aqui.

Cecilia Harcourt acabou de ficar orfã. O pai morreu, deixando-a desamparada, e as suas hipóteses são casar com um primo detestável para poder ficar na casa de família, ou ir viver com uma tia. Num arremedo de coragem, a Cecilia procura outra opção: viaja para a América para encontrar o irmão, Thomas, que foi ferido nas lutas contra os rebeldes independentistas. Só que chegando a terra firme, nem tudo é fácil: o dinheiro está contado e Thomas não se encontra em lado nenhum.

No seu lugar encontra o Edward, amigo do irmão, ferido e inconsciente no hospital; e como não a deixavam vê-lo, a não ser que fosse de família, atreve-se a dizer que é sua esposa. Cecilia sabe que a armação vai acabar mal o Edward acorde, mas aí é que a porca torce o rabo, como o ditado diz: é que o Edward acorda sem memória dos últimos meses, e portanto não faz ideia do que aconteceu ou não entre eles. O balanço é precário: ela ajuda-o a recuperar, e ambos se focam em encontrar o irmão dela - mas este é um casamento falso que ameaça tornar-se verdadeiro...

Adorei mesmo esta premissa. A Cecilia e o Edward conheceram-se apenas por carta; ela enviava cartas frequentemente ao irmão e ele partilhava o seu conteúdo com o Edward, que ficava fascinado, e começou a mandar recados pelas cartas, até que o Thomas o começou a deixar escrever ele próprio os seus comentários. É tão fofo: eles nunca poderiam comunicar desta maneira sem o intermédio do Thomas (só se fossem noivos), e suspeito que o Thomas fazia isso porque tinha esperança que os dois se juntassem, ao perceber que tinham interesse nas palavras um do outro.

A minha parte favorita do livro, no entanto, é mesmo a questão do casamento falso: o início do livro é mais calmo, mas caiu-me bem, porque permite uma caracterização mais profunda dos personagens e das suas motivações. Por um lado, o Edward debate-se com a sua incapacidade, o problema de memória - o não se lembrar do casamento ou do que andou a fazer nos últimos meses; mas também tenta perceber os seus sentimentos em relação à Cecilia, e conclui que gosta da ideia de estar casado.

Por seu lado, a Cecilia detesta a mentira que contou, e esperava inteiramente já ter sido apanhada em falso; mas compreende que ter outro apelido, ser nora dum conde, faz uma diferença tremenda enquanto procura o irmão, e isso fá-la retrair-se de contar a verdade. É um pouco retorcido, mas é um sentimento tremendamente humano, assim como o é vê-la debater-se com o contar a verdade à medida que o tempo passa e ela e o Edward se envolvem emocionalmente.

Comete alguns erros, sim, mas não consigo evitar sentir compaixão por ela. A Cecilia foi muito corajosa em viajar e atravessar o oceano para encontrar o irmão, mas o livro é dolorosamente honesto acerca da posição duma mulher que ficou sozinha e sem família, sem poder social nenhum. Desamparada e num teatro de guerra, acredito que toma as acções que pode para sobreviver, tendo em conta as hipóteses que tinha. O coração dela está no lugar certo, e assim que pode cortar com a situação, fá-lo.

(Menção honrosa para a madrinha do Edward, esposa do governador de Nova Iorque e uma senhora com um feito determinado e tremendamente assustadora. Não admira que a Cecilia tenha caído para o lado ao conhecê-la.)

O final é tão excitante e divertido: clássico da Julia. É tão amoroso ao estilo comédia romântica, mas com uma pequena situação caricata pelo meio, que é mesmo típico dela. Fabuloso. (E o epílogo deixa no ar o destino do Andrew, o que me deixa incrivelmente intrigada.)

Enfim, gostei muito, identifiquei-me com a maneira como ela o escreveu. Gostei de ver um cenário um pouco diferente, e a reflexão e enquadramento dos dois protagonistas nele; gostei também de ver como tinha um dilema moral, em que o fazer a coisa certa choca com o que se precisa de fazer, e em como os sentimentos complicam tudo um pouco. (Não o fazem sempre em romance?)

Páginas: 384

Editora: Piatkus (Little, Brown Book Group/Hachette)

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