terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Uma imagem vale mil palavras: Em Chamas (2013)

Tenho de começar por dizer que a trilogia dos Jogos da Fome tem um lugar especial na minha estante. E que ao mesmo tempo que espero ansiosamente por cada uma das adaptações cinematográficas, tento manter as minhas expectativas sob controlo, porque tenho noção que livros e filmes são meios diferentes e trabalham histórias de modos diferentes.

Tendo dito isto, tenho também a dizer que adorei a minha experiência cinematográfica com este filme. Primeiro, porque conseguiu ser fiel ao livro, pelo menos o suficiente para me manter cativa durante duas horas e tal (sem intervalo!). Depois, porque tive oportunidade de ver o filme em IMAX, o que ajudou muito a manter-me presa ao ecrã. E por fim, porque conseguiu evocar aquilo que pensei e senti com o livro, recriando a minha experiência com a história, e introduzindo novos detalhes.

A história do segundo livro e filme, Em Chamas, é um tudo-nada ingrata, por ser a parte do meio da trilogia. Mas ao mesmo tempo tem algumas das minhas partes favoritas da mesma. E foi óptimo vê-las na tela. Há o stress pós-traumático da Katniss, que tem um pequeno momento no início em que "revê" uma situação de Os Jogos da Fome. Foi uma adição inesperada mas muito bem usada. Há as cenas no Distrito 11, que são das mais tristes e emocionais, com a presença da família dos tributos mortos, os discursos da Katniss e do Peeta, e da revolta subsequente que leva à morte de um dos membros da audiência.

Há todo o processo de apresentação dos tributos-vencedores, que adoro profundamente, e foi fabuloso ver aqueles pessoas, tão experientes e versadas nos meandros do Capitólio, a fazerem cara de pau e lamentarem-se por perder o seu querido Capitólio, fazendo tudo para subverter os esforços do presidente Snow e dos Produtores dos Jogos para os deitar abaixo. A entrevista da Johanna é tão divertida, e até algo demonstrativa do modo como o Capitólio edita tudo, manipula tudo, até explosões espontâneas dos entrevistados.

Claro que a melhor parte - para além da revelação do vestido da Katniss, que me impressionou pela execução - é a intervenção do Peeta, que mostra a sua personalidade carismática e o quão sintonizado ele está com as necessidades do espectáculo, pelo menos no que toca ao Capitólio. Sem preço! A parte da intervenção do Finnick também é muito interessante, porque enquanto que no livro aquela fala, talvez porque é vista pelos olhos da Katniss, pode ser interpretada como jocosa, e mais um dos esforços dos vencedores para travar o Quarteirão; no filme, e muito graças à interpretação do Sam Claflin e ao ar mais sério que ele põe, pode ser mais facilmente visto também como uma mensagem para a Annie. Foi um momento bonito.

Uma coisa que me tinha intrigado no livro é como o presidente Snow tinha caído na patetice de pegar em vencedores e torná-los tributos. É que estes não são miúdos aterrorizados. São assassinos, pessoas experientes nas manipulações e jogos do Capitólio, que não se vão deixar ir abaixo sem luta. A expansão do papel do Plutarch Heavensbee acaba por ajudar a explicar isso, e foi uma adição muito bem-vinda. Todas as sugestões que ele faz ao Snow têm a aparência de estratégia para ajudar o Capitólio a derrubar as rebeliões nos distritos, mas acredito que tudo o que lhe saiu da boca para fora foi muito bem pensado, e calculado, para ter o efeito contrário. A revolta estava num ponto em que não podia ser esmagada. Isto faz dele um personagem mais manipulador, frio e até cruel do que tinha pensado. Foi uma revelação, até porque o Plutarch tem a minha citação favorita da toda a saga, e isto dá-lhe toda uma nova dimensão.

As partes da arena foram bastante tensas e deixaram-me vidrada no ecrã. De certo modo, a arena foi tudo o que esperava e ainda mais vívida do que pensava. Gostei muito dos efeitos com o nevoeiro mortal, mas também apreciei ver outros aspectos da arena, como os macacos assassinos, os palragaios, ou a cena em que descobrem o significado da arena. Outro aspecto que me deixou impressionada é o facto de ver, em retrospectiva, o quão determinados todos os tributos estavam em proteger a Katniss, e por extensão o Peeta. Arrepiou-me ver a Mags dirigir-se tão resolutamente para o nevoeiro mal percebeu que estava a atrasá-los.

O elenco é um óptimo conjunto de bons actores, o que me deixa muito animada. A Jennifer Lawrence é soberba. O Josh Hutcherson é mais subtil, mas muito interessante como Peeta. O Liam Hemsworth, coitado, faz o que pode com o seu papel, que é mais curtinho e mais limitado. A Elizabeth Banks diverte-se imenso com a sua Effie, vê-se, e faz-me lembrar porque é que eu gosto da personagem. (A Effie mostrou mais uma vez o seu amor por mogno, e a sua frase "eyes bright, chins up, smiles on" vai ficar para a história. Bem como as suas roupas vistosas.) O Philip Seymour Hoffman é uma boa adição ao elenco, e como disse ali em cima, dá toda uma nova dimensão ao personagem que não tinha entrevisto.

A pequena Willow Shields está tão crescida! E dá à Prim uma força interior especial. O Haymitch é um dos personagens favoritos, e o Woody Harrelson faz um bom trabalho com ele, mas gostava que o Haymitch tivesse mais uns minutos de antena. Ou pelo menos que tivessem revelado mais umas coisas sobre ele, como o facto de ter ganho os Jogos da Fome nº 50. Adoro o Stanley Tucci como Caesar Flickerman, especialmente porque mostra como o personagem é habilidoso a lidar com os seus entrevistados, se bem que aqui até há um momento em que fica boquiaberto.

A Jena Malone como Johanna é uma escolha interessante. Não duvidei que era capaz de interpretar a "loucura" da Johanna, mas há um aspecto desprendido que adiciona à personagem. E a cena do elevador é tão divertida, ou mais, como tinha imaginado. Especialmente pelo ar "continuas a olhar e é o Capitólio que te vai ter de arranjar um novo par de olhos, querido" que a Katniss faz ao Peeta. Por outro lado, estava curiosa em ver como o Sam Claflin se safava com o Finnick. Acho que faz um bom trabalho em mostrar as nuances que conhecemos do Finnick nesta parte da história, e quero vê-lo a interpretar o material que é revelado no Mockingjay.

A parte final do filme é arrepiante, para quem já conhece o que vai acontecer, mas temo que a acção não seja tão clara para quem não conhece os livros. A cena da árvore é marcada pela confusão e só depois, ao perceber a tramóia planeada por parte dos tributos-vencedores, é que faz sentido a sequência de acções nesse momento. Não tinha imaginado a cúpula bem da maneira como foi conjurada, mas gostei do conceito. E a Jennifer Lawrence tem um óptimo momento com a reacção da Katniss ao descobrir toda a conspiração, o facto de que o Peeta ficou para trás, e o que aconteceu ao Distrito 12. Lança o mote para o próximo filme, que promete.

2 comentários:

  1. Adorei a tua opinião e espelha o que achei do filme, e para mim o filme está melhor que o livro :D

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    1. Obrigada! Não sei se posso dizer que o filme é melhor que o livro, mas posso dizer que por uma vez o filme é tão bom como o livro, o que já é muito, muito bom e me deixa muito contente. ^_^

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