Parabéns, Calvin & Hobbes, Bill Watterson
Esta é daquelas edições especiais que vale mesmo a pena. É positivamente deliciosa. Com vários ensaios escritos pelo próprio Bill Watterson, dão a sua visão sobre uma série de coisas que o interessam no seu ramo de trabalho: sobre o estado da própria banda desenhada, sobre o seu método de trabalho, as suas influências, a sua postura quanto à estrutura das pranchas de domingo e ao licensing dos personagens - enfim, nestes últimos casos, algumas coisas que lhe deram dores de cabeça enquanto trabalhou em Calvin & Hobbes. Os ensaios em si são fascinantes. Mostram uma pessoa que gosta mesmo do que faz, com integridade, e que quer fazer o melhor para a sua arte. Acaba por fazer muito sentido que tivesse parado de trabalhar na tira quando parar, antes de ficar sem coisas para dizer, e de a deixar "gasta".
Fora os ensaios, a maior parte do livro consiste em tiras e colecções de tiras escolhidas pelo autor, com alguns comentários seus. Umas vezes a explicar de onde lhe veio a ideia para a tira, outras a comentar que a história não resultou tão bem, outras a mostar as suas favoritas ou que mais gostou de fazer, comentários a personagens e enredos, bem, e tudo. É uma visão honesta e descomprometida sobre o seu trabalho, e muito refrescante. Curioso que as tiras devem estar por ordem cronológica, e nota-se muito bem a evolução no seu trabalho - no traço dos personagens, na legendagem, no trabalho nas pranchas de domingo, nas quais teve mais liberdade, mais para o fim.
O Diário de um Banana, Jeff Kinney
Ora, bolas (para usar uma das piadas do livro), este livro é hilariante. Muito sintonizado com a mentalidade de um miúdo desta idade, cheio de aventuras, desventuras, problemas e preocupações. O Greg é um miúdo sem muitas qualidades redentoras, o que torna mais divertido vê-lo meter-se em sarilhos e retirar nenhuma moral quando as coisas correm mal. Algumas das sequências mais engraçadas são a do teatro, da casa assombrada, ou a dos cartoons, em que por uma vez, o Greg paga pelas asneiras que fez e o Rowley, o melhor amigo, fica com os créditos do trabalho dos dois (e do Greg). Justiça poética.
O design do livro é bem giro, em estilo de caderno (diário não, o que Greg diz que não tem paciência para diários), com um tipo de letra adequado e desenhos a acompanhar a narração, para explicar o que está a acontecer. As ilustrações são ao mesmo tempo engraçadas e de traço caricaturado e estranho, adequadas a um miúdo desta idade.
Batman: Ano Um, Frank Miller, David Mazzucchelli, Richmond Lewis
É um pouco difícil para mim avaliar o impacto que esta história terá tido no seu meio e no personagem, especialmente quando a história é mais velha do que eu e a sua abordagem é tudo (ou a maioria) do que conheci do Batman.
Contudo, é uma história interessante, especialmente pelo foco no Jim Gordon. Fiquei com pena dele, vir meter-se no buraco que é Gotham City, e ser parcialmente corrompido, mas sempre tentando manter-se íntegro, e fazer o seu trabalho. O Bruce Wayne vai mostrando como se torna no Batman, sempre por tentativa e erro, metendo-se me mais sarilhos do que será razoável conseguir sair. (Uma das vezes sobrevive a um prédio em chamas e uns quantos tiros... para 9 dias depois, estar a esquiar. *facepalm*) Tendo em conta que o Bruce é um ser humano, com capacidades espectaculares, mas sem super-poderes...
Gostava de ter visto um bocadinho mais do Harvey Dent e do que andava a fazer, porque nem sempre era claro. E da Selina, que se transforma em Catwoman perante os nossos olhos, mas não tem conseuência na narrativa, é apenas uma sidenote. Gosto do ritmo, de a história se passar ao longo de um ano, e do tom negro. É engraçado reconhecer onde certas cenas nos filmes do Batman do Christopher Nolan terão sido inspiradas. (A coisa dos morcegos e do manto de disfarce que dão, por exemplo.) Não me passou ao lado a menção ao Joker. Ah, e alguém ensine ao Frank Miller a duração da gestação de um bebé humnao, que 10 meses não são de certeza.
A arte dá o tom à narrativa, escura, cheia de sombras. Gosto bastante dos detalhes das cenas, mas não sou fã das caras dos personagens. A coloração é gira, muito a acompanhar a arte, com cores escuras e fortes, e muitas sombras para o Batman. Mas nos extras do livro vi scans das páginas na impressão original e fiquei curiosa em ver como ficariam, pareceram-me um tudo-nada mais claras e coloridas.
Esta edição traz uns extras, esboços das páginas e dos personagens, scans do argumento, comparações entre a impressão original e o desenho a tinta, ou entre o desenho a tinta, e a coloração sem a arte final, e ainda algumas capas. Destaque para as pranchas do desenhador em homenagem ao que conheceu do Batman na infância, muito giras. Em geral, uma boa colecção de extras, com um pouco de tudo, mas que me atiçou ainda mais curiosidade sobre como este processo funciona.
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