Batman: The Dark Knight Returns, Frank Miller, Klaus Janson, Lynn Varley
Esta história é mais velha que eu, o que quer dizer que o Batman presente na cultura popular a que fui exposta toda a minha vida é largamente determinado por esta interpretação. Cheguei a ver alguns episódios da série dos anos 60, que era engraçada, mas o Batman com que estou familiarizada é bem mais taciturno.
Portanto, consigo ver como esta história foi impressionante no seu tempo, e consigo apreciar isso, mas não é algo que me deixe surpresa. O Batman volta num momento complicado para a cidade de Gotham, cheia de
violência e de vilões à solta; mas a sua aparição também provoca o
despertar de vilões como o Joker - por isso coloca-se a questão se o
Batman surge por causa dos vilões, ou são os vilões que surgem por causa
dele.
Acho fascinante a relação que estabelece entre o Batman e o Bruce Wayne, a relação de dependência, e a maneira como um parece provocar uma desevolução no outro. Também gostei de ler sobre o que era sugerido sobre este futuro, tanto a
nível político como o estado de coisas na vida do Batman. É mencionado que um dos Robins morreu, Jason Todd, o que se torna interessante por
ser uma coisa que veio a acontecer mais tarde na continuidade normal,
marcando o percurso do Batman.
Algo curioso na história é o modo como integra na narrativa principal a cobertura noticiária dos acontecimentos, tanto em Gotham, como fora dela, no país. Acaba por ser uma crítica à postura dos media e também ao momento político que se vivia na altura, ainda na Guerra Fria, e apesar de afastar um pouco da história principal acaba por ser de certo modo um seu reflexo e um seu complemento, por isso gostei de acompanhar.
Não sou fã do tratamento das mulheres na história, porque às vezes parece que ninguém nos comics sabe escrever uma personagem tridimensional que seja mulher, só sabem recorrer ao cliché, e aqui não se fugiu a isso. A Selina Kyle foi reduzida a uma madame mal vestida e mal maquilhada e histérica (estão a dizer-me que a maior ladra do universo DC ficou reduzida a isto?), a nova comissária Yindel não é suficientemente desenvolvida para dar uma boa ideia da pessoa que é, e...
A Carrie Kelley. A Carrie é uma jovem que fica inspirada pelo Batman e assume o uniforme do Robin, tentando fazer a diferença, e acabando por ajudar o Batman numa situação complicada. Por um lado, gosto dela, do impulso puro que a impele a tentar ajudar num mundo cada vez mais perigoso, e gosto de como é engenhosa e consegue ajudar o Batman. Por outro, é questionável a sanidade do Bruce em aceitar uma sidekick não treinada, e preocupo-me em como esta loucura vai afectá-la.
A parte final do livro tem um conflito entre dois velhos amigos em lados diferentes da questão, reflectindo como os dois personagens são dois opostos, e honestamente não pensei que veria tanto do Super-Homem durante o livro. O papel dele neste futuro é tão distorcido quanto o do Batman, apenas duma maneira diferente, o que também é uma base para reflexão.
A arte torna-se interessante especialmente por duas coisas: a divisão frequente da prancha em muitas vinhetas, que me obrigou a esforçar visualmente, o que é uma coisa boa, e o trabalho de cor, em estilo aguarela, que muda ao longo dos capítulos confome a história, e dá um ar delicado a uma trama que é bem mais pesada.
Enfim, é uma história bem negra, muito pessimista, e tem bastante pontos de interesse, algumas observações certeiras, porventura, mas por outro lado também não me convenceu completamente. Não pretendo conhecer o personagem a fundo, mas algumas coisas não encaixaram bem com outras interpretações do Batman mais, er, canónicas. Enfim, os comics são feitos disto, diferentes interpretações, e se me esquecer disso acaba por ser uma boa história.
Batman: The Court of Owls, Scott Snyder, Greg Capullo, Jonathan Glapion
Este foi uma boa surpresa. O Batman está no seu elemento, a investigar um mistério que se desenrola em Gotham, e isso foi grande parte do que me cativou, usar uma caracterização clássica do personagem, ao mesmo tempo que é empurrado para um mistério que o desafia, talvez maior que as suas capacidades, e que o fazem sair da zona de conforto.
Adorei a ideia da Corte de Corujas, a Court of Owls, tanto pela imagem usada, a da coruja, que é um animal com uma simbologia muito particular, tal como o morcego. A coruja é em algumas culturas associada ao azar, à morte, e certas espécies de corujas são mesmo predadoras de morcegos, por isso é uma simbologia fabulosa para usar numa história do Batman. Além disso, as máscaras dos membros da Corte são ao estilo de uma família específica de corujas com um ar arrepiante, o que só aumenta a atmosfera ameaçadora que evocam.
Por outro lado, é fascinante ver o Batman em sarilhos, fora da zona de conforto, a confrontar-se com algo que não conhecia sobre Gotham, algo que esteve sempre debaixo do nariz dele, e que se conseguiu esconder das suas capacidades detectivescas. Toda a coisa tem um ar de teoria da conspiração, de segredos escondidos ao longo da história de Gotham, e foi delicioso de desvendar. Contudo, também apreciei ver o lado Bruce Wayne, como foi incorporado na narrativa e o peso que nela teve.
No geral gostei da arte, as pranchas têm por vezes um planeamento dinâmico, e o traço agrada-me; o que gostaria de destacar, contudo, é uma parte da história em que o Batman fica à mercê da Corte e se vê à beira de perder o rumo e a sanidade, o que no desenho se traduz por um posicionamento da prancha... inusitado. Contribui para trocar as voltas ao leitor e colocá-lo um bocadinho na posição do personagem. Aliás, toda essa parte da narrativa é tão boa de acompanhar.
Batman: Hush, Jeph Loeb, Jim Lee, Scott Williams
Esta é uma história de que gostei por uma razão semelhante à anterior: desafia o Batman, apenas duma forma diferente. Um inimigo misterioso manobra uma série de circunstâncias e faz o protagonista seguir de pista em pista, descobrindo que amigos e inimigos são marionetas neste esquema obscuro.
Apesar de ser uma história longa, conseguiu manter o meu interesse ao longo dos doze números sem problema, revelando aos poucos algo mais da trama, mostrando como o inimigo de identidade desconhecida manobrou os personagens relacionados com o mundo Batman.
Um dos pontos altos é, portanto, o elenco de personagens, o modo como os vilões e aliados do Batman se sucedem, e parte da piada é reconhecê-los e contá-los entre as aparições na história. Isso, e chegar à conclusão que conseguia reconhecer à partida muitos deles.
Entre todas os momentos da narrativa, destacaria a aparição duma pessoa que se pensava morta nesta altura, cujo percurso marcou o Batman e é capaz de o destabilizar; a ida do Batman a Metropolis; a aparição do Joker, que uma vez na vida nem sequer é responsável pelo que é acusado; e o papel da Catwoman na trama - é superestranho ver o Batman tão apanhadinho por causa dela, mas bem divertido também. (É claro que dá vontade de lhe dar um par de carolos pelo que faz no fim... ao Batman, quero dizer.)
Consigo acreditar no Batman meio distraído pela paixoneta pela Catwoman, andando dum lado para o outro sem chegar mais perto da identidade do inimigo... até certo ponto. A parte inicial da história envolve ele ir-se pendurando pelos prédios e alguém cortar-lhe a corda, caindo do prédio e espatifando-se todo... estão-me a dizer que o homem que planeia para tudo e mais alguma coisa nunca planeou para se proteger duma possível queda dum prédio em que não tivesse maneira de se pendurar em lado nenhum? Parece-me bizarro, tendo em conta o tempo que ele passa a trepar pelos telhados de Gotham.
Quanto ao inimigo misterioso, consegui adivinhar previamente um dos envolvidos; mas o outro, o puppet master, digamos, manteve-se no escuro. Talvez porque nunca são dadas propriamente pistas para o seu envolvimento, e porque está a fazer isto - só uma conversa com o Batman no final nos esclarece isso. Talvez por essa razão os seus motivos me pareçam fracamente delineados - se tivéssemos o livro todo para os explorarmos, isso não aconteceria. Mas posso acrescentar que foi muito esperto o vilão principal introduzir-se no enredo e parecer que é só mais um dos conhecidos do Batman a ser arrastado para a trama.
Bem, pelo menos o que parecia um livro longo acabou por se revelar rápido de devorar, cativante, e capaz de entreter, para além de juntar num só livro tantos dos personagens da família e do mundo Batman, e só por isso já valeria a pena explorá-lo.
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