domingo, 18 de janeiro de 2015

O Diário da Princesa III e IV, Project Princess (#4,5), Meg Cabot

Meg Cabot

Título original: Princess in Love (2002) /
Princess in Waiting (2003) / Project Princess (2003)

Páginas: 232 / 200 / 64

Editora: Bertrand / Bertrand / HarperCollins

Tradução: Irene Daun e Lorena, Nuno Daun e Lorena / José Luís Luna

No terceiro volume de O Diário da Princesa, a Mia tem finalmente um namorado, mas não é exactamente a pessoa por quem ela suspira. O Kenny convidou-a para sair no fim do livro anterior, e a Mia na sua imaturidade deixou a coisa avançar até serem oficialmente namorados. O que tem uma certa piada, porque a Mia passou o tempo todo a querer um namorado, só que agora que tem um, e passa o tempo todo a evitá-lo e a pensar em como vai acabar com ele.

Acho que o mais interessante disto tudo é o espaço para evoluir que a Mia tem ao longo dos livros. Ela pode ser uma princesa, mas não tem tudo resolvido, não sabe tudo, faz asneiras, dá dois passos para a frente e um para trás. Esta coisa de ela andar com o Kenny é uma confusão pegada, e a Mia não a gere da melhor maneira, mas acredito que tem boas intenções, e bem, apesar de nem sempre ir pelo melhor caminho, acaba por resolver as coisas.

Este livro também passa pela recta final do semestre escolar, pela época de exames, uma altura em que a Mia anda muito nervosa, e ninguém ajuda. A Lilly quer boicotar a escola; a Grandmère quer prepará-la a tempo para o seu primeiro discurso em Genovia; uma rapariga chamada Judith anda a passar mais tempo com o Michael, o que deixa a Mia com ciúmes; e alguém anda a deixar-lhe rosas no cacifo - mas da última vez que a Mia teve um admirador secreto, isso não correu assim tão bem.

A melhor parte do volume é que a Mia se abre um pouco com algumas pessoas da sua vida sobre a paixoneta que tem pelo Michael, o que se torna refrescante - e engraçado também, pelos "palpites" que toda a gente não se escusa a dar. E a maneira como tudo se resolve acaba por ser terrivelmente engraçada. A Mia não foge a dar uma de dramática, mas isso até torna as coisas mais interessantes, e é uma boa oportunidade de crescimento.

O quarto volume é inusitado na narrativa, pois a Mia está em Genovia desde antes do Natal, e vai passar cerca de um mês lá. Ora o livro começa a meio da estadia, e a Mia partilha connosco as entradas anteriores no diário. Só que como os dias dela em Genovia são muito agitados, geralmente as entradas não são longas, apesar de serem divertidas, pois não deixam de acontecer peripécias nas representações de estado a que a Mia vai.

Gostei bastante dos momentos em Genovia, porque deu para explorar a Mia num novo ambiente, e são introduzidos novos elementos, como o Príncipe René, um primo muito afastado que a Grandmère adoraria empurrar para os braços da Mia. Também há a questão dos parquímetros, que a Mia introduz inadvertidamente e acaba a ser discutida no parlamento - e o acompanhamento dela da questão depois de voltar a Nova Iorque é curioso de seguir.

O volume também engloba uma "neurose" da Mia quanto ao seu "talento secreto" - ela está na aula de Dotados e Talentosos, mas não sabe que raios é que é o seu talento para merecer lá estar, apesar de a Lilly lhe garantir que existe. Por outro lado, a separação do Michael enquanto está em Genovia deixa-a insegura, pois mal começaram a andar e tiveram de se separar, e portanto as "neuroses" da Mia entram em acção, dando origem a uma série de cenas divertidas.

O volume quatro e meio, Project Princess, é uma curta novela que faz a ponte entre os volumes quatro e cinco, e acompanha um momento em que a Mia e os colegas vão para a Virginia Ocidental trabalhar num projecto de caridade que passa por construir uma casa para uma família carenciada. O livro foi escrito com o propósito de doar os lucros a uma caridade, e por isso é bastante adequado que os personagens também empreendam esse tipo de experiência.

A piada do ponto de vista da Mia neste pequeno livro é que ela estava tão entusiasmada antes de partir, porque ia poder ajudar alguém (e poder curtir com o Michael nas horas vagas, esperançosamente), mas depois chega à Virginia e é tudo um pouco menos civilizado do que ela esperava, ou do que está habituada em Nova Iorque. O choque de expectativas é divertido.

Uma coisa que gostaria de apontar é a maneira como a Meg Cabot faz resultar a voz narrativa da Mia. Porque pensando bem, ela é bastante dramática, algo exagerada, e está sempre com uma fixação qualquer pouco saudável. O resultado é que na vida real, ela seria uma pessoa complicada de aturar, por vezes; no entanto, também é muito preocupada e muito dada, e mesmo fazendo asneiras quer melhorar, e isso acaba por fazer a diferença na sua caracterização.

Outra coisa que gosto de ver é a evolução da postura da Mia e dos outros personagens em torno dela. A Mia começa cheia de assumpções acerca de certos personagens que a rodeiam, e é muito bom vê-la vê-los sob uma nova luz. E por outro lado, é muito satisfatório do ponto narrativo ver como certas coisas já estão planeadas de antecedência, como algumas vão resultar assim e assado, e como outras não vão resultar de todo. Há uma série de pistas para isso e é bom reler e encontrá-las.

Quanto ao trabalho de tradução...credo. Já o disse na opinião anterior, gostava muito do tradutor dos primeiros dois livros, o Mário Dias Correia, e por isso sinto que fui de cavalo para burro com os tradutores em ambos os livros seguintes (terceiro e quarto). Eu não sou particularmente fã do trabalho do par Irene/Nuno Daun e Lorena, já os encontrei noutros sítios e não gostei por aí além.

Contudo, neste terceiro livro desta série... que DESASTRE, que horror, até dá vontade de chorar. Primeiro porque este pessoal não percebe nada de cultura geral e cultura popular, e não percebe nada da audiência alvo, por isso o livro está pejado, mesmo pejado, de notas a explicar cada uma das referências que a Mia faz.

Oh meus queridos, eu acho que ninguém no hemisfério ocidental precisa que expliquem quem é a Oprah, está bem? Nem há dez anos era preciso (quando o livro foi publicado). Especialmente quando vocês fazem porcaria e dizem que ela é uma "cantora norte-americana". *facepalm* Eu nunca vi a Oprah a cantar, mas se já tiverem visto, passem para cá o link do vídeo, por favor.

Depois estes tradutores fazem uma coisa que me me aborreceu brutalmente e até me deu assim uns instintos assassinos, porque cada vez que eu tropeçava num exemplo desta coisa dava-me vontade de esganar alguém. Cada vez que aparece o nome duma coisa, como o baile da escola da Mia, ou o nome duma organização da escola, ou algo parecido (não necessariamente da escola dela), os tradutores escolhiam manter o nome dessa coisa em inglês... e pôr uma nota com a tradução. *doublefacepalm*

Isto serve que propósito, exactamente? Estas organizações são ficcionais, não têm significado na vida real, não têm nenhum trocadilho associado, por isso qual era o problema em fazerem o vosso trabalho e traduzir o texto no próprio texto, e não nas notas???

Enfim, eu comprometi-me a ler a série e vou ler, mas já temo a leitura do próximo livro traduzido por eles, porque acho que ainda há mais um. *medo* Em comparação, o tradutor do quarto livro, que é outro (bom trabalho, Bertrand, em manterem um tradutor ao longo da série... pois, nem por isso), parece quase competente.

(Digo "quase" porque houve ali umas frases com uma formação meio estranha, o que geralmente quer dizer um tradutor a armar-se em esperto com expressões coloquiais... mas depois da tradução anterior adoptei uma atitude "não quero saber, não vou ligar, não tem nada a ver comigo" para me poupar a dor de cabeça.)

E pronto, daqui a um mês cá estarei, a opinar mais um par de livros da colecção, e esperançosamente não à beira de um ataque de nervos por causa dos tradutores. Agora é que as coisas vão ficar meeeesmo interessantes para a Mia, e mal posso esperar.

2 comentários:

  1. Adorava os livros da Meg! Marcaram sem dúvida a minha infância e só tenho pena que tenham deixado de ser traduzidos e do tempo que se esperava para os poder ter em português! Felizmente, para mim, que entretanto comecei a ler em inglês! 8 anos é muito tempo, para ver a saga da Mia traduzida por fim!

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    1. Também eu, e a autora é o meu maior desgosto com a Bertrand, que a tratou muito mal, e das séries dela que começou só terminou mesmo esta... e levavam tanto tempo a traduzir que fiz como tu - os últimos dois li em inglês, nunca cheguei a encontrar ou poder comprar os livros quando saíram em português. :/ Morria de felicidade se os encontrasse à venda em segunda mão por aí. xD

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