quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Harry Potter e o Príncipe Misterioso, J.K. Rowling


Opinião: Este livro parte-me o coração. Há muitas memórias que associo a ele, mas principalmente esta sensação de desastre iminente, de profunda tristeza (acho que sabemos todos porquê) que pinta o resto da narrativa. Tenho activamente de me lembrar de gozar o que leio, porque há tanta coisa divertida na história que seria um crime esquecer a sua presença.

Primeiro, gosto tanto de como está toda a gente tão hormonal. É extremamente divertido. Só que ao contrário do livro anterior, o Harry cresceu um bocadinho, e ganhou alguma inteligência emocional, e acho interessante vê-lo pensar na ideia do Ron e da Hermione juntos, e no que isso significaria. Um pouco ao modo de um rapaz adolescente sem noção, mas a cabeça dele está no lugar certo.

Depois, acho fascinante acompanhar as lições com o Dumbledore, em que ele e o Harry exploram o passado de Voldemort, na esperança de encontrar algo que o derrote no presente. A J.K. Rowling sempre deu um certo peso a quão importante o passado é, o quanto pode estar ligado com o presente e influenciá-lo, e isso é algo que ela examina aprofundadamente nesta questão. Aquilo que o Voldemort foi e é interessa-me bastante.

Gosto imenso do aspecto escolar, há algumas mudanças no corpo docente, como a entrada do professor Slughorn, que é bastante engraçado na sua queda para o favoritismo, mas no fim de contas uma pessoa decente, só um bocadinho repelente pela sua atitude. A exigência é maior, e fazem-se algumas coisas divertidas, como a aprendizagem da Aparição.

E gosto tanto dos jogos de Quidditch, mas a sério, que vontade de esganar o Harry. Ele consegue sempre ser castigado e perder o jogo final da época! Que tortura, nunca consigo ver o momento da vitória! As vitórias têm sido mais sofridas nestes últimos dois anos, e sabia melhor ver o resultado.

Ainda acho bastante interessante descobrir o que se passa nos bastidores, o encontro entre o Ministro da Magia e o Primeiro Ministro Inglês (por mostrar o contacto com o mundo Muggle), a intriga política que leva o Ministro a tentar recrutar o Haary, até as movimentações de Voldemort e dos seus seguidores.

Agora... a parte final do livro é uma tortura de ler. Tragicamente, fui spoilada para o final (ainda hei de falar disso aqui), e isto mesmo quando tencionava ler o livro em inglês (talvez tenha sido o meu primeiro em inglês), e tencionava comprar o livro dois dias depois de sair.

Não é por isso que é uma tortura. Saber, na altura, como ia terminar, aborreceu-me bastante, mas passei a leitura na expectativa de descobrir o que ia precipitar a situação. Custa-me é saber que desde o início o professor Dumbledore sabia que aquilo teria de acontecer, e passa o ano todo a preparar-se, a resolver-se, a aceitar talvez corajosamente aquilo que vai ter de ser. Como é que alguém vive tanto tempo como ele e ainda assim se prepara para um momento destes?

Custa-me também ler por causa do professor Snape. Não gosto particularmente dele como pessoa, porque tanta gente passou por tanto como ele e não usa isso como desculpa para ser um rufia com os seus alunos como ele faz. A amargura emana dele e é tóxica. Tenho compaixão pelo seu percurso, o tipo de infância e adolescência que teve levam alguém tão facilmente para maus caminhos, mas não posso aceitar que isso justifique o seu comportamento.

E custa-me porque tal acto mancha a alma, como bem sabemos na série, e o saber que teria de o fazer deve destruir uma pessoa, e isso é assustador. Dá-me a sensação que ele passou a vida a pagar por um pecado passageiro, com consequências duradouras; preocupa-me que isso leve a que o Dumbledore lhe peça algo tão duro. E preocupa-me ver que as circunstâncias se revelaram tão complicadas que eles viram isto como a única saída possível. Oh céus, isto deprime-me deveras.

E pronto, no próximo mês há mais. Tenho um bocadinho de medo. Acho que só li o último livro uma vez, e tudo o que me lembro é que me sugou a alma. Nunca fui capaz de reler, porque é tão triste e dramático e de partir o coração.

Título original: Harry Potter and the Half-Blood Prince (2005)

Páginas: 512

Editora: Presença

Tradução: Alice Rocha, Manuela Madureira, Maria do Carmo Figueira, Isabel Nunes

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