quinta-feira, 17 de agosto de 2017

99 Dias, Katie Cotugno


Opinião: Uau. Tenho 99% de certezas (heh) que poucos ou quase nenhuns autores se safariam a escrever uma história deste tipo. A situação em questão é delicada e envolve toda a gente metida ao barulho ter atitudes condenáveis, e pior, reincidir nas asneiradas que faz; e ainda assim, acho que a autora apresenta a questão com nuance, fazendo-nos entender porque este pessoal toma decisões terríveis, humanizando-os. Pontos bónus por isso.

Molly é uma jovem de 18 anos que esteve a estudar durante o 12º ano numa escola privada no Arizona; voltou a casa agora, antes da faculdade, para aguentar um Verão complicado antes de poder seguir o seu percurso académico. O dilema? Molly é amiga da família Donnelly desde sempre, ao ponto de a amizade profunda que tinha com o Patrick, um dos irmãos, dar em namoro. Um ano antes, Molly foi apanhada numa indiscrição: num momento em que o namoro estava complicado, envolveu-se com Gabe, o outro irmão Donnelly. E foi apanhada. Daí a sua fuga para o Arizona, para fugir ao bullying que se seguiu a tal revelação.

A escrita da autora é bem bonita e cativante; e melhor ainda, ela escreve de forma tão interessante. Ao longo do Verão, Molly vai examinar os seus erros e a sua relação com os Donnelly. Há um certo reactivar do "triângulo" durante o Verão, mas pelos olhos dela entendemos aquilo que devia ser óbvio: é preciso três para fazer uma asneira destas.

Há certos aspectos da relação dela com cada rapaz que preconiza uma ligeira manipulação e malícia da parte de cada um (é fascinante chegar ao fim e percebê-lo); de certo modo a Molly é a mais inocente no meio disto tudo, no sentido em que ela está a tentar honestamente resolver as suas cenas, sem intenção de fazer mal - apesar de no fim de contas, acabar a fazê-lo. Mas lá está, é difícil odiá-la quando se vê a confusão em que a cabeça dela está: é difícil não sentir compaixão.

Uma coisa que apreciei ler foi o sublinhar que a autora faz: foram precisas três pessoas para dançar o tango aqui. Após a "traição" inicial quem passou pior foi a Molly: é o mundo em que vivemos, uma mulher é uma galdéria enquanto que um homem é um macho quando ambos têm a mesma atitude. É triste, mas é empoderador ver lembrado que as culpas no cartório pertencem a toda a gente, e que a Molly não é uma santa ou uma pecadora.

Apesar de todas as patetices que comete, gostei de seguir a evolução da Molly. O Verão permitiu-lhe ficar mais segura de si, mais confortável na sua pele, e fazer um maior esforço para socializar e recuperar as amizades que ficaram para trás quando foi para o Arizona. Aprende a viver depois do fim do mundo como o conhecia, a ser caridosa para consigo e com os seus erros. E revê a relação que tem com a mãe.

(Que é uma escritora e publicou um livro sobre uma moça dividida entre dois rapazes... a Molly foi apanhada quando uma revista fez um artigo a revelar a inspiração da mãe; honestamente eu jamais perdoaria à minha mãe, fazer algo do género com uma revelação privada, mas a Molly é melhor pessoa que eu.)

Gosto do fim, que resolve o dilema de forma agridoce. Está toda a gente magoada com a maneira como se portaram uns com os outros, e por isso não pode exactamente ser feliz... mas é esperançoso. Que este pessoal siga com a sua vida, ganhe juízo e se volte a encontrar num lugar em que está preparado para uma relação séria. São jovens e aprenderam com os seus erros, e é realista que quaisquer relações descritas não sejam para o fim da vida (apesar de eu ter as minhas preferências).

Nota extra: o livro tem 99 capítulos, um para cada dia do Verão. Pontos bónus por a autora conseguir contar uma história coerente em que escreve um bocadinho todos os dias, e em que cada dia é essencial.

Título original: 99 Days (2015)

Páginas: 352

Editora: IN (Zero a Oito)

Tradução: Pronto a Editar Atelier (era só o que estava no livro; acho curioso que agora já nem se coloque o nome de uma pessoa... quer dizer, não tenho queixas da tradução, mas parece tão impessoal)

2 comentários:

  1. Bom dia!!!
    Já tinha saudades de vir aqui ao teu cantinho!
    Fiquei com muita vontade de ler este livro. Parece o tipo de história que me agradará bastante.
    Obrigada pela partilha.
    Beijocas

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    1. Oh, obrigada! :D É um livro com um tema algo controverso, mas acredito que a autora o escreveu duma forma que nos facilita identificar com ele. ;)

      Beijinhos e boas leituras! :D

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