Opinião: Uau. Tenho 99% de certezas (heh) que poucos ou quase nenhuns autores se safariam a escrever uma história deste tipo. A situação em questão é delicada e envolve toda a gente metida ao barulho ter atitudes condenáveis, e pior, reincidir nas asneiradas que faz; e ainda assim, acho que a autora apresenta a questão com nuance, fazendo-nos entender porque este pessoal toma decisões terríveis, humanizando-os. Pontos bónus por isso.
Molly é uma jovem de 18 anos que esteve a estudar durante o 12º ano numa escola privada no Arizona; voltou a casa agora, antes da faculdade, para aguentar um Verão complicado antes de poder seguir o seu percurso académico. O dilema? Molly é amiga da família Donnelly desde sempre, ao ponto de a amizade profunda que tinha com o Patrick, um dos irmãos, dar em namoro. Um ano antes, Molly foi apanhada numa indiscrição: num momento em que o namoro estava complicado, envolveu-se com Gabe, o outro irmão Donnelly. E foi apanhada. Daí a sua fuga para o Arizona, para fugir ao bullying que se seguiu a tal revelação.
A escrita da autora é bem bonita e cativante; e melhor ainda, ela escreve de forma tão interessante. Ao longo do Verão, Molly vai examinar os seus erros e a sua relação com os Donnelly. Há um certo reactivar do "triângulo" durante o Verão, mas pelos olhos dela entendemos aquilo que devia ser óbvio: é preciso três para fazer uma asneira destas.
Há certos aspectos da relação dela com cada rapaz que preconiza uma ligeira manipulação e malícia da parte de cada um (é fascinante chegar ao fim e percebê-lo); de certo modo a Molly é a mais inocente no meio disto tudo, no sentido em que ela está a tentar honestamente resolver as suas cenas, sem intenção de fazer mal - apesar de no fim de contas, acabar a fazê-lo. Mas lá está, é difícil odiá-la quando se vê a confusão em que a cabeça dela está: é difícil não sentir compaixão.
Uma coisa que apreciei ler foi o sublinhar que a autora faz: foram precisas três pessoas para dançar o tango aqui. Após a "traição" inicial quem passou pior foi a Molly: é o mundo em que vivemos, uma mulher é uma galdéria enquanto que um homem é um macho quando ambos têm a mesma atitude. É triste, mas é empoderador ver lembrado que as culpas no cartório pertencem a toda a gente, e que a Molly não é uma santa ou uma pecadora.
Apesar de todas as patetices que comete, gostei de seguir a evolução da Molly. O Verão permitiu-lhe ficar mais segura de si, mais confortável na sua pele, e fazer um maior esforço para socializar e recuperar as amizades que ficaram para trás quando foi para o Arizona. Aprende a viver depois do fim do mundo como o conhecia, a ser caridosa para consigo e com os seus erros. E revê a relação que tem com a mãe.
(Que é uma escritora e publicou um livro sobre uma moça dividida entre dois rapazes... a Molly foi apanhada quando uma revista fez um artigo a revelar a inspiração da mãe; honestamente eu jamais perdoaria à minha mãe, fazer algo do género com uma revelação privada, mas a Molly é melhor pessoa que eu.)
Gosto do fim, que resolve o dilema de forma agridoce. Está toda a gente magoada com a maneira como se portaram uns com os outros, e por isso não pode exactamente ser feliz... mas é esperançoso. Que este pessoal siga com a sua vida, ganhe juízo e se volte a encontrar num lugar em que está preparado para uma relação séria. São jovens e aprenderam com os seus erros, e é realista que quaisquer relações descritas não sejam para o fim da vida (apesar de eu ter as minhas preferências).
Nota extra: o livro tem 99 capítulos, um para cada dia do Verão. Pontos bónus por a autora conseguir contar uma história coerente em que escreve um bocadinho todos os dias, e em que cada dia é essencial.
Título original: 99 Days (2015)
Páginas: 352
Editora: IN (Zero a Oito)
Tradução: Pronto a Editar Atelier (era só o que estava no livro; acho curioso que agora já nem se coloque o nome de uma pessoa... quer dizer, não tenho queixas da tradução, mas parece tão impessoal)
Bom dia!!!
ResponderEliminarJá tinha saudades de vir aqui ao teu cantinho!
Fiquei com muita vontade de ler este livro. Parece o tipo de história que me agradará bastante.
Obrigada pela partilha.
Beijocas
Oh, obrigada! :D É um livro com um tema algo controverso, mas acredito que a autora o escreveu duma forma que nos facilita identificar com ele. ;)
EliminarBeijinhos e boas leituras! :D