Opinião: Curiosamente, não vejo muitos livros com o tema seres-de-outros-planetas a serem publicados no género Young Adult, actualmente. (Ou posso não ter tropeçado nos livros certos.) Talvez porque num género algo dominado por tendências, a Ficção Científica tem passado despercebida (exceptuando distopia e afins, claro está, mas esse é outro cavalo de batalha) - lá chegarão, o bom das tendências no mundo editorial é que de dois em dois anos mudam.
Aonde é que estou a tentar chegar? Obviamente, não tenho tido muita oportunidade para ler este tipo de livro, e por isso fiquei contente por poder ler esta história. Aquilo que encontrei foi uma história bem gira e satisfatória, que dá alguns motivos para reflexão, mas que podia ter sido mais e melhor trabalhada em alguns aspectos.
Alienated conta a história do primeiro intercâmbio escolar entre humanos e L'eihrs, os extraterrestres que fizeram contacto há um par de anos e que para comprovar que vieram em paz, trouxeram a cura para o cancro. Cara Sweeney é uma das pessoas escolhidas para receber um jovem L'eihr, o Aelyx. Mas muitos humanos ainda vêm os L'eihr com desconfiança, e por isso a notícia do intercâmbio gera muito descontentamento na cidade da Cara. Torna-se difícil evitar o escalar da situação...
Este foi um dos aspectos interessantes da narrativa. A questão da ignorância e do medo humano do desconhecido, e as reacções discriminatórias daí derivadas, são amplamente apresentadas no comportamento dos vizinhos da Cara e habitantes daquela cidade. O escalar da situação foi difícil de crer, pela rapidez com que resvalou para o extremismo, mas ao mesmo assustadoramente credível.
O que me leva à Cara, a protagonista. Gostei dela. É uma rapariga esperta, curiosa, motivada, resistente (o que ela atura...), e acima de tudo, com bom senso e que não se deixa intimidar. O que é importante, especialmente quando a gente maluquinha da escola e da cidade dela (e ainda são muitos) decide começar a ignorá-la e a tratá-la como persona non grata. Gostei de a ver enfrentar a ignorância e manter-se firme.
Quanto ao Aelyx, bem, é um pouco difícil respeitar o protagonista masculino quando se passa mais de metade do livro com vontade de lhe dar porrada. Aquele... esquema que ele e os outros estudantes de intercâmbio estavam a preparar é a coisa mais parva que vi, e até eu estava a ver que aquilo ia dar para o torto. Tendo em conta que os L'eihrs são supostamente extremamente inteligentes e analíticos, este "plano" idiota não está nada em linha com isso.
Outro aspecto que não me agradou e que a autora podia ter trabalhado melhor é a personalidade meio irritante do Aelyx. O que em si não é um problema, mas acho que preferia que a autora tivesse temperado a arrogância dele. Sei lá, um personagem doutro planeta, havia vários momentos engraçados e gags que podiam ser feitos com o conceito de "peixe fora de água". O Aelyx insultar inadvertidamente alguém porque não compreende as regras sociais humanas, ou explodir com a cozinha ao tentar cozinhar. As possibilidades eram imensas, mas tudo o que temos é este "o Aelyx sabe tudo, percebe tudo, os L'eihrs são os maiores, yay!". Muito aborrecido, não faz uma história interessante, e lá está, acentua a arrogância que ele exuda ao mostrar que sabe tudo.
A história... foi satisfatória, suponho. A parte das tensões com a presença dum L'eihr é interessante, mas já disse isso. A Cara e o Aelyx como casal são engraçaditos, e têm umas boas cenas juntos, apesar de me ter faltado algo para poder torcer completamente por eles. Alguma intensidade na relação fez falta, gostava de ter sentido melhor a aproximação entre eles. O que é estranho de dizer tendo em conta que a cena mais credível deles é uma em que estão a mostrar formas de afecto nas respectivas culturas - a cena é muito mais interessante do que estou a fazê-la soar, por isso a autora até sabe trabalhar química entre personagens, faltou-lhe foi trabalhar o resto.
Não há muito a acontecer na história para além disso. Apesar da situação de discriminação na história, não senti muita tensão no decorrer da narrativa, e por isso acho que aí as coisas precisavam de mais trabalho. Bem como os personagens secundários, pensando bem. Fora os pais da Cara (que têm uma história bem bonita), não há ninguém propriamente memorável, porque ninguém parece ter uma personalidade e vida próprias para além do que lhe exige a narrativa.
Quanto ao final... torci um bocado o nariz à decisão da Cara, mas suponho que sem a mesma não tínhamos segundo livro. Além disso, o final permite dar um vislumbre do mundo dos L'eihrs, do seu planeta e da sua sociedade. Foi coisa que me deixou curiosa ao longo da história, por isso é coisa que vou gostar de ver explorada no segundo livro.
Páginas: 352
Editora: Disney Hyperion
Agora conseguiste desmotivar-me um bocadinho... x)
ResponderEliminarOops. xD Sorry, mas ao mesmo tempo, se decidires lê-lo, pelo menos tens as expectativas no sítio certo. ;) É giro, mas nada de especial, e como não nutres o mesmo amor que eu por YA, não sei o que acharias... :S
EliminarRealmente, onde andam o resto dos livros sobre aliens? Houve ali uma altura em que parece que eles iam ser os novos vampiros, mas depois não sei o que aconteceu. Ou então é como tu dizes, a gente é que não tropeçou neles. Tirando aquela série da Armentrout e agora esta, não conheço mais nenhuma.
ResponderEliminarO Aelyx de certa maneira lembra-me o Sheldon de Big Bang Theory. xD
Não sei, perderam-se a caminho da Terra? xD Boa pergunta, também achei que iam ter mais destaque, mas isso não se concretizou. A bem dizer, FC só agora parece estar a ter o destaque que merecia, por isso talvez os extraterrestres venham por arrasto? :P
EliminarOhh, boa comparação. Pensando em retrospectiva, acho que a maneira como o Aelyx pensa, e "funciona", é capaz de ser bastante representativa do Sheldon. ;)
Li Sheldon???*.* Pois, deve ser por isso que gostei do Aelyx =P
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