Opinião: Este livro foi um belo presente e uma boa surpresa. Não estava à espera de gostar tanto. Gosto muito da Melissa de la Cruz e por isso vou seguindo o que lança, mas sempre com a noção de que o livro que tenho nas mãos não vai mudar o meu mundo. Apenas agitá-lo por algumas horas. A sinopse deste livro deixou-me interessada, claro, mas depois de ter acabado a série Blue Bloods não sabia se a autora era capaz de me voltar a encantar. Parece que não precisava de me ter preocupado.
É uma história simples e complexa ao mesmo tempo. Apresentando um elenco numeroso de personagens, bastantes dos quais têm direito a POVs, é uma história de intriga palaciana, com drama romântico à mistura. Mas a melhor parte é o mundo apresentado: um cruzamento entre fantasia e história alternativa, em que a preponderância de Avalon nunca se esbateu, levando a um mundo em que a magia, não a ciência, é o motor de evolução, e em que a Inglaterra venceu de modo triunfal a França na Guerra dos Cem Anos, ganhando domínio sobre o território francês e criando o Império Franco-Britânico.
Fascinante, apesar deste cenário de fundo ser apenas isso mesmo, apresentado para suportar a história contada. Não que me incomode, a maneira como foi trabalhado funciona bem assim, mas morri de curiosidade de saber mais sobre este mundo.
O enredo foca-se na viragem iminente de paradigma no Império: a rainha Eleanor e o seu Merlin, Emyrs (sim, é mesmo o Merlin) estão no fim da sua vida e preparam-se para passar o testemunho às suas sucessoras, a princesa Marie-Victoria e a feiticeira Aelwyn. Mas para isso, elas passarão por uma série de provas, considerar os seus desejos e deveres para o futuro, e lidar com uma ameaça ao império.
O elenco de personagens é abundante, mas não tive dificuldade em acompanhá-lo, e mais, acabei por me apegar a quase todos os personagens. O desenvolvimento dos mesmos não é extenso, mas é o suficiente para os tornar em pessoas de carne e osso para o leitor.
Sendo que muitos dos personagens se debatem com a questão de seguir aquilo que os faz felizes, ou aceitar as responsabilidades que recaem nos seus ombros, os desenvolvimentos românticos acabam por ocupar parte significativa e impelir o enredo, até porque estas são pessoas com papéis importantes no seu mundo, em que qualquer decisão que tomem vai mudar a vida de muitos. A autora acaba por levantar questões interessantes e resolver as coisas de modo bastante inesperado, trocando-me completamente as voltas.
Acho que os meus personagens favoritos foram o Wolf e a Ronan, dois personagens prontos a quebrar regras e a libertar-se da sua vida, mas constantemente a ser relembrados das suas responsabilidades. Achei tão divertida a maneira como se conheceram e adorei segui-los na sua corte enviesada por essa Londres fora. A Marie-Victoria, a futura rainha, por sua vez, sonha com uma vida simples e com um jovem guarda com quem formou um laço profundo. Irritou-me um pouco que ela fosse tão cega e desconsiderasse as suas responsabilidades daquela maneira, mas achei piada à sua personalidade discreta e culta.
Até da Isabelle fiquei a gostar, apesar de ela ter um feitiozinho mesmo horrível e meter-se em buracos que devia ter mais bom senso para não se meter. A sua história é complicada, e mais complicada fica ao longo do livro. O Leopold é credível como o charmoso com uma personalidade algo repugnante. E a rainha Eleanor e o Merlin, bem, esses têm mais na manga do que seria de esperar.
A reviravolta final... ah, as pistas estavam lá, e até foram bem plantadas, mas eu não vi o vilão até ser tarde de mais. Fiquei mesmo boquiaberta, e algo perdida, com as revelações. Achei que as coisas foram reveladas mais num tell do que num show, mas o conteúdo foi tão absorvente que nem me dei conta quando estava a ler. E fiquei curiosa em ver como isto se ia reflectir no desenrolar dos acontecimentos a partir daqui.
Agora quando cheguei ao final, mesmo... custou-me. Estava a chegar ao fim do livro e a pensar "mas isto não pode acabar já aqui", primeiro porque não queria abandonar este mundo, e depois porque apesar da autora fazer um bom trabalho a apresentar um final adequadamente fechado, há tanta coisa por explorar que seria um desperdício se não houvessem mais livros passados neste mundo. Não parece haver grande informação sobre uma sequela, mas vi por aí a referência a isto ser uma "série", o que pressupõe sequelas. E me deixou muito feliz.
Em suma, não é uma obra-prima, nem um livro tão complexo como pareceria, mas à mesma bastante satisfatório e cativante. A autora costuma criar cenários de fundo bem interessantes para os seus livros, e este não é excepção. Dou por mim a devorar os livros dela e parece que não vou parar tão cedo.
Páginas: 384
Editora: Disney Hyperion
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