Opinião: Este livro foi uma boa surpresa. Gostei do primeiro livro da trilogia, mas também o achei... fraco. Faltava-lhe algo. A autora tinha que trabalhar melhor o enredo. Os personagens não cativavam e a história não transmitia uma mensagem clara. Apesar disso, a premissa era muito interessante e acabou por ser uma leitura que "embalava" e de viragem voraz das páginas. Portanto não sabia bem o que esperar do segundo volume, mas aquilo que recebi foi bem mais do que estava à espera.
Gostei muito mais deste livro. Suponho que algumas coisas menos boas que apontei no primeiro ainda estão lá, em parte... mas sinto que a autora as soube trabalhar melhor. O ritmo da narrativa não me pareceu tão estranho, e fiquei mais investida nos personagens e nas relações estabelecidas neste livro. A autora consegue apresentar uma sociedade totalmente diferente da do primeiro livro, e melhor, achei esta sociedade fascinante e com algo para dizer sobre as relações humanas.
Gostei mais do worldbuilding neste livro, creio que fez tudo mais sentido para mim. Os dois aspectos que condicionam Sylum são bastante... científicos, e nisso tenho de louvar a autora, porque ela parece ter feito alguma pesquisa para criar pelo menos situações cientificamente plausíveis. Tanto no aspecto número 1, que afecta a população masculina, e que encaixou mesmo bem com algo que estudei no meu curso... como no aspecto número 2, que além de explicar o porquê das pessoas se verem impossibilitadas de sair de Sylum, ainda explica (na minha opinião, já que a autora não tornou isso claro) o tipo de atitude que os habitantes de Sylum têm.
Também achei mais interessante o tipo de sociedade que a autora construiu. É uma sociedade matriarcal, e as mulheres mandam e têm o poder, sim... mas continuam tão prisioneiras do sistema como se fosse uma sociedade patriarcal. O poder que detêm é ilusório, se acabam por ter as suas opções tão limitadas - ou casam e viram uma máquina de parir, ou tornam-se "soltas" e vêem direitos básicos serem-lhes recusados, em troca dos direitos que clamam para si. Esta sociedade é um comentário sobre como a desigualdade entre os seus elementos não é a resposta, e é uma análise fantástica sobre relações entre homens e mulheres, com certas nuances que a autora introduz.
Também achei mais interessante o tipo de sociedade que a autora construiu. É uma sociedade matriarcal, e as mulheres mandam e têm o poder, sim... mas continuam tão prisioneiras do sistema como se fosse uma sociedade patriarcal. O poder que detêm é ilusório, se acabam por ter as suas opções tão limitadas - ou casam e viram uma máquina de parir, ou tornam-se "soltas" e vêem direitos básicos serem-lhes recusados, em troca dos direitos que clamam para si. Esta sociedade é um comentário sobre como a desigualdade entre os seus elementos não é a resposta, e é uma análise fantástica sobre relações entre homens e mulheres, com certas nuances que a autora introduz.
Apreciei ler sobre certas subtilezas da sociedade, como o equilíbrio de poder associado ao toque - uma coisa aparentemente tão simples tendo um significado tão grande. Gostava que a Gaia tivesse compreendido melhor e mais cedo como é que esta sociedade funcionava, as suas regras... mas no caso particular em que estou a pensar, creio que o Peter estava ciente de que a Gaia não compreendia as ramificações das acções de ambos. Gera uma discussão curiosa sobre consentimento e escolha.
Quanto à Gaia e aos seus pretendentes... é engraçado vê-la numa posição em que se vê alvo de tanta atenção. Mencionei o que achava do Peter (basicamente é um pateta que não tem bom senso nenhum); já o Will parece-me uma rapaz com a cabeça no lugar, que pelo menos respeita a Gaia... gostei mais do jeito discreto dele.
O Leon, esse, coitado, tem a cabeça feita num oito, vindo duma situação terrível, e ainda vem-se meter neste manicómio que é Sylum. Lida inicialmente um bocado mal com o que encontra, mas tenho de reconhecer, tinha razão em puxar as orelhas à Gaia. Ela precisava disso. Aliás, ele lida com a Gaia duma maneira... nada aborrecida. Compreende-a e aceita-a melhor do que ela pensa, apesar de ser péssimo a exprimir afecto, o que é tremendamente irritante, mas estranhamente cativante. Bem, pelo nunca haverá um momento enfadonho com eles os dois. Não me facilitam a vida, mas vou torcendo por eles.
Quanto à Gaia... bem, a miúda sabe mesmo como arranjar sarilhos mal chega a algum lado, e é bastante fã de gestos grandiosos, se para aí estiver virada. É engraçado como mal chega a Sylum e começa logo a quebrar regras... depois tenta integrar-se, tentando aceitar e cumprir as regras, só que isso também não corre muito bem. Mata-lhe completamente o espírito.
É curioso o equilíbrio de forças, ou de convicções (será a melhor palavra) que se gera entre a Gaia e a Matriarca. É em parte um conflito geracional, entre jovens e velhos (se é que posso chamar velha à Matriarca)... mas também uma questão de convicções. A Gaia acredita no seu trabalho de parteira e na protecção das suas pacientes... é fascinante, como a autora conseguiu meter ali uma discussão pró-escolha/pró-vida, e ainda mais sem ninguém lhe cair em cima, considerado que os americanos são um tudo-nada conservadores.
A Gaia tem uma evolução intrigante, com muitos avanços e recuos, mas quando é preciso, o coração dela está no sítio certo. Talvez até demais, porque quando mete uma coisa na cabeça, ou se dedica a uma coisa, leva tudo à frente, e às vezes esquece-se um bocadinho dos que a rodeiam. Espero que entretanto melhore um pouco e conheça duas coisas novas, sensibilidade e ponderação.
A parte final do livro põe as coisas num ponto que me deixa com muita vontade de ler o próximo. As mudanças em Sylum prometem. Enfim, acho que diria que este livro me deu muito mais que pensar que o outro. Fico feliz por ver que este livro é melhor que o anterior. Às vezes o segundo livro de uma trilogia é mais fraco, e anima-me ver que aqui não é o caso.
Título original: Prized (2011)
Páginas: 432
Editora: Everest
Tradução: Maria João Rodrigues
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