Opinião: Ahhhh porque é que isto não saiu cá para fora mais cedo? Tipo antes do último livro da série? Não tinha lido nenhuma das histórias que já tinham sido publicadas. Primeiro porque me aborrece deveras andar à caça dos milhentos contos que às vezes parecem acompanhar certas séries. Depois, porque quando soube da publicação deste livro, achei por bem esperar.
Contudo, teria sido interessante ler algumas destas coisas em ordem cronológica, ou junto aos livros onde são discutidas. Ah, mas ainda assim, soube-me tão bem ler o livro. São contos, pequenas cenas, às vezes, que esclarecem pontos da série. Não essenciais, mas intrigantes. E como disse, soube-me bem. Poder passar mais algum tempo com estes personagens, com este mundo.
The Keeper: é uma história sobre a Michelle Benoit, a avó da Scarlet. Relata a sua visita a Luna quando era jovem, e como os laços com Luna levam a que receba a Cinder - é de partir o coração, ver o que foi feito à Cinder quando era pequena, o que ela teve de suportar, as transformações exigidas. Contudo, o melhor desta história é que nos dá um vislumbre da relação da Scarlet com a avó, que eu acho bastante interessante, porque a Scarlet tem a quem puxar.
Glitches: funciona quase como uma continuação da anterior, porque pega na Cinder depois de acordar, e mostra-nos a sua apresentação à sua nova família. Gostei de ler sobre ela a descobrir as suas novas capacidades cyborg, e sobre a reparação da Iko, que é certamente uma andróide com personalidade, algo raro. E achei fascinante a despedida do Garan da família, quando descobre que está doente - porque quase tive pena da Adri.
The Queen's Army: sobre o Wolf e como ele foi parar ao "exército especial" de soldados da Levana. Dá uma certa dimensão ao que ele experiencia durante a série, como se sente em relação às modificações corporais e a ser um peão nas mãos da Levana. Dá vontade de lhe dar um abraço ou umas festinhas, porque o Wolf é demasiado gentil e adorável para encaixar neste mundo, e porque é assustador ver um miúdo a suportar estas mudanças.
Carswell's Guide to Being Lucky: oh Thorne, you lucky bastard. Tens sorte que as pessoas gostam de ti. Achei este conto uma visão esclarecedora sobre como a cabeça dele funciona. Nunca pensei que ele fosse um menino rico e privilegiado; mas até faz sentido, porque as expectativas do pai e a tensão com ele levam a que o Thorne vá na direcção contrária, criando esquemas em cima de esquemas para se afastar daquela vida; e ele até é bem engenhoso, muito malandro, e exsuda mais confiança do que provavelmente sente. Fez-me pensar na relação que ele tem com duas meninas na série. A Cinder compreendeu o brincalhão que tem à frente, e por isso responde à altura às asneiras que lhe saem da boca; a Cress, apesar de toda a sua inexperiência, topou as ligeiras crises de consciência que ele tem às vezes, e levou-o a ser essa pessoa melhor que ele é capaz de ser, às vezes.
After Sunshine Passes By: um conto sobre a Cress quando era mais nova, uma shell no meio de outras crianças shell Lunares. Vemos como ela vai parar ao satélite; e curiosamente, o conto estabelece um paralelo entre ela e o Wolf - ambos desesperados para agradar os seus mestres taumaturgos, para evitarem um destino pior. Gosto muito de ver como a Cress usa a sua imaginação, e o seu optimismo, como forma de lidar com o pior que a vida lhe traz.
The Princess and The Guard: pelo título, é claro que os protagonistas são a Winter e o Jacin. O conto relata alguns momentos do passado deles, desde que eram crianças, e é adorável vê-los crescer juntos. À semelhança do Fairest, esclarece o passado da Winter de modo a mostrar quem ela é no presente da série: vemos o acontecimento que a faz desistir de usar os poderes lunares, aquilo que a Levana lhe faz, e é tudo explicado perfeitamente. O Jacin desiste de algo que queria muito fazer, o que mostra um pouco a personalidade dele.
The Little Android: céus, esta adaptação é brilhante. Senti o mesmo a lê-la que a ler o Cinder - os pontos principais da história original estão lá, mas fantasticamente encaixados neste mundo tão diferente. A pequena andróide que salva um jovem, apenas para se apaixonar por ele e ver a aproximação dele a outra rapariga. Contudo, o mais fascinante é a ressonância de certas cenas: devido a uma avaria, a andróide sente dor quando caminha. Dor, uma coisa tão tremendamente humana. A cena final encaixa tão bem na questão do sacrifício final do original; mas podia ser um pouco menos confusa, acho que não esclarece bem o que está a acontecer até ser tarde demais.
The Mechanic: a cena em que a Cinder e o Kai se conhecem, vista do ponto dele. É fácil esquecer que tecnicamente foi o Kai que começou isto tudo; era ele que procurava inicialmente a Selene, ainda que partindo dum desejo ingénuo mas certeiro de se livrar da Levana. Percebe-se o que ele viu na Cinder, uma jovem simples, despretensiosa, natural. Um contraponto interessante ao final do Cinder.
Something Old, Something New: é puramente indulgência, mas uma muito bem vinda. Um conto que decorre algum tempo depois do fim do Winter, conta-nos o que se passou com o pessoal entretanto, e é delicioso, poder passar mais algum tempo com estes personagens, saber o que lhes tem acontecido. Gosto de os ver juntos, ver como é fácil o companheirismo, agora que já não têm alguém a tentar matá-los. Além disso, é super divertido ver como eles estão no meio de uma tempestade mediática. Acho piada à intriga em que a maior parte dos personagens se envolve para dar a volta a outra personagem - é tudo feito dum modo orgânico, e agrada-me ver um momento de felicidade, o primeiro de muitos, espero. Ah, vou ter saudades deste pessoal.
Páginas: 400
Editora: Feiwel & Friends (MacMillan)
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