quinta-feira, 26 de maio de 2016

Rainha Vermelha, Victoria Aveyard


Opinião: Vamos abordar primeiro o mais importante: NÃO. SE. FAZ. UM. FIM. DAQUELES!!! Céus. Sou capaz de ter morrido um pouco de antecipação, e o cliffhanger deu cabo de mim. Não se termina assim um livro! Agora sinto-me em pulgas para continuar a ler, e não tenho aqui o segundo livro. Raios.

Pronto, agora vamos ao que realmente interessa. Este livro é bastante derivativo, suponho, no sentido em carrega demasiadas referências de coisas que já conhecemos (Hunger Games, um pouquinho de Shatter Me, talvez um nadita de A Song of Ice and Fire, e não li o The Selection, mas os pontos-chave estão lá) neste género...

Contudo, não considerei que fosse derivativo no mau sentido. Mais como se estivesse a desenvolver um diálogo com esses livros, a acrescentar um pouco aos argumentos que faziam, a expandir certos aspectos deles. Pareceu-me que havia uma certa inteligência na maneira como a Victoria usou esses elementos, uma qualidade deliberada que apreciei.

Não que não se note que isto é o primeiro livro da autora. Há uma certa fraqueza no enredo, na narrativa. Pontos que são buracos que qualquer pessoa pode escavacar e expor como um problema da mesma. Coisas que podiam ser facilmente trabalhadas, e que um editor - pelo menos da maneira como os americanos trabalham - tinha a obrigação de fazer trabalhar.

Exemplos: er, é bastante óbvio quem é que está por trás da reviravolta, e muito fácil começar a desconfiar dessa pessoa cedo; e, bem, nem vamos falar de como a líder da rebelião confia, como ela própria diz, nas incertezas do amor adolescente. Era bastante óbvio que aquilo ia dar asneira.

Por outro lado, oh, a Victoria escreve intriga e conflito e suspeita como ninguém. A tensão de a Mare ser uma Vermelha a viver entre Prateados, a intriga da corte, os pequenos dramas escondidos, os segredos que esta gente carrega, as difíceis decisões e lealdades, e as reviravoltas que mudam o jogo. Manteve-me a virar as páginas cativada, voraz, sem vontade de parar de ler.

Gostei da Mare como protagonista, ela é pragmática, ciente das desvantagens da sua vida, mas decidida a lutar pelos seus. Ela vai parar à corte dos Prateados, mas não é exactamente o protótipo da protagonista tontinha, sempre a cometer erros e ingénua, condenada a repetir as suas asneiras... quero dizer, ela faz asneiras, mas é mais ciente do mundo em que agora vive, um pouco mais astuciosa.

É claro que, por razões de enredo, depois vira burra e confia em quem não devia confiar, numa reviravolta que até eu estava a ver que ia acontecer, mas isso é mais da inépcia da Victoria a introduzir esse pedaço do enredo.

Fiquei muito curiosa com o worldbuilding. Soube-me a pouco, queria saber mais, mas interessou-me bastante as divisões entre Prateados, famílias, e poderes, os conflitos que Norta tem com os outros países, as desigualdades sociais entre classes de Norta, o que aconteceu no passado para evoluir até aqui... espero que sejam pontos a desenvolver no próximo livro.

O elenco de personagens secundários reúne uma série de gente interessante que quero continuar a ver: a rainha Elara, a Evangeline, o Julian, a família da Mare, a corte Prateada, ... o Cal e o Maven, que são bastante definidos pela sua ordem de nascimento, e isso é fascinante de ver. A Mare tem uma relação interessante com cada um, apesar de não ter propriamente a ver com um triângulo amoroso, como ouvia todos dizerem, só que as pessoas estão tão condicionadas a vê-los, só porque há dois rapazes jeitosos nas redondezas... enfim.

E pronto, pode ter alguns defeitos, mas raios me partam se não me diverti a lê-lo. A Victoria tem uma maneira de escrever que é bem envolvente, e até vislumbro uma certa maneira inteligente de criar a sua história; vou querer continuar a acompanhá-la, certamente.

Título original: Red Queen (2015)

Páginas: 352

Editora: Saída de Emergência

Tradução: Teresa Martins de Carvalho

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