segunda-feira, 13 de junho de 2016

A Court of Mist and Fury, Sarah J. Maas


Opinião: Se isto fosse um filme ou uma peça de teatro, merecia uma ovação em pé. Porque, caramba, estou tanto chocada como bem impressionada com a Sarah e a mestria com que ela escreveu este livro e mexeu com as peças de xadrez, e com o meu coraçãozinho frágil. Não é fácil fazer a proeza que ela fez, e tenho a certeza que com qualquer outro autor eu já me estava a preparar para o deitar abaixo, mas com ela, bem, ela escreve duma maneira hipnotizante e eu vou atrás tipo "sim, mestre".

Bem, depois dos acontecimentos finais do livro anterior, era de esperar que a Feyre passasse uns maus bocados por causa do que tinha acontecido Under the Mountain. Tudo aquilo deixou uma marca (não só nela, mas ela é a narradora, portanto...), e as primeiras 100, 150 páginas são um pouco pesadas de ler por causa disso. Custou-me imenso ler e ver a minha protagonista perder o fogo que era parte da sua personalidade, deixar-se arrastar pelos acontecimentos, deixar que os outros fizessem dela uma boneca.

É que o problema é que não é só ela a sofrer de stress pós-traumático; podemos argumentar que quase todo o mundo féerico, especialmente aqueles que passaram 50 anos fechados Under the Mountain ou presos numa maldição, sofre do mesmo. O problema é também que a dor faz as pessoas perderem-se a si próprias, sejam humanas ou féericas, se o deixarem, se se fecharem em si, se não confiarem nos que amam.

Isso põe uns constrangimentos terríveis na Spring Court e nos que aí vivem (e no mundo féerico também, mas aqui ela é o foco). A certa altura parecia que todos estavam a sofrer, à sua maneira, no seu cantinho, sem estender a mão uns para os outros. Houve alturas no outro livro em que mostraram uma frente mais unida. E quando cada um fica fechado em si, sem tentar compreender e aproximar-se do outro, bem, é claro que as coisas correm mal. E que isto já não era ambiente para a nossa protagonista.

E pronto, há um deslocamento espacial da Feyre, e ela vai parar à Night Court por causa do acordo que tinha feito com o Rhys, mas também por... outras coisas, entre elas o facto de, como eu tinha previsto, eles serem as melhores pessoas para fazer a Feyre voltar a encontrar um equilíbrio consigo própria.

E se eu não soubesse já que a Sarah é fã de Anne Bishop, raios, que eu a topava em cinco minutos com este livro. Certas características da Night Court são totalmente uma homenagem a uma certa corte dos Sangue dos livros das Jóias Negras. O sentido de humor, a camaradagem e união, a ideia que estas pessoas são muitíssimo poderosas e podiam estar neste momento a arrasar tudo, e mesmo assim põem as suas consideráveis capacidades ao serviço de algo maior que eles... não sei, as vibes que eles me deram eram totalmente Bishopianas, mesmo sendo as suas próprias pessoas, diferentes dos que homenageiam.

Não posso falar muito em pormenor do Rhys, porque metade da piada é ler em directo; mas posso dizer que fui reler a minha opinião do livro anterior, feita há um ano, e apetece-me rir a modos que histericamente. Estava tão certa e tão errada ao mesmo tempo, meu Deus, ao escrever aquelas palavras, que é mesmo de cair para o lado.

Digamos apenas que a Sarah escreveu aquilo que eu nunca acharia que queria, e melhor, conseguiu criar uma evolução emocional credível, conseguiu responder às minhas dúvidas, conseguiu esclarecer melhor o carácter dele e redimir algumas coisas, sem tentar justificar. Digamos que é das melhores reviravoltas que já li, especialmente por ter conseguido com que eu embarcasse nela. Raio da mulher que conseguiu com que eu mudasse de ideias em relação a um tema que eu não achava que fosse passível de mudar de ideias. É o que dá armar-me em irredutível.

É bastante óbvio que gostei de conhecer a Night Court e seus intervenientes; a exploração da mesma dá uma perspectiva diferente do mundo féerico e até do que se espera deles. Achei a Amren tão interessante, pelo seu mistério e capacidades; já o trio Mor-Cassian-Az é tão divertido e merecem levar uns calduços para ganhar juízo. E pronto, posso dizer que achei piada à relação da Feyre com o Rhys, sempre a meter-se um com o outro.

Há algumas pessoas que eu estou a ver a juntarem-se à equipa Night Court, como as irmãs da Feyre, pelas razões óbvias e por algumas não tão óbvias, mas vai intrigante ver a coisa desenrolar-se; e o Lucien, que esteve tanto tempo desaparecido na narrativa, por força de maior - já estava a sentir a falta dele, e o fim acho que garante que ele vai saltar para outro lado (adorei o ar de desconfiado dele). Gostava ainda que se resolvesse a questão com a Summer Court, porque até tinha gostado deles, e podem ser aliados valiosos.

A narrativa pode sofrer um bocadinho de segundo-livro-ite, ou seja, as pecinhas de xadrez estão todas a movimentar-se sem fim à vista, a preparar o clímax da trilogia, no terceiro livro. Vemos a ameaça maior a concretizar-se, os personagens dão passos para tentar travá-la, mas ainda não é desta, claro. Estou muito curiosa com a ameaça vinda de Hybern, porque pelos vislumbres que temos, é claro que um jogo maior está a decorrer, e nós nem vimos metade. Preocupa-me pensar no que será preciso fazer para serem derrotados.

O final, céus, matou-me. A aflição com uma tragédia, o encadeamento de traições, o optimismo que vulnerabilizou os nossos personagens: tudo se junta para os colocar numa posição muito frágil. Fiquei a roer as unhas. É certo que estes acontecimentos prometem coisas muito excitantes no terceiro livro, mas no momento... tanta tensão, tanto nervosismo. Gostei de como a Sarah não foi pelo cliché óbvio, e que as pessoas certas compreenderam o que estava por trás do engano que, admitamos, era preciso para desarmar uma situação complicada...

Caramba, e agora lá vou eu sofrer um ano, à espera de saber o que vai acontecer a seguir. É a história da minha vida. Espero que a Sarah tenha à minha espera coisas muito fixes, e tortura como só ela sabe fazer. De certeza que vai ser delicioso de ler.

Páginas: 640

Editora: Bloomsbury

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