Opinião: Topseller, esta capa? Não. Não, não e não. Não, não, não. Não. Por favor, como é que conseguem produzir capas perfeitamente adequadas para outros géneros, e fazem até coisas imaginativas nalgumas delas, mas depois em romances históricos parece tudo feito por um puto de 5 anos no Paint, colado com cuspo?
A sério, detesto esta moda de montagem de uma figura humana em cima duma imagem duma propriedade antiga. E joga-se para ali o texto em cima, e já está. (Não são os únicos culpados, mas pronto, agora vão levar por tabela.) Não há preocupação em fazer tudo de forma harmoniosa, em que pelo menos se faça parecer que as imagens fazem, de facto, parte umas das outras.
Continuando. Ai, Sofia, Sofia, só disparates, miúda. tsk-tsk *abana a cabeça*
Neste segundo volume da série, a Sofia (a protagonista) encontrou o seu conto de fadas com Ian Clarke. O casamento aproxima-se a passos largos, os preparativos estão em marcha... mas a Sofia só mete os pés pelas mãos, e não consegue evitar a série de desastres que se acumulam, antes e depois da cerimónia... por seu lado, o Ian também está a agir de forma um bocadinho estranha, e a Sofia morre de medo que ele se tenha arrependido.
Aiai... só tenho a dizer, as peripécias em que a Sofia se mete? Na sua maioria, hilariantes. Nesses casos a autora faz render muito bem o caso de "peixe fora de água" que ela é, e consegue criar situações em que a falta de familiaridade da Sofia com os costumes do século XIX levam a situações caricatas. A minha favorita? A do casamento, o choque que a rapariga dá ao padre ao confessar uma certa coisa, e a maneira como ela (e o Ian depois junta-se à festa) manipula o padre para continuar a cerimónia. Brilhante!
E pronto, na maioria a autora escolhe bem as situações em que a Sofia se mete em sarilhos. Ou pelo tal desconhecimento dos costumes que falei ali em cima, ou por ela não deixar de ser quem é, e se indignar com certas coisas, e tentar ser a mulher independente que era no século XXI.
Há ali momentos em que a autora exagera um bocadinho na situação, diria eu. Há uma ou outra coisa que me soaram falsas, pouco credíveis. A Sofia até pode desconhecer muita coisa do século XIX, apesar de ser uma Austenófila, mas há faux pas que ela comete que podiam ser evitados se ela tivesse um pouco mais de bom senso. (Sair de casa de calças? Oh Sofia, até eu sei que é uma péssima ideia.)
É uma falha na caracterização; não aprecio quando os autores fazem dos personagens mais tolinhos do que são ou deviam ser. No caso da Sofia, ela deveria saber pelo menos escolher as suas batalhas. Sabe que o Ian é um homem do século XIX, e não entende certas coisas. Não seria melhor lutar por aquelas que realmente a apaixonam? (Neste caso, a coisa das calças é parva. A dela querer fazer algo por si própria, essa sim, é merecedora de discutir com o Ian.)
No seguimento da Sofia ser uma tonta? Oh por amor da santa, o desentendimento deles é tão parvo. Ela interpreta que uma coisa que ele diz... à luz do século XXI. (O homem pede "um tempo", porque quer umas horas para arrefecer a cabeça.) E a Sofia entra em paranóia. Oh Sofia, esta gente não sabe o que é divórcio, boa? O próprio Ian diz vezes sem conta que está ali para ficar, e ela joga a toalha ao tapete à primeira.
Eu sei, tem a ver com as inseguranças da Sofia acerca de pertencer ali, se alguma vez o conseguirá fazer, e um reconhecimento que não é só amor e uma cabana. Mas a sério, detesto quando os autores fazem dos seus personagens tolos. Acho que é um pouco de inexperiência da Carina; acredito que mais para a frente na sua obra deixe de fazer estas falhas de caracterização.
É porque de resto, a autora até tem boas ideias na maneira como evolui o enredo. Para além dos sarilhos em que a Sofia se mete, apreciei o "mistério" das jovens que morriam misteriosamente. Foi uma ideia inteligente, usar a questão das crinolinas. E portanto denota algum conhecimento da época que me agrada.
O elenco de personagens secundários é fantástico. Alguns são caricaturas, e o objectivo é mesmo serem-no, como a tia Cassandra, impossível e uma Lady Catherine de Bourgh brasileira, ou o Dimitri mulherengo. Outros fazem parte da família no fim, e os pedacinhos de história própria que vemos para eles são deliciosos, como a Madalena, o Gomes, a Elisa ou o Lucas, até "o outro senhor Clarke", o Thomas, e a Teodora...
O final é tão giro. Um bocado dominado pelos dramas da Sofia, que passou o livro obcecada com os modos de dar à luz no século XIX, e a sonhar com cesarianas (a sério, miúda, acalma lá os cavalos, inda há muita gente a dar à luz de forma mais ou menos natural no século XXI, não é tudo cesarianas), mas muito giro. Gostei imenso da reacção de toda a gente ao acontecimento, e gostei dos saltos no tempo para vermos mais um bocadinho do felizes para sempre.
Gostei particularmente do último salto no tempo. A Sofia arranja maneira de enviar algo à Nina, a sua maior amiga do século XXI, 200 anos depois de ter vivido. E é adorável, e achei tão interessante como a autora conseguiu criar ali uma ligação através do tempo. Muito fixe.
Enfim, o livro tem as suas falhas, e a Sofia exaspera-me por vezes com a sua tendência para o drama, mas acho que acabei por me afeiçoar bastante a esta série. Foi uma boa surpresa poder ler e devorar os dois livros; não são o próximo bestseller, mas são adoráveis, fofinhos, são divertidos e proporcionam umas boas horas de leitura. É tudo o que posso pedir.
Páginas: 448
Editora: Topseller
Adaptação: Tiago Marques
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