segunda-feira, 19 de setembro de 2016

The Flame Never Dies, Rachel Vincent


Opinião: É por isto que eu gosto da Rachel Vincent. Ela não vai descobrir a roda como escritora (quem é que o faz, hoje em dia?), mas tem uma certa inteligência e sensibilidade a escrever que faz com que nunca lhe saia um mau livro, na minha opinião.

Este é o segundo livro duma duologia, o que é altamente refrescante. Não tenho de sofrer mais um ano para saber como tudo termina. E diria que a autora fez um excelente trabalho a fechar a história, respondendo a perguntas no ar, resolvendo os conflitos principais, e dando uma espécie de final, de fecho, aos personagens.

O fim ainda assim é bastante aberto, e adorava ver o resultado do que os personagens fazem nele; mas como fim da narrativa dos dois livros, resulta mesmo bem. Tudo o que precisamos saber é que este pessoal vai ficar bem, que a humanidade vai ficar bem, e o fim inclina bastante nessa direcção. Gosto.

Este segundo volume decorre alguns meses após o fim do primeiro; os personagens foram forçados a uma mudança de cenário, e fazem tudo para sobreviver num local inóspito, escapando a patrulhas da Church, e a demónios que lhe possam saltar ao caminho.

Entretanto, a Nina, a protagonista, debate-se com um dilema muito pessoal: a irmã está grávida, com o bebé quase a nascer, e não há alma para ele. O "poço" das almas humanas foi depletado pela voracidade dos demónios, e sem uma alma, o bebé morrerá. Nina quer fazer tudo para impedir isso, ainda que possa implicar um sacrifício da sua parte.

E é por isso que eu gostei tanto da Nina ao longo destes dois livros: é uma miúda inteligente, decidida, corajosa, determinada a proteger os seus. Ela quer proteger a irmã de tudo de mau que possa acontecer, e está determinada a ir às últimas consequências para salvar o sobrinho por nascer. É um pouquinho calculista, com um bom fundo moral. O sacrifício é a primeira coisa na sua mente para resolver a situação.

A Nina apaixona-se ao longo da duologia, mas nunca deixa isso guiar as suas acções. Gosta do rapaz, é mútuo, respeitam-se, e quando há um potencial ponto de drama, as coisas são aceites de forma madura, sem o exagero que outros autores podiam introduzir. A Nina não leva séculos a aperceber-se de certas coisas só porque o enredo o pede (pontos bónus, Rachel), e cria planos bastante interessantes para resolver os dilemas da história, particularmente no fim.

Diria que os únicos sacrifícios da duologia em termos narrativos são o elenco de personagens secundários; não que sejam mal caracterizados, diria que obtemos o suficiente nesse aspecto, mas mesmo assim soube-me a pouco. Gostava mesmo de passar mais tempo com o pessoal do grupo Anathema.

A segunda parte da narrativa introduz coisas novas e excitantes; as reviravoltas não são completamente uma surpresa, mas ainda assim introduzem um novo conflito de forma apropriada; nunca soam a falsas. A reviravolta com a situação da Melanie é de partir o coração; mas gosto que seja resolvida à moda do Eli, um personagem novo: com fé de que tudo resultará pelo melhor. Às vezes, os personagens nos livros merecem um milagre.

Também gostei da introdução de Pandemonia, a cidade de demónios e vícios. Foi bastante divertido conhecer o Kastor e ver os nossos personagens lidar com ele; ainda mais importante foi o tempo em Pandemonia dar uma resposta à natureza do Finn. Isso sim, foi inesperado, mas fez tanto sentido. E a maneira como os personagens geram o caos em Pandemonia? Muito fixe.

Ai, só me custa é mesmo não saber o que resulta do final. Como disse ali em cima, é um nadinha aberto. É um aberto bom, os personagens fazem algo que potencialmente mudará o mundo. Mas como é algo que decorrerá lentamente, não seria possível incluí-lo no livro. E louvo a autora em resistir a escrever um epílogo no futuro, depois disso acontecer, mostrando como a sociedade estará mudada. Mas ao mesmo tempo, estou tão curiosa.

Diria que esta é uma boa aposta para conhecer o estilo da autora. É uma duologia, uma série curta, e as capacidades dela estão em alta, sendo um bom exemplo para descobrir do que ela é capaz: premissas únicas (distopia/pós-apocalíptico com paranormal misturado), um enredo envolvente, que não abranda, personagens cativantes e com uma caracterização boa e inteligente, momentos que dão que pensar, e uma história que não desaponta. Como disse ali em cima, a autora pode não descobrir a roda, mas enche-me bem as medidas.

Páginas: 352

Editora: Delacorte Press

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