Opinião: Que bela surpresa. Digo isto frequentemente, eu sei, mas quando um livro tem uma premissa tão incomum como esta, é difícil saber o que esperar. Suponho que sendo assim qualquer coisa que apresentasse seria uma surpresa?
De qualquer modo, tenho a sensação que quaisquer sinopses ou opiniões que tenha lido não me deram uma ideia clara do livro. Sim, os protagonistas eram um casal de namorados e terminaram no dia anterior a tudo o que conheciam ir para o inferno. Mas isso rapidamente se torna menos importante no meio da luta pela sobrevivência.
O resto da sinopse que vemos no Goodreads (link ali em cima) é mais certeira, mas mesmo assim, não dá nem uma ideia próxima do quão excitante foi estar no meio da acção, com tudo a correr mal e os personagens principais a lugar pela vida, não só sua, mas dos que os rodeiam.
E a piada da coisa? Tecnicamente, na cronologia, há pedaços de tempo longos em que não acontece nada de especial aos personagens. Mas quando a coisa arranca, raios, que só pára no fim. E mesmo assim...
Acho que não estou a ser muito coerente. O que é adequado, a narrativa também não é direitinha, mas uma colagem de informação... e tenho a dizer que adoro a premissa, em ambos os seus aspectos. Gosto do aspecto de ficção científica, corporações gananciosas em guerra, personagens inocentes apanhados no meio, naves espaciais em fuga, inteligências artificiais a perder o rumo, pragas malucas e terror no espaço. Os autores conseguem conjugar uma série de coisas fixes e criar um todo absurdamente fascinante. Não devia funcionar tão bem, mas funciona.
E gostei mesmo de ver a história contada em mensagens instantâneas, relatórios, transcrições de comunicações, e outras formas únicas de descrever o que estava a acontecer na acção. Curiosamente, achei que a caracterização ia pecar um pouco por isto, mas os autores conseguiram dar uma personalidade aos personagens, não só à Kady e ao Ezra, mas também aos secundários (incluindo um muito... especial).
Ao ver como a história está tão bem contada, tão coerente, sendo contada assim em fragmentos, faz-me respeitar este pessoal. Porque só consigo imaginar o quão difícil deve ser saber a história que se quer contar, e decidir que tipo de formato vai ser usado em cada bocadinho, e criar algo que tenha um mínimo sentido a partir de pedaços. O nível de organização para conseguir fazer tudo funcionar? Impressionante. Muito impressionante. Especialmente pela variedade de informação que acaba por ser usada para avançar a narrativa.
Acho que não há muito mais a dizer sem eu spoilar a coisa toda, mas tenho a dizer, foi um livro que se devorou enquanto o diabo esfrega o olho. É claro que o formato único se lê muito mais rapidamente que um livro em prosa "normal". Mas também tem a ver com o quão fascinante se torna seguir a vida da Kady e do Ezra e das naves Hypatia e Alexander enquanto fogem e lutam pela sua vida.
O ritmo da narrativa é extraordinário nesse aspecto. Até me dá pena que o segundo livro da trilogia não siga os mesmo personagens. Mas também estou curiosa. Gemina deverá seguir uma estação espacial, Heimdall, que é importante para os personagens deste livro. E os acontecimentos de ambos deverão ser mais ou menos coincidentes a nível cronológico.
Portanto, parece-me que o que vamos seguir é uma outra faceta da guerra espacial que se está a estabelecer entre duas enormes corporações. E os pobres humanos (e não só, aparentemente) que se vêm no meio desta. Temos alguns fios de enredo a ser explorados no arco de história da trilogia, e um dos personagens do Illuminae está relacionado o mesmo, por isso estou curiosa para ver como isso vai voltar a aparecer.
Uma nota final ainda para como os autores conseguem fazer reflectir nalguns aspectos importantes desta sociedade, em que a tecnologia está tão avançada e o mundo para os seres humanos mudou tanto. Há toda a questão das corporações, e viagens no espaço por wormholes, e experiências científicas que expandem para além do pretendido pelos seus criadores.
Contudo, em muitos aspectos fundamentais a humanidade é a mesma. A luta pela sobrevivência, a capacidade de fazer o bem pelos outros, a coragem nas pequenas e grandes coisas. A ganância, a capacidade de deixar o medo fazer coisas impensáveis. E no meio disto tudo, os autores ainda introduzem uma questão sobre autonomia de inteligências artificiais e o quanto têm uma personalidade, o quão têm um módico de... humanidade. Realmente interessante, ver como isso se desenrola.
Uma outra nota para a edição. Visualmente e graficamente é fantástica, o hardcover é lindo, e adoro como evoca o formato original da narrativa, e como está produzido no interior, sempre uma delícia de acompanhar. A minha única queixa tem a ver com o peso do livro. Esteve uns meses na prateleira, ao alto, e devido ao peso, descaía. E a penúltima página está muito frágil na encadernação. Bastava um puxãozito para aquilo se partir e rasgar.
Sei que será preciso um bom papel para imprimir a tinta num livro que não é só texto, mas também elementos gráficos; contudo, não seria possível fazer algo como no Winter, da Marissa Meyer, que tem mais 200 páginas que o anterior da respectiva série, mas tem a mesma largura, porque foi usado um papel mais fino? Não queria nada que este livro se estragasse só porque está na prateleira, que até é o habitat habitual dele.
Páginas: 608
Editora: Alfred A. Knopf Books (Random House)
Acho a capa dessa livro tão bonita mas fico sempre de pé atrás para comprar porque por mais resenhas que leia, não sei se iria conseguir gostar. Não costumo apreciar quando a narrativa é feita através de e-mails e coisas do género, e temo que este livro acabe por ser um desses casos :/
ResponderEliminarBeijinhos
www.fofocas-literarias.blogspot.pt
Foi alguma má experiência com outro livro neste formato? De qualquer modo, não há nada como experimentar... talvez pegar numa livraria e tentar ler as primeiras páginas, ver se cativa? Eu achei que o livro era particularmente envolvente e caracterizava mesmo bem os personagens, apesar do formato único. ;)
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