domingo, 20 de novembro de 2016

Anexos, Por Um Fio, Rainbow Rowell

Anexos / Por Um Fio, Rainbow Rowell

Título original: Attachments (2011) / Landline (2014)

Páginas: 352 / 320

Editora: Chá das Cinco (Saída de Emergência)

Tradução: Fernanda Semedo

Em ambos os casos foi uma releitura, e por isso não vou repetir o que disse na minha primeira opinião de cada livro (Attachments e Landline, links nos respectivos títulos). Ambas ainda se aplicam inteiramente, por isso vou apenas acrescentar o que a releitura me trouxe.

Sobre o Anexos: divirto-me tremendamente com a premissa. Gosto muito de livros que brincam com a forma de narrar a história, como neste caso usando e-mails, apesar de a base ser a escolha não propriamente ética de um dos personagens continuar a ler os e-mails de outras pessoas, a que tem acesso.

Contudo, lá está, é impossível ficar zangada com o Lincoln. Como disse na minha opinião original, ele é pateticamente adorável. É o ter de estar neste emprego que detesta, o ler os e-mails de outros, o ficar envolvido nos dramas pessoais da Beth e da Jennifer... tudo isso contribui para o fazer sair da casca, perceber o que quer da vida e seguir nessa direcção.

O mais importante no meio disto tudo, e que lembra que ele é um bom tipo que se enterrou numa situação difícil, é que ele nunca tenta beneficiar da informação privilegiada que recebe de ler os e-mails da Beth. Quando ganha juízo, simplesmente afasta-se, compreende que nunca poderá ter o que deseja por ter começado assente numa premissa menos própria, e afasta-se. O coração dele está no local certo.

Tenho pena de nunca termos um POV real da Beth. Os e-mails dela são cândidos, mas nunca contam a história toda. Conseguimos perceber que ela está mais envolvida na história do "tipo giro" (=o Lincoln) do que dá a entender, mas mesmo assim, ah, adorava ler o que ela realmente estava a pensar. E na parte final do livro, ui, aí era excelente ler o que lhe estava a passar pela cabeça.

Chego à conclusão que adoro o final. Lembra-me o final do filme Amélie, uma pessoa passa o raio do filme a torcer para que ela ganhe juízo, e no momento crucial, acobarda-se. E depois *respira fundo* a maior da surpresas acontece (a sério, o realizador deve gostar de brincar com as nossas expectativas), e aquilo é tão intenso e excitante, apesar de ser uma cena muito simples.

O final deste livro lembra-me isso. Uma coincidência misturada com uma surpresa, uma cena final simples e intensa que nos faz torcer por toda a gente envolvida. Aquela vontade de gritar "SIM" em altos berros por finalmente tudo se ter encaminhado na direcção certa. Céus, a Rainbow gosta de brincar com as minhas emoções.

Sobre o Landline: gosto especialmente de a autora conseguir transmitir tão bem uma situação pela qual nem toda a gente terá passado, e com a qual se poderia não identificar. Ela transmite bem a "crise" no casamento da Georgie e do Neal, e este é um excelente livro para mostrar como a Georgie se lembra de porque é que casou com ele, e porque é que ele casou com ela.

Gosto do aspecto "viagem no tempo", porque é bem executado e faz sentido. Reviro os olhos à ineptitude da Georgie em relação a, bem, quase tudo. (A sério, é como um bebé no que toca a life skills.)

Gosto de ver que o livro não aponta dedos entre o casal. Sim, a Georgie é uma despassarada e de certo modo negligenciou em parte a vida familiar, mas vê-se como os adora e morreria sem eles. O Neal é extraordinário em quase todos os aspectos, um pai-dono-de-casa-barra-doméstico, mantendo o barco à tona... mas é muito claro que ele é péssimo a comunicar, e algo passivo-agressivo quando não está contente com algo. O que com a Georgie é impraticável, porque ela nunca repararia.

Ou seja, ambos têm culpas no cartório pela maneira como as coisas estão... de certo modo gostava que o livro passasse por eles falarem sobre estas coisas, estarem cientes que elas não ajudam a manterem-se como casal, e mostrarem-se decididos a melhorar no que puderem. Do lado da Georgie vemos alguma coisa, mas como o POV é todo dela, nunca vemos a perspectiva do Neal, e eu acho que isso era importante, ele ver que tem direito a estar zangado, mas que tem de se manifestar em vez de meter uma rolha, arriscando-se a rebentar mais tarde.

Gosto que nunca seja um problema a Georgie ser a parte trabalhadora do casal, e que ela nunca se sinta culpada por "não ficar em casa"/ser mais doméstica. Por vezes a sociedade ainda vê estas coisas de forma muito tradicional, e é importante ver uma inversão de papéis de forma positiva, como ocorre neste casal. Cada um é perfeito para o papel que ocupa, e não podia ser doutra maneira.

Uma leitura gira, mas que como muitos livros da Rainbow, me sabe a pouco. Fico sempre com vontade de ler mais sobre os personagens que ela escreve.

2 comentários:

  1. F***yeah! tenho andado fora das novidades em português, nem sabia que já havia tradução destes dois, woohoo!! Opá ainda no outro dia tive uma epifania e cismei que já tinha de haver mais um livro novo da RR por aí e eu não sabia de nada porque parece que já não leio nada dela aos anos (o que, pronto, não é bem verdade, o Carry On saiu no ano passado e o Kindred Spirits soube a muito pouco). Depois lá me lembrei que estamos à espera da graphic novel da qual não sabemos nadinha e que está a demorar horrores. Ainda tenho esperança que ela venha a publicar mais qualquer coisa surpresa em 2017, parece-me muito tempo de espera só para uma graphic novel. Tipo a Marissa ainda agora mandou cá para fora o Heartless, e vem já aí a graphic novel e ainda o primeiro livro da nova série.

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    1. Shame on you... xD Mas sim, parece que ela não publica há séculos! :P Também estou com saudades da Rainbow. ^_^ Mas ainda tenho o Carry On para ler, por isso...

      Oh, a Marissa em comparação parece uma máquina. xD Há autoras assim, trabalham duma maneira que é de ficar de boca aberta. Olha a Sarah J. Maas, que por estes dias anda a lançar dois livros de 600-700 páginas por ano? Aquilo é um ritmo de trabalho doido, raios. :O

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