Meg Cabot
Meg Cabot, Jinky Coronado
Páginas: 320 / 128 / 192 / 160
Editora: Harper Teen / HarperTeen + TokyoPop (para o manga)
Avalon High é possivelmente uma das minhas histórias favoritas da Meg Cabot; pelo menos, lembro-a com bastante carinho; e a releitura não me estragou nada das boas memórias. Ainda é um bom livro, um livro divertido, imaginativo e que reconta uma lenda duma forma muito interessante, podemos dizer que até é original, especialmente por ter sido publicado num tempo em que os retellings ainda não estavam na moda.
É a história de Ellie Harrison, uma jovem que está a fazer o 11º ano longe de casa, porque os pais são professores universitários e estão a ter um ano sabático. A Ellie até lida muito bem com a mudança de casa e escola e ambiente, tem uma atitude fantástica nesse aspecto, e gosto disso.
Rapidamente ela conhece alguns dos alunos de Avalon High e se aproxima deles - particularmente Will Wagner, atleta, bom aluno e rapaz com uma excelente personalidade e bom coração, mas também Jennifer, a sua namorada, e Lance, o seu melhor amigo. Eles são parte da elite da escola, os alunos mais populares - mas curiosamente, e talvez por ser um recontar da lenda que é, a popularidade não quer dizer falta de carácter.
Gosto que na escola não haja más atitudes entre populares e não populares, é o tipo de coisa que é tão cliché e que aqui não ajudaria nada à história. A própria Ellie não é o que se chamaria popular, mas facilmente é aceite no círculo do Will. Não há estruturas sociais rígidas, o que é refrescante.
O curioso da história é que a Ellie quase que cai no meio de um drama que está parcialmente já a acontecer; a sua chegada simplesmente precipita alguns dos acontecimentos. Um dos professores, o Mr. Morton, faz parte da Ordem do Urso, que acreditam que o Will é uma de várias reencarnações do rei Arthur que ocorreram ao longo do tempo; e que a escuridão e os poderes do mal envidam esforços para impedir que ele se manifeste, reencarnação após reencarnação.
A Ellie chega quando parte da história já está a ocorrer: a Jennifer e o Lance apaixonaram-se nas costas do Will, quais Guinevere e Lancelot, e é a descoberta dessa traição que o professor Morton acredita que irá destruir o Arthur desta geração. Para além disso, os paralelos com a lenda são mais profundos que toda a gente acreditava, e a descoberta dos mesmos pode complicar a situação.
O que é fascinante é que a Ellie é alguém da lenda, é verdade, mas há uma reviravolta na pessoa da qual ela é um paralelo. Além disso, a sua presença quase que funciona como um tampão, como uma pedrada no charco que leva o Will a compreender certas coisas acerca de si próprio, e a aceitar bem melhor as descobertas que faz ao longo da história. Mesmo que não seja exactamente activa durante a primeira parte da história, é a sua mera presença que muda os acontecimentos; há uma sensação de destino acerca de toda a coisa.
Acho que uma das razões pela qual eu gosto tanto do livro é que a Meg trabalhou tão bem os paralelos com a lenda, a adaptação em si. A atmosfera é perfeita, os conflitos são credíveis, quem é quem da lenda arturiana também, e as pequenas revelações acabam por encaixar tão bem. E depois, como a lenda enquadra os acontecimentos do presente, há uma sensação de inevitabilidade, de que estava tudo predestinado; ao mesmo tempo que as reviravoltas dadas à lenda lhe dão um tom fresco e de alguma imprevisibilidade.
Até o desenvolvimento de relações entre os personagens, que é um pouco rápido, acaba por soar credível à luz de tudo isto. Simplesmente isto é Meg Cabot no seu melhor, não há muita gente que me fizesse ler e acreditar tão facilmente no que estava a escrever e apresentar. O livro em si é envolvente, e ata muito bem as pontas. Termina com um final relativamente fechado, mas com uma porta aberta para poder desenvolver mais um pouco deste mundo.
O que explica a existência da banda desenhada. Os três volumes de manga. Mais ou menos. Não explica porque é que se lembraram de fazer um manga (podia simplesmente ser uma sequela em prosa), ou sequer como acharam que isto era uma boa ideia de trazer ao mundo.
O problema da sequela em banda desenhada? A história não é muito boa. Não sei se o problema é da Meg, que se calhar nunca tinha escrito um argumento para BD e claro que isso não ia correr bem; ou se simplesmente entregaram a escrita a um ghost writer ou à desenhadora, e simplesmente meteram o nome da Meg na capa para chamar a atenção... mas a história é uma confusão pegada, tão fraquinha que até dói.
Primeiro, o primeiro volume passa um bocado significativo a recontar a história para trás. E os volumes dois e três fazem o mesmo no início. Se cortássemos essas partes, podíamos fazer um único volume, ligeiramente mais longo e mais sólido, com toda a história.
Depois, mesmo dentro da premissa "rei Arthur reencarnado"... o conflito do enredo destes livros é ridículo. Não faz sentido algum. Limita-se simplesmente a percorrer novamente um problema que já tinha sido resolvido no livro anterior (o Will ser reconhecido como o rei), e a meter-lhe uma urgência, devido a uma suposta profecia, que não encaixa. Cai muito mal na narrativa, e quebra o sentido de encantamento que o livro por ter feito um recontar da lenda tão bom.
E por fim... oh, céus. Envolver o conflito principal em drama adolescente e mesquinhez de escola secundária? Ugh. Soa tão básico, tão pateta. O que tinha resultado no livro era mesmo que não havia dramas típicos de escola secundária. Que os conflitos eram realistas, e ancorados na vida dos protagonistas, na família deles, nos segredos escondidos. Soava tudo muito mais universal. Menos infantil.
Em adição, a maneira como o enredo avança é tão forçada e cliché. A Ellie ganhar a coroa de rainha de Homecoming? Yep. A ameaça sem fundamento da Morgan "revelar" (isto é, mentir) que a Ellie anda enrolada com o Marco se não desistir de se candidatar a rainha? Também. O Marco a tentar estragar o baile? A sério, não há coisas mais importantes na vida? A parte final, em que o Will finalmente "acredita"? Matem-me. Matem-me já para eu não ter de ler mais parvoíces.
O único pedaço de enredo que tem algum interesse é o conflito do Will com o pai, que realmente no livro anterior não fica resolvido, mas aqui é encerrado da maneira mais cliché possível. (O pai vai ver um jogo de futebol americano do Will e fica impressionado com ele e com quão bom líder é, e fica orgulhoso do filho.) O que até podia resultar, mas numa narrativa que já é o mais banal possível, ainda soa mais rotineira.
Quanto à arte... bem, tem coisas giras. Gosto de como apresenta certas cenas, é uma artista competente o suficiente, e gosto principalmente de como desenha as coisas do período "arturiano", quando os personagens são desenhados nas suas outras encarnações. Mas faz-me um pouco de espécie vê-la desenhar os personagens duma forma não exactamente adequada à sua idade. A Ellie parece demasiado adulta para a idade que tem, já a mãe do Will parece uma miúda.
Enfim... acho que tinha passado bem sem esta sequela. Pelo menos nestes moldes. Até gosto da ideia duma sequela para estes personagens a quem me tinha afeiçoado. Mas vou fingir que esta não existe.
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