Opinião: Este é um livro simples, enganadoramente simples. Lex é a protagonista, e ela e os que a rodeiam estão a tentar lidar com o suicídio do seu irmão mais novo, algumas semanas antes. No entanto, é incrivelmente difícil explicar o modo brilhante como a Cynthia Hand desenvolve a narrativa e apresenta os personagens e os pequenos momentos que os moldam.
Como disse, a premissa do livro passa por explorar os estilhaços deixados pela morte de Tyler, o irmãozinho mais novo de Lex. Ela limita-se a avançar pelos dias, afasta-se dos amigos e do namorado. Pensa que começou a ver o fantasma do irmão. A mãe afundou no desespero e bebe em excesso ao fim do dia.
Um dia, o terapeuta da Lex desafia-a a escrever uma espécie de diário, já que outras abordagens não resultaram com ela. E é o decorrer do tempo, juntamente com a escrita do diário, que vão levar a Lex a trabalhar o luto, enfrentar os seus muito complicados sentimentos acerca do assunto, tingidos com uma massiva dose de culpa.
Porque é isso. Este livro não oferece todas as respostas. Não tem um fim que embrulha tudo muito bem feitinho e deixa toda a gente num caminho mais feliz. Apenas limita-se a mostrar como um acontecimento trágico deixa marcas em todos em redor, e como essas pessoas tentam lidar com a tragédia e com a rotina entorpecedora de ter de avançar no dia-a-dia.
Talvez seja porque a Cynthia escreve de um lugar de experiência própria (o seu próprio irmão suicidou-se quando eram jovens, apesar de este não ser um livro autobiográfico, nas palavras da autora), mas achei a história muito imersiva, realista, credível. Não vamos descobrir aqui o sentido da vida; é "só" uma história sobre uma rapariga (e aqueles que a rodeiam) a tentar fazer sentido de algo que é impossível explicar.
Adorei a Lex com o seu pensamento inteiramente analítico, que para ela também é uma desculpa para não ter de sentir. Gostei de ver como ela tenta fazer sentido das acções do Ty, tenta perceber, mas compreende que só para a pessoa que o faz, as suas razões farão sentido. Gosto de vê-la compreender que não há explicação para tudo, nem precisa de haver.
Achei interessante vê-la debater-se com a culpa que sente por não ter falado com o irmão quando ele a tentou contactar, pensado que era sua culpa por não o afastar do precipício. Apreciei vê-la debater-se com o conceito de um último adeus, de as últimas palavras que disse ao mano serem ou não carinhosas, porque para ela isso era importante. Gostei de a ver encontrar paz quanto a isso.
Gostei ainda do elenco de personagens secundários. Os amigos da Lex, a tentar confortá-la sem saber realmente o que é estar nessa situação. O (ex-)namorado, o Steven, completamente totó e adorável como a Lex, com quem ela termina no meio do luto, culpando-o e a si própria por coisas em que eles não tinham mão. A Sadie, uma amizade reencontrada e refeita devido a voltarem a ter coisas em comum. A mãe da Lex, perdida no desespero e tristeza, quase desleixando a filha que ainda tem. (Gostei de a ver fazer um esforço, depois da Lex lhe gritar sobre o seu comportamento.)
O pai, menos presente devido a um divórcio que ainda deixa a Lex enraivecida. Gostei de a ver trabalhar na relação com o pai depois disso, e depois do papel que ela lhe atribui na espiral descendente em que a família entrou. E de vislumbrar o luto do pai, ao qual ele também tem direito. O terapeuta da Lex, sempre a tentar puxar por ela sem ser excessivo. E ainda toda esta comunidade de pessoas que foi afectada por um acto tão trágico. Especialmente os jovens, especialmente os amigos do Ty. (Menção especial para o Damian, coisinha preciosa, tão discreto e cheio de vida.)
Este não é um livro extraordinário, que vá mudar o mundo ou inventar a toda. Mas é um livro especial por si mesmo, por recortar um bocadinho da realidade e imortalizá-la nas suas páginas. Há algo na escrita da Cynthia que é honesto e emocional, com um toque de familiaridade e boa disposição, que permite que esta não seja uma leitura pesada; mas ainda assim, emocional e que deixe uma marca. Estou contente por ter apostado nele.
P.S.: É definitivamente picuinhas entrar nisto depois dum livro assim, mas pronto... gostei da capa, na sua maioria. E do design. Honra a capa original e usa a ideia de escrita e de post-its. No entanto, não sou fã da maneira como o nome da autora está enquadrado. Parece tão... antiquado. Já não se faz assim em capas, e não é particularmente interessante como opção gráfica.
Título original: The Last Time We Say Goodbye (2015)
Páginas: 304
Editora: Topseller
Tradução: Cláudia Ramos
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