Sandman v.1: Prelúdios e Nocturnos, Neil Gaiman, Sam Kieth, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III
Sandman v.2: Casa de Bonecas, Neil Gaiman, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Chris Bachalo, Michael Zulli, Steve Parkhouse
Sandman v.3: Terra do Sonho, Neil Gaiman, Kelley Jones, Charles Vess, Colleen Doran, Malcolm Jones III
Sandman v.4: Estação das Brumas, Neil Gaiman, Kelley Jones, Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Matt Wagner, Dick Giordano, George Pratt, P. Craig Russell
... pois. Acho que basta ler um par de volumes para perceber porque é que toda a gente é louca por isto. Não diria que basta o primeiro volume, Prelúdios e Nocturnos, porque sei que li o seu conteúdo no passado, e apesar de ser interessante não é memorável por si só.
Não, o que é memorável é continuar a ler e ver o tapete de histórias que está a ser tecido ao longo dos livros. A aparente simplicidade e genialidade da série está em pegar numa miscelânea variada e abundante de lendas e mitos do imaginário popular, jogá-las todas para dentro do mesmo saco, abanar, e sair de lá uma coisa brutalmente coerente e cheia de ligações estranhas e obscuras...
...e que fazem estranhamente sentido. E nem sequer vou fingir que apanhei todas as referências. Quero dizer, considero-me uma pessoa com uma boa cultura geral, mas estes livros estão tão recheados de coisas que não me parece que seja possível. Sobreviverei. Passei a leitura tão fascinada que não posso ficar aborrecida por isso. É simplesmente uma boa desculpa para uma futura releitura.
O primeiro volume, Prelúdios e Nocturnos, conta a história de um ser, Sonho dos Eternos, que é aprisionado durante anos e anos. Mostra-nos as consequências da sua prisão (e aqui começa a genialidade, porque esta aparentemente simples história coloca uma série de elementos que o autor aproveita para expandir mais à frente), como é libertado, a sua "vingança", e como tenta recuperar os seus artefactos de poder.
Algumas das histórias aproveitam para entrelaçar pedacinhos do universo DC entre elas; e o caminho que Morpheus percorre é longo e complexo. As minhas histórias favoritas deste volume incluem a em que Morpheus desce aos infernos para recuperar o seu elmo, e a batalha que trava para esse efeito; a história "24 horas", pelo conceito e pela degeneração entre um grupo de pessoas (assustadora); e a última história, em que o Morpheus está com pena de si próprio e a sua irmãzinha, a Morte, vem dar-lhe nas orelhas para parar de ser parvo (é interessante por mostrar as possibilidades da Morte e as suas várias facetas).
Segundo volume, Casa de Bonecas: é maioritariamente a história de Rose Walker, uma jovem relacionada com uma situação que ocorre devido à prisão do Sonho, e a sua procura pelas suas raízes e pelo seu irmãozinho raptado. Achei que a história tinha algum sentido de humor - afinal, há uma "conferência cereal", que mais não que é uma reunião de... serial killers. Explora algumas potencialidades fascinantes do mundo do Sonho.
O volume tem duas histórias intercaladas. A primeira é sobre uma mulher que amou o Sonho. (E quão bem isso correu. O Morpheus parece um idiota nesta lenda, pelo menos como é contada. Mas é bastante inteligente o modo como é enquadrada.) [Isto vai voltar no quarto volume. É fabuloso pensar nestas ligações todas.] A segunda história é sobre um homem a quem é concedido viver enquanto não desejar morrer, e os seus sucessivos encontros com o Sonho ao longo dos séculos. Muito giro ver como às vezes ele estava em alta, outras em baixa. Destacam-se as aparições de William Shakespeare e de uma antepassada do Constantine. E é engraçado ver o último reencontro deles, pelo que havia acontecido no anterior.
Terra do Sonho, o terceiro volume, reúne quatro histórias soltas com aparições do Sonho (na última, da Morte), explorando o mundo fantástico criado na série. Creio que gostei mais das duas primeiras que das últimas duas. A primeira, Calíope, é sobre uma das musas, aprisionada por homens egoístas e brutais (a sério, que vontade de lhes apertar o pescocinho) para aproveitarem a sua capacidade inspiradora. A segunda, Um Sonho de Mil Gatos, é tão gira pela presença dos nobres felinos, pela sua ligação ao mundo do Sonho, e pela compreensão da natureza felina.
A terceira história, Sonho de Uma Noite de Verão, é sobre William Shakespeare (que já tínhamos visto no volume 2) e a sua trupe de actores, que representa a peça homónima para uma audiência... especial. (As fadas mencionadas na peça.) Acho que apreciaria mais se estivesse familiarizada com a peça. Afinal, isto fez a proeza de ganhar um World Fantasy Award. A última história, Fachada, tem elementos interessantes, mas acho que apreciaria mais se estivesse mais familiarizada com a personagem principal.
O último volume, Estação das Brumas, tem uma premissa brutal: o Sonho percebe que foi um idiota com a Nada, a mulher que amou e que apareceu no segundo volume; e deseja retornar ao Inferno para tentar ajudá-la. De caminho, Lúcifer, para se vingar da fuga do Morpheus no primeiro volume, cria um plano inusitado: esvazia o Inferno e oferece as chaves ao Morpheus. (A vingança serve-se fria.)
É claro que algum caos e hilaridade se seguem. Uma série de deuses, panteões e seres míticos interessam-se pela posse do Inferno, e oferecem e ameaçam o Sonho para lhes dar o dito cujo. É muito engraçado seguir a estrutura da história ao longo de todos oferecerem a sua dádiva. (Ou fazerem a sua ameaça.) Gosto da resolução dada, faz sentido, vai para quem menos irá desviar o curso das coisas. E no início do volume temos uma reunião entre os vários Eternos (menos um), que foi cativante de acompanhar para os conhecer melhor.
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