Opinião: Depois do fim inesperado e surpreendente de As Mulheres de Summerset Abbey, Paixão Proibida em Summerset Abbey continua a história de três jovens mulheres na época que antecede a Primeira Guerra Mundial, a época edwardiana.
Estes livros deixam-me uma sensação curiosa. Não os acho nada de especial, a escrita da autora não é deslumbrante, o desenvolvimento da história não é excitante, e há por vezes demasiadas coisas nos personagens que me deixam frustrada... mas tenho gostado de os ler. Aprecio o modo como a autora tem mostrado vários aspectos da vida de uma mulher nesta época, pois tem-no feito de modo cativante e credível. E as três protagonistas dão comigo em doida com algumas das suas atitudes, é certo, mas tenho denotado uma evolução nestas jovens e tenho gostado de a ver.
Rowena começou o primeiro livro mostrando-se frágil e fazendo uma asneira quase imperdoável, mas acabei por me compadecer dela e gostar desta rapariga triste e em luto pela perda de uma parte da sua vida. Neste segundo livro, o seu romance com Jon, o piloto de aviões conhece alguns desenvolvimentos, e devo dizer que não previa o modo como as coisas se encaminharam, mas acabam por fazer sentido. E sobretudo, gostava de ver onde o engano perpetuado por ela e pelo Sebastian vai parar. Outra coisa que gostei é o crescente interesse dela pela aviação. A Primeira Guerra está a chegar, calculo que apareça no terceiro livro, e fico animadíssima só de pensar que ela pode vir a ter um papel nela.
A Victoria, já o disse na outra opinião, parece ser a personagem mais fácil de gostar, pelo seu idealismo. Mas detesto com todas as minhas forças a sua ingenuidade extrema, que roça mesmo a estupidez. É que ela comete aqui uma série de erros que me deram vontade de bradar aos céus... *suspiro* Enfim, ainda assim posso destacar da sua história alguns aspectos que apreciei ver abordados, como a sua tentativa de ser publicada numa revista científica, e a questão das sufragistas. Estas acabam por não ter um papel muito abonatório na história, mas como em tudo, há pessoas boas e há pessoas más. Aqui a autora aproveita para mostrar alguns erros que as sufragistas cometeram na sua luta por um objectivo admirável. E enfim, a Vic acaba por passar por uma experiência difícil, mas que espero que a ajude a crescer e a ter dois dedos de testa no futuro.
A Prudence é a personagem com a história de vida mais interessante, mas aborreceu-me ocasionalmente com tanto queixume sobre aquilo que deixou para trás e sobre a escolha que tomou. Minha querida, já ouviste falar daquele ditado sobre deitarmo-nos na cama que fizemos? (Aqui, com aplicação muito literal.) Ainda acho que foi uma escolha precipitada, mas adorei ver as suas consequências. O Andrew é um doce de pessoa e é divertido ver as peripécias por que a Prudence passa para aprender a ser uma dona de casa. E gosto de ver a sua relação, que não começou exactamente por amor (pelo lado da Pru, pelo menos), mas tem evoluído duma forma carinhosa e adorável.
Em termos de personagens secundários, desta vez gostaria de falar um pouco dos rapazes da narrativa. Primeiro, o Jon, do qual eu até gostava bastante, mas que nunca propôs à Rowena algo sério, e que no fim acaba por ter uma reacção ridícula e execrável. Tenho pena, mas prefiro que a sua intervenção na história termine por aqui. Já o Sebastian tem-se mostrado uma surpresa agradável. A suspirar de desgosto graças a um coração partido, tem-se mostrado um apoio e um bom amigo para a Rowena. Acaba por representar a questão de um primeiro amor frustrado, e quem sabe uma segunda tentativa não dará melhores frutos.
O Andrew, já disse, é um jovem adorável, adora a Pru, determinado em melhorar as suas condições e em estudar para se tornar veterinário. Gosto muito de o ver com a Prudence, e agora acho que teria um desgosto se a autora se lembrar de o enviar para a guerra e ele morrer lá. Para mim representa a possibilidade de um segundo amor para a Prudence, se apenas ela se abrir à possibilidade. Já o Kit é tão sarcástico e descomplicado, e por isso adorei vê-lo como uma abelhinha à volta da Victoria, completamente caidinho. É um bom amigo para ela, mas gostava de os ver juntos. Acho que uma parte importante da questão da independência da Victoria como mulher é o poder escolher, mas também o aperceber-se que às vezes pode escolher duas coisas e fazê-las funcionar em conjunto. Não vejo porque é que o casamento a haveria de impedir de fazer as coisas que sonha fazer.
Sobre a família em Summerset, ainda detesto a tia Charlotte, mulher manipuladora e mesquinha. Já o tio Conrad mostrou ali no fim um bocadinho de personalidade, gostava de ver mais no próximo livro. A Elaine não sei o que está ali a fazer, coitada, parece uma bengala para as outras personagens usarem, sem ter consequência no enredo ou história própria. Adorava ler mais sobre a Katie, por exemplo, a jovem secretária que foi criada dos Buxton, ou sobre a Eleanor, a enfermeira compassiva.
Sobre as sufragistas, bah, não gostei das personagens que nos foram apresentadas, por razões óbvias. Logo no início desconfiei do modo como estavam a tratar a Victoria, e acho que foi extremamente estúpido o que lhe fizeram. Queimaram ali uma oportunidade de obter apoio para a causa e no fim não conseguiram nada com o que aconteceu à Vic, por isso acho ridícula esta parte do enredo.
Como referi ali em cima, o livro em si não é nada de extraordinário, mas a autora consegue dar-lhe alguns pontos que o redimem e lhe conferem interesse. O retrato da época, que é bastante abrangente e mostra muitos detalhes diferentes sobre classe, a posição da mulher na sociedade, e a vida encantada antes da Primeira Guerra. O enredo, que por vezes me frustra, mas nunca aborrece, com as suas reviravoltas - e melhor, está a ir por direcções inesperadas que contudo me deixam muito animada por ler o terceiro e último livro. Espero que não demore.
Páginas: 296
Editora: Noites Brancas (Clube do Autor)
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