Opinião: Tenho gostado bastante do trabalho da Cassandra Clare até agora, e delicia-me que ela se tenha dedicado a explorar o mesmo mundo (o dos Caçadores de Sombras) ao longo de várias séries, mas também fiquei satisfeita com a notícia de ela ir escrever uma série diferente, pois estava curiosa para ver como se dava.
Sinto que devia começar por abordar a questão das comparações com Harry Potter, e tirar logo isso do caminho. Bem, são duas séries/livros sobre escolas mágicas, e o que não falta por aí são livros sobre escolas mágicas, mas suponho que compará-las é como comparar uma alface e uma couve. Sim, se franzirmos os olhos até se encontram semelhanças, mas ambas são usadas de modo distinto e o sabor é completamente diferente, por isso...
Quero com isto dizer que as autoras de ambas as séries são escritoras bem diferentes, com preocupações e estilos distintos, e que usando o mesmo tema as abordagens serão necessariamente diferentes. Suponho que se partisse para a leitura com a ideia fixa de implicar e de encontrar pontos de comparação, era tudo o que teria feito; contudo, prefiro focar-me nas diferenças, no que torna esta história única, porque é aí que Cassandra Clare e Holly Black se destacam.
Achei que as autoras pegam nos clichés, no que é esperado neste tipo de história, e dão-lhe uns beliscões, umas torcidelazinhas, e o resultado final acaba por ser agradável precisamente por fugir ao esperado. Callum, o protagonista e narrador, está longe de ser o herói típico, sendo mal-humorado e desconfiado e lidando mal com a sua incapacidade.
Aaron podia ser o sidekick, mas acaba por ser o menino bonito, o potencial Escolhido. Tamara é a que conhece o mundo dos magos e é pressionada para ser a melhor pelos pais, mas debate-se com isso, preferindo ser uma pessoa melhor que o legado familiar. Jasper, o bully de serviço, acaba por ser menos eficaz do que se esperava.
Também aprecio ver aqui aplicada uma coisa que a Cassandra tem tentado fazer cada vez mais nos seus livros, e que é um esforço concertado para introduzir diversidade, uma variedade de experiências humanas que tornam a história mais rica. Torna-se refrescante perceber que os personagens não são, por defeito, todos caucasianos, e a questão da deficiência física do Callum é bastante interessante, porque mostra um miúdo a debater-se com a incapacidade que tem, a ficar frustrado com isso, e a não saber lidar muito bem com o assunto, como um pré-adolescente faria.
A história não é muito forte em termos de enredo, aliás, diria que não tem propriamente um enredo principal, um fio que ligue as partes que compõem a história. O livro é claramente introdutório ao mundo, mas foi isso que apreciei nele, pois aquilo que vi deixou-me bastante intrigada e com vontade de saber mais. Pelo menos, tem potencial para ser uma coisa bastante boa.
Em termos de worldbuilding até achei piada à escola e ao modo como funcionava, mas o que me interessou mais foi o sistema de magia, baseado nos elementos - aquilo que vi deixou-me fascinada, e quero muito descobrir mais. O modo como a magia tem um peso, como o esforço mental condiciona a manifestação física, e até a maneira como a magia funciona e que levou à criação e evolução do vilão... promete.
O elenco de personagens secundários encerra algumas personalidades interessantes... o mestre Rufus, por exemplo, principalmente porque é alguém difícil de ler e gostava de saber quanto é que ele sabe realmente sobre certos assuntos. Ou o pai de Callum, que sabe muito mais do que diz, e é até perturbador pensar no tratamento que deu ao miúdo ao longo deste tempo todo, mentindo-lhe e escondendo-lhe coisas, e grande responsável pelo estado físico em que o rapaz está. Ou a figura do vilão que aparece no fim e cuja relação com Callum me deixa extremamente curiosa.
Quanto ao final, passei o tempo todo a tentar adivinhar a reviravolta, e sabia que vinha aí uma, mas não posso dizer que tenha adivinhado a situação em questão. Contudo, quanto mais penso nela, mas lhe acho piada, mas intrigante se torna, porque pode vir a ser uma fonte de um desenvolvimento extraordinário de personagem para o Callum. Só de pensar nas potencialidades até fico animada, mas também curiosa em como as autoras vão desenvolver a história a partir daqui.
Em suma, uma história bem gira, muito introdutória, mas que me fez passar um bom bocado e conseguir captar a minha atenção e cativar-me o suficiente para me manter investida na história e me dar vontade de continuar a ler a série. É um pouco mais juvenil do que estou habituada a ler (é middle grade, aponta para as idades 8 a 12 anos, mais ou menos), mas isso não foi entrave à leitura. Não conhecia propriamente a escrita da Holly Black (só li um conto dela), mas estou com vontade de lhe dar uma oportunidade no futuro.
Título original: The Iron Trial (2014)
Páginas: 320
Editora: Planeta
Tradução: Catarina F. Almeida
É um livro que estou com imensa curiosidade.. quer por ter sido escrito a duas mãos, quer pela história em si e, também pelas diversas comparações com o Harry Potter.. Gostei da tua opinião..
ResponderEliminarBeijinhos*
Obrigada! Vale mesmo a pena ler, nem que seja para tirar as teimas, que começo a achar esta coisa das comparações com o HP é mais para bater no ceguinho, er, na Cassandra, do que outra coisa. xD
EliminarSe não soubesse, não notava que tinha sido escrito por duas pessoas, mas também não conheço bem a escrita da Holly Black, talvez isso ajude. ;)
De resto, é uma história fofinha, leve, e com bastante potencial para crescer. ^_^
Beijinhos e boas leituras